Curtas

Suíte 1817

Revolução Pernambucana em música

TEXTO Erika Muniz

01 de Agosto de 2018

O violinista Múcio Callou, autor da suíte

O violinista Múcio Callou, autor da suíte

Foto Divulgação

[conteúdo na íntegra (degustação) | edição 212 | agosto de 2018]

No romance A noiva da revolução (2007), de Paulo Santos de Oliveira, a história de amor do líder Domingos José Martins e Maria Teodora da Costa serve de fio condutor da narrativa que transita entre a história oficial e a ficção. A partir desses bastidores, o autor sintetiza acontecimentos marcantes que desencadearam a Revolução Pernambucana. Este livro, além de outros documentos, foi um dos nortes da minuciosa pesquisa que o violonista Múcio Callou (foto) utilizou para escrever as oito partes da peça Suíte 1817.

Desse aprofundamento no movimento libertário e de uma busca por desenvolver uma leitura contemporânea da temática, vieram as composições da obra musical, que tem como um de seus objetivos sensibilizar ouvintes e despertar o interesse sobre esse acontecimento da história nacional. Em 2017, com a chegada do bicentenário do movimento insurgente, o Museu da Cidade do Recife, no Forte das Cinco Pontas, organizou a exposição A Revolução Republicana de 1817, com a curadoria de Betânia Corrêa de Araújo. Múcio recebeu o convite para compor, entre 2016 e 2017, a peça que seria executada na abertura da mostra e posteriormente organizada em CD.

A execução ficou a cargo do Opus Aram Quarteto, composto por Múcio (violão) e pelos musicistas Rogerio Acioli (flauta), Leonardo Guedes (violoncelo) e Fernando Rangel (contrabaixo). Nas duas faixas que aludem às sonoridades de matrizes afro-brasileiras – Jongo e Maracatus –, o percussionista Ricardo Fraga completa o time.

Segundo Múcio, a escolha por uma suíte – ou seja, peça musical distinta e interligada, orientada por uma temática, instrumentação e estilo mais homogêneos –, se deu pela liberdade que o gênero oferece ao artista. Aliás, esta não é a primeira vez que ele mergulha no gênero, tampouco em temas históricos como mote de sua criação. Antes de Suíte 1817, já havia escrito Suíte do Capibaribe, na qual traz uma perspectiva urbana do rio que corta o Recife, e Suíte Tributo a Josué de Castro, a partir de um convite do Centro Josué de Castro para as comemorações do cinquentenário do livro Geografia da fome. A estreia da peça, em meados de 1995, aconteceu no Teatro do Parque, no lançamento do filme de Silvio Tendler Josué de Castro cidadão do mundo. As três obras formam um conjunto intitulado Suítes Pernambucanas.

De sua terra natal, Pesqueira (PE), no Agreste, Múcio confessa trazer muito de suas vivências e sonoridades para o processo criativo, pois foi onde teve seus primeiros contatos com o violão e só posteriormente, no Recife, “formalizou os estudos musicais”. A coleção de discos de sua avó materna, que “tirava o dia ouvindo músicas”, os shows de Luiz Gonzaga e seu trio nos festejos juninos, a tradição do violão e as serenatas nos arredores da cidade servem de referências indiretas. “Desde criança, a música sempre foi muito forte na minha vida. É interessante como a gente vai se deparando com a música. Quando mostrei Jongo (quarta faixa da Suíte 1817) ao meu irmão, ele disse ‘Eita, lembra Zabumba de Norato!’. Esse era um grupo de pífanos que fazia cortejos na nossa infância”, explica o músico.

O disco está encartado nesta edição da Continente e será lançado no dia 19, às 10h, na Academia Pernambucana de Letras.

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EXTRA:
Confira na íntegra a HQ 1817 – Amor e revolução, de Paulo Santos e Pedro Zenival, que publicamos na edição #195, de março de 2017.
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