Edição #235

Julho 20

Nesta edição

Andando pelo mundo

Logo nos primeiros parágrafos do seu texto, o jornalista Marcelo Abreu escreve: “Na baixa Idade Média, Santo Agostinho (354-430) já divulgava a sua fórmula solvitur ambulando, isto é, ‘resolve-se caminhando’. O conceito de deambulação é tão antigo quanto a presença do ser humano no planeta. Ao longo dos séculos, ele foi assumindo dimensões novas, impulsionado por mudanças sociais, regimes econômicos e crises de toda ordem. Mas, na sua dimensão mais básica, persistiu a vontade de sair do lugar, descobrir novos horizontes, romper com as amarras sociais, sobreviver buscando novas paisagens”. Essa se constitui uma boa síntese do artigo que trazemos nas páginas a seguir.

Nossa primeira motivação ao propor esse tema a Abreu, bem antes da chegada da pandemia, foi a excelente reflexão sobre o tema feita por Michel Maffesoli, em Sobre o nomadismo – Vagabundagens pós-modernas (2001, Record). Nele, o pensador francês observa o fenômeno, entre outros aspectos, como uma insurgência ao sistema capitalista e à opressão do Estado e suas regulações, que empurram o indivíduo ao mundo do trabalho – oferecendo muito pouca contrapartida de ócio –, ao controle e à vigilância. Ao lado disso, há a ideia de que “é preciso levar a sério a intensificação da pulsão de errância que, em todos os domínios, numa espécie de materialismo místico, lembra a impermanência de qualquer coisa” (p.17).

A partir desse impulso, o articulista investe nas várias formas de nomadismo ao longo da nossa história, sobretudo a partir de meados do século passado; visitando e citando autores e filósofos que se ocuparam do assunto; lembrando escritores que se dedicaram ao relato de viagens; fazendo a distinção entre essa atitude voluntária e situações de exílio forçado; trazendo o fenômeno dos “trecheiros”, “que circulam pelas rodovias a pé, de cidade em cidade, sobrevivendo de trabalhos temporários e de eventuais ajudas filantrópicas; e os ‘andarilhos de estrada’, população composta pelos que vivem perambulando exclusivamente pelos acostamentos das estradas, sem destino”. O artigo traz, enfim, um apanhado sobre a experiência de andar pelo mundo, que significa, em todos os termos, mover-se do lugar em que se está, sob diversas motivações e com respostas inesperadas.

Ilustração de capa: Hallina Beltrão

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