A jurema é a árvore sagrada
Viradouro mostra as surpresas que prepara para defender o enredo sobre Malunguinho, o bravo líder quilombola pernambucano que se tornou entidade guardiã da religião afro-indígena
TEXTO Mariana Filgueiras
16 de Dezembro de 2024
Croquis de algumas das fantasias do desfile da Viradouro
Foto Dani Dacorso
Entre os fundamentos da jurema, um dos primeiros é também um dos mais bonitos. No ritual de iniciação da religião afro-indígena, as pessoas têm incrustadas na própria pele uma semente da jurema, considerada a árvore sagrada da religião. Assim, quando se tornam anciãs, e morrem, são enterradas no território onde a comunidade pratica seus rituais e os corpos se transformam em novas árvores, criando uma floresta de ancestrais ao redor do povo juremeiro.
A imagem poderosa de proteção aguça a imaginação de Tarcísio Zanon, o carnavalesco da agremiação Unidos do Viradouro, escola de samba do Grupo Especial do Carnaval do Rio de Janeiro, que terá como enredo de 2025 uma história bastante pernambucana: a trajetória de João Batista, o Malunguinho, líder do Quilombo de Catucá, na mata norte de Pernambuco, que sobreviveu a inúmeras emboscadas, liderando motins até libertar toda sua gente. Pelo feito, guiado por encantados da nação xangô, Malunguinho depois tornou-se uma entidade guardiã da cultura da jurema, que também é reverenciado em terreiros de catimbó e umbanda.
“Estamos falando de uma figura política, um líder quilombola, que lutou e ainda luta pelos oprimidos. Ele fez tudo o que fez e continua fazendo, se pensarmos nele como uma entidade, como um encantado que protege as florestas, os povos originários, a comunidade descendente de escravizados. A partir desse imaginário de proteção, cápsula e semente dos rituais de iniciação, por exemplo, estou propondo o que chamei de ‘estética do encapsulamento’”, conta Zanon, explicando que vai encapsular algumas fantasias que desabrocharão no desfile, uma das novidades que vai levar para a Marquês de Sapucaí.
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