Quando resolvi sair de casa, abandonando de vez a Faculdade de Direito do Recife, em 1952, a convite de Raimundo Oliveira, de Feira de Santana, Bahia, ele estava pintando um Cristo na cruz absolutamente original, pregado de barriga, a gente vendo as costas e as nádegas, bem diferente da pintura primitivista que adotou depois e pela qual ficou conhecido. Ele nos deixou cedo, tendo-se suicidado em Salvador, depois de eu ter saído dessa cidade, para onde ele me levou e apresentou a Mário Cravo, Carybé e o sergipano Jenner Augusto. A paixão de Raimundo Oliveira era Rubens, de quem copiou, em tamanho grande, perto do tamanho original 222x209cm, O Rapto das Filhas de Leucipo. Como morava sozinho em Salvador, seu corpo foi encontrado dias depois muito inchado. Mário Cravo pensou em fazer um ataúde oval de fibra de vidro, já que não cabia no caixão normal, mas a família não permitiu.
Ah, os belos nus reclinados: Vênus e Vulcano de Tintoretto, Júpiter e Antíope de Correggio, se eu tivesse um avião ia vê-los todos pessoalmente!
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