“O jornalismo da grande mídia perdeu o caráter”
Um dos ícones do jornalismo brasileiro, Luis Nassif, do canal e site GGN, analisa a crise do jornalismo sob vários aspectos
TEXTO Débora Nascimento
28 de Abril de 2023
Luis Nassif em audiência pública no Senado, em 2016
Foto Marcos Oliveira/Agência Senado
[conteúdo extra à reportagem da ed. 268 | abril 2023]
A cobertura política e econômica feita pelo veterano Luis Nassif em seu GGN, site e canal no YouTube, pode servir de referência para percebermos como o jornalismo da mídia hegemônica está distante de uma visão realmente crítica e incisiva sobre os fatos ocorridos no Brasil e no mundo. Com passagens por diversos veículos, como a Veja, Folha de S. Paulo e TV Cultura, o jornalista mineiro, radicado em São Paulo, promove no ambiente de seu veículo alternativo uma importante contribuição ao debate público, utilizando com competência o direito à liberdade de imprensa.
Somando cinco décadas de atuação na área, Nassif atravessou e foi atravessado por várias transformações e mudanças de rumo do jornalismo. Nesta entrevista por telefone à Continente, ele estava a poucas horas de mais uma live noturna no seu canal, onde traz informações, opiniões e entrevistas com especialistas de diversas áreas. Mas, antes disso, conversou com a revista, trazendo seu olhar sobre a crise do jornalismo, tema de nossa reportagem de capa da edição de abril.
Nassif teceu observações relevantes sobre variados temas: o problema nas coberturas política e econômica na grande mídia, a credibilidade dos repórteres em meio à campanha de difamação promovida pela extrema direita, a perseguição judicial aos profissionais da imprensa e, claro, o impacto das redes sociais no jornalismo.
CONTINENTE Quais são as raízes da crise do jornalismo contemporâneo brasileiro?
LUIS NASSIF O início é a própria crise do modelo de mídia e a crise dos grupos de mídia nacionais a partir de 1999. A década de 1990 foi o período de maior pujança do jornalismo impresso mundialmente. E no final da década, como havia muito dinheiro sobrando no mundo, houve o endividamento desses grupos para poder ampliar a produção. Daí veio a crise de 1999, desvalorização do câmbio e, junto, a constatação da crise do modelo tradicional de mídia, com a entrada da internet e das redes sociais. Isso leva a um aperto de rumo da mídia para tentar encontrar um modelo. E daí você tem um problema sério, que é a morte, digamos, dos principais pioneiros daqui, o Otávio Frias, da Folha, o Roberto Marinho, do Globo. E os herdeiros acabaram sendo influenciados por Roberto Civita, da Abril, que voltou dos Estados Unidos com a fórmula de [Rupert] Murdoch, da Fox News. Ou seja, “Vamos pegar o público de ultradireita, usar as fake news, usar os algoritmos, ganhar influência política. Em vez de apoiar partidos políticos, nós vamos ser o verdadeiro partido político. E, com a influência política, nós vamos ganhar leitura e vamos impedir a entrada dos competidores". Então, a partir daí, você tem uma deterioração violenta do jornalismo. Porque junto com isso, veio a chamada guerra cultural também, o modelo da Fox Music foi o modelo que Olavo de Carvalho trouxe pra cá também, que é o seguinte: você tem que ir discutir no âmbito cultural. Então, todo aquele universo de influenciadores que eram artistas, cantores, escritores, jornalistas e acadêmicos que compõem, digamos assim, o universo da formação da opinião pública, começou a ser limado, principalmente aqueles que tivessem teses progressistas ou fossem de esquerda. Então, começou ali, em 2005, 2006, um jornalismo de ódio e a influenciar as corporações públicas. Vem o Mensalão, vem a Lava Jato e o jornalismo passa a ser panfletário, sem nenhum respeito aos fatos, com fake news de toda ordem, com parcialidade de toda ordem, até que chega o momento em que todo esse modelo é apropriado pelos corruptos bolsonaristas nas redes sociais, que passam a ganhar vida própria. E o jornalismo não conseguiu se recompor. Você pega o jornalismo hoje aí é um jornalismo de notinhas, embora seja muito mais fácil fazer jornalismo [agora] do que foi em qualquer outra época, porque as informações estão disponíveis, mas é um jornalismo de notinhas. Você pega O Globo, que é o jornal de maior circulação, só tem jornalismo de notinha, uma notinha aqui, outra ali, um uso exagerado do off, porque eles têm que fazer quanto? Tem que fazer dez notas por dia. Então o uso exagerado do off. E uma subordinação ao mercado financeiro e e aos dogmas da economia que eu nunca vi. Então, hoje, você tem um jornalismo que realmente está numa situação muito, muito precária.
CONTINENTE E essa crise de credibilidade, você também atribui a essa forma de atuar dessa grande mídia? Porque essa crise de credibilidade foi alimentada por figuras como Trump e Bolsonaro, mas, pra você, ela começou bem antes, não é isso?
LUIS NASSIF É. Quando você pega o Trump e o Bolsonaro, eles são consequências. Não são causa, são consequência desse discurso de ódio que tira todo o parâmetro. Porque, se você recordar, quando começa esse jogo aí, o que eles fazem é combater o politicamente correto. Eles trazem o discurso da ultradireita, que é um discurso facilmente assimilado pela classe média, a mesma coisa que saiu nos anos 1960 e 1970, no golpe militar. Trazem esse discurso que afeta a classe média, ganham leitores, ganham força política, porque, embaixo dessa falta de critério jornalístico, há toda sorte de lobby. Eu lancei um livro, O caso Veja [Kotter Editorial, 2021], onde eu mostro todas as jogadas que a Veja fazia com Carlinhos de Cachoeira. Ou seja, é uma parceria com um marginal, que fornecia as informações para a Veja e a Veja entrava no jogo. Então, e hoje, o que você tem depois da pandemia, o jornalismo corporativo tenta recuperar um pouco de credibilidade, aposta na ciência e tudo. Mas perdeu muito o fôlego. Hoje, os repórteres têm medo. Acabou aquele pacto que havia antes de um jornalista conhecido trazer leitura e credibilidade para o jornal. Logo, vou exercitar essa minha influência, tendo ideias próprias e pondo questões nas linhas do jornal. A partir de 2005, é tudo "ordem unida": a ordem agora é ser a favor do Lula, a ordem amanhã vai ser o novo impeachment. O Cláudio Abramo dizia que o jornalismo é o exercício do caráter. Eu diria que o jornalismo da grande mídia perdeu o caráter. E o jornalismo alternativo ficou fazendo guerrilha, também preso nas próprias bolhas.
CONTINENTE Você lembra de uma outra crise na imprensa semelhante a que a gente está vivendo hoje?
LUIS NASSIF Não. Nos anos 1970, você tinha censura, o jornalismo do Assis Chateaubriand, mas digamos que o que ocorreu especialmente no período de 2005 até o impeachment não tem paralelo na história brasileira, porque foi um acanalhamento generalizado, notícias falsas que eles sabiam que eram falsas, que eram disseminadas. Aquele negócio do Jornal Nacional que sempre que falava da Lava Jato apresentava um cano de esgoto saindo dinheiro. A maneira como endossaram todas as manipulações da Lava Jato, pra mim, foi o ponto mais baixo da história do jornalismo brasileiro.
CONTINENTE Pra você, qual é o maior problema do jornalismo brasileiro hoje? E qual seria a saída para essa crise?
LUIS NASSIF Se a gente está falando do jornalismo corporativo, é a subordinação total ao mercado. E essa subordinação é porque o mercado começou a entrar nesse universo jornalístico também. O BTG comprou a Editora Abril. Hoje tem uma infinidade de jornais ligados a grupos financeiros. E quando você pega a Folha, hoje, é um apêndice do UOL, que virou um banco. Os interesses do UOL e da Folha são interesses do mercado. O Luiz Frias virou banqueiro. A CNN, por coincidência neste momento, é a primeira vez em que eu estou vendo atacar os juros altos. Até então, era subordinação total ao Banco Central e ao mercado. Tem essa influência do mercado, tem a falta de um modelo sustentável que faz com que esses grupos também vejam a perspectiva de precisar, mais adiante, de um fundo de um banco de investimento garantindo parcerias e sociedades. Essa subordinação do jornalismo ao mercado é um horror.
CONTINENTE Você tem essas duas experiências de trabalhar na grande mídia e está trabalhando no jornalismo alternativo. Gostaria que fizesse um comparativo entre esses dois formatos, entre essas duas experiências de jornalismo.
LUIS NASSIF Eu peguei uma fase interessante da mídia dos anos 1990, que a mídia saía da ditadura com uma espécie de dor de consciência. E ali houve uma disputa, que a Folha inaugurou, de tentar trazer o público mais diversificado possível como leitor. Havia espaço para o contraditório. Se pegar o meu trabalho nos anos 1990, tinha muita coisa em que eu ia contra a linha da Folha, Escola Base, Bar Bodega, matérias econômicas… E eles aceitavam porque dava leitura e ajudava a compor, digamos, a fórmula Folha. E era um jornalismo que você via, o grau de influência era tão grande da imprensa escrita na época, que você conseguia, através de uma coluna, mudar a realidade. Podia trazer novos temas, novas questões… Hoje o jornalismo é muito diluído. No modelo da velha mídia, tinha audiência garantida pelo esporte, por aqueles setores mais leves, cultura, eventualmente por polícia, mas havia espaço para o tema pesado da economia e da política. Hoje está tudo diluído, tudo pulverizado. As pessoas não acompanham mais os jornais, elas vão atrás da notícia que está bombando naquele momento. Isso dificulta muito um papel essencial do jornalismo, que era a mediação. Por exemplo, quando eu estava na minha coluna na Folha, falava o seguinte: o papel do jornalista é mediador. Então, você não é contra ou a favor de governos. O governo reflete muito as disputas que tem na sociedade. Então, tem que elogiar, digamos, aquilo que você considera legítimo, criticar aquilo que você considera ilegítimo e, com isso, você vai criando essa mediação. Hoje em dia, não. Aliás, desde que começou a internet. Você faz um artigo criticando o governo, vem uma parte do povo e “Pô, você está fazendo um jogo da direita”. Se você faz um artigo elogiando, vem uma outra parte: “Você está querendo uma boquinha do governo”. Então, digamos, ficou muito difícil fazer jornalismo. E sempre as bolhas. Uma coisa é você ser prisioneiro do patrocinador, que é o que acontece com o jornalismo corporativo. Outra coisa, muito ruim também, é ser prisioneiro do leitor. Eu não posso falar tal coisa porque o leitor não vai gostar e pode me boicotar, pode me cancelar. Então, não sei como vai ser organizar esse mercado de informação. Mas é um período de caos que leva a essa loucura aí, de bolsonarismo, de radicalismo, de terraplanismo, de superstição que domina parte do país.
CONTINENTE Mas, no seu GGN, você tem liberdade, não é? Você tem os seus convidados, diz o que quer, faz as suas análises, traz os seus furos. Então você também não está muito preocupado com "pra onde está indo o leitor ou o espectador?", não é?
LUIS NASSIF Eu levo pessoas que pensam diferente, o meu telespectador sabe o seguinte: na minha casa, ninguém é maltratado. Eu vou dar a palavra para o sujeito, mesmo que não concorde com ele, porque é importante pra gente saber a opinião geral. Mas a diferença de alcance do tempo que tinha quatro jornais, e hoje, com essa pulverização, é muito grande. Nós fizemos denúncias no tempo da Lava Jato e daí teve essa cumplicidade entre judiciário e mídia. No tempo da Lava Jato, a gente tinha denúncias pesadíssimas contra Dallagnol, contra esse pessoal todo aí, que os jornais não repercutiam. Há uma lista, um index do que é proibido publicar, o nome de fulano e beltrano. Por exemplo, o meu nome só aparece quando é pra me acusar de esquerda, eu digo “acusar” porque eles usam isso efetivamente como acusação. Então, digamos, está numa fase difícil. Porque havia antes grandes comandantes de redação. Isso aí foi esvaziando-se nos anos 1990 e, depois de 2005, acabou. Se tem o aquário lá e diz o que o dono quer, ou o que eles acham que é a onda do momento. Então, se a onda do momento for aquele linchamento, são a favor do linchamento. Se a onda do momento for ser solidário, eles são solidários. Só que os, digamos, temas escabrosos são muito mais fáceis de conseguir criar onda do que os temas legitimadores.
CONTINENTE Você sente que hoje há uma dificuldade maior em se dar furo?
LUIS NASSIF Não, hoje você tem muito mais furo.
CONTINENTE É porque está muito diluído por conta de rede social.
LUIS NASSIF Esse é o ponto. É que nem vamos pegar o exemplo da música. Nunca se fez tanta música que nem hoje. E nunca tão poucos apareceram. Porque se tem o aumento da oferta de um lado, mas, por outro lado, provoca uma diluição muito grande. E as notícias dos jornais, eles têm mais capacidade de criar fatos de impacto, pelo alcance deles. Mas, mesmo assim… Vamos pegar o exemplo do UOL. O jornalismo do UOL é muito melhor do que o jornalismo da Folha, mais jornalista, tem uma diversidade maior e tudo. Mas não tem um impacto que a Folha ainda tem hoje e quando você vai olhar a Folha, virou um um jornaleco. Então, você tem uma desconstrução total do mercado do mercado jornalístico.
CONTINENTE Eu me lembrei agora, com relação a furo, o que você tinha falado quando teve o caso do porteiro do condomínio Vivendas da Barra. O porteiro disse que havia ligado para "Seu Jair". E Bolsonaro alegou que não estava em casa. Mas você disse que o porteiro poderia ligar para o celular. E isso ninguém deu, só você deu essa informação.
LUIS NASSIF Pois é, uma informação central. Aquele porteiro sumiu. O Sérgio Moro colocou a Polícia Federal atrás dele e ele sumiu. Aquela informação, que era crucial, ou seja, o sistema da portaria dele não era de PABX. Ele ligava por telefone direto pro celular das pessoas. Nós mostramos aqui a administradora, o relatório da administradora falando “o sistema é tal”. Mostramos o produto da internet. Esse sistema transmite para celular. A Globo fez aquele Carnaval acusando o Bolsonaro em cima da acusação do porteiro. O Bolsonaro reagiu. E eles não tinham jornalismo pra rebater. Não tiveram jornalismo pra rebater. E daí, desistiram. Afinaram. E aquilo passou em branco. Até hoje ninguém sabe do porteiro. E daí entra a diferença, né? Eles têm estrutura, têm recursos, têm repórter e nós não temos. Então, as notícias que exigem um tratamento maior, se tiver que ir atrás de uma pessoa assim, você não consegue, né?
CONTINENTE Nassif, e com relação à questão jurídica, à liberdade, à perseguição também, que você sofre, como é que você está neste momento? Tem alguém lhe processando? Algum desses políticos ou você está conseguindo fazer seu trabalho com liberdade?
LUIS NASSIF Eu não reduzi o meu estilo. Aqui, em São Paulo, eu fiz uma crítica muito pesada quando eles prenderam a Carmen [Silva], da Ocupação Nove de Julho, uma senhora excepcional que comandava uma ocupação de um prédio público abandonado aqui e prenderam como sendo do PCC. Eu fiz uma crítica pesada ao Tribunal de Justiça. E daí começou a chover condenações das mais estapafúrdias. E, no Rio de Janeiro, eu critiquei o Luiz Zveiter, que é o grande líder do Tribunal de Justiça do Rio. E daí começou a chover denúncias de tudo que é lado. Tem um grupo de jovens advogados que me ajuda nos processos. Até que eu fiz um manifesto, no qual falei: “Estou condenado à morte jurídica”. Isso aí viralizou e daí parou um pouco. Mas é um jogo enrolado. Por exemplo, tem um maluco aí que diz que eu vendo matérias, que eu sou desonesto. Ele diz no YouTube, daí nós entramos com uma ação contra ele. Daí, o que diz o juiz? Não, tem que ter um inquérito antes pra provar que era ele. Mas como “inquérito?” É a cara dele aqui, a figura dele, é o site dele, é a plataforma dele. Daí vai pro Tribunal. Daí, o Tribunal diz que não precisava de inquérito coisa nenhuma, que o juiz tinha que julgar. Daí, ele julga. Ele fala: “Não, isso aí é um bate-boca da internet”. O cara me chamou de ladrão... E aqui, em São Paulo, é uma dificuldade porque eles não obedecem à jurisprudência do Supremo. É um tribunal que está permanentemente aqui em litígio com o Supremo. A Justiça é uma justiça absolutamente conservadora e o próprio Supremo, lá atrás, quando ele começou a permitir a militância política, abriu espaço para qualquer juiz ou desembargador querer atuar politicamente.
CONTINENTE Pra você, qual é a importância da regulação dos meios de comunicação?
LUIS NASSIF Tem o CAT, Conselho Administrativo de Direito Econômico. A questão da concentração de poder econômico é um tema que o capitalismo discute desde o início do século XX. Você não pode ter um setor dominante. E em relação à mídia, mais ainda. Tinha um conjunto de regras. Na Inglaterra, por exemplo, nenhum canal não pode ter mais que 15% da audiência de televisão lá. Então, tem que evitar concentração. Mas hoje o problema é outro. São as redes sociais, as formas de regulação das redes sociais que têm que ocorrer. As redes sociais são os principais responsáveis por esse avanço do caos em todas as democracias. Então, tem que ter uma regulação e tem que ter instâncias. Veja bem, quando começou lá atrás a parceria da mídia com o Lava Jato, tudo, o Supremo, através do Conselho Nacional de Justiça, abriu um grupo para discutir liberdade de imprensa e só tinha representante dos veículos. Eu fui duas vezes lá em Brasília conversar com a Cármen Lúcia e com o outro presidente do Supremo. Ele falava: "Gente, hoje tem outras formas de jornalismo que são muito mais vulneráveis, que justamente não tem uma estrutura do departamento jurídico, você não tem recurso financeiro". E daí você tem essa questão do lawfare, o cara que abre 20, 30 ações contra você. Mesmo que seja inexpressivo, te obriga a caçar com advogado e tudo, né? Então, tem que ter uma regulação e também do conceito de opinião. É confuso e é complexo isso tudo.
CONTINENTE Qual é a sua análise da cobertura econômica e também política feita pela grande mídia, hoje no Brasil? Porque, durante as eleições, na Globo News, por exemplo, ficavam replicando informações de assessoria. Inclusive Fernando Gabeira fez essa essa observação, que antigamente os repórteres acompanhavam os presidenciáveis e isso não estava acontecendo. Estava todo mundo se referindo às assessorias de imprensa. Então, qual é a análise que você faz dessa última cobertura das eleições e da cobertura política e econômica de uma forma geral.
LUIS NASSIF Essa facilidade de se ter informação pelo WhatsApp, pela rede social e tudo, promoveu um distanciamento muito grande que se reflete especialmente na cobertura econômica. Na cobertura econômica, todo jornalista tinha o seu operador de mercado pra pegar opinião e não se sabe o que acontece com o mercado têxtil, com o mercado habitacional, com o mercado de alimentos. Você não sabe o que acontece com a área industrial. É uma cobertura terrível e sempre em cima de dogmas. Esse negócio da taxa de juros não tem paralelo em nenhum lugar do mundo. Por qualquer parâmetro que você analise, é uma taxa totalmente distorcida e que está arrebentando com o país. Aliás, por milagre, eu vi hoje aqui agora, um pouco antes de você ligar, a CNN começando a criticar a taxa de juros. Até fiz um artigo hoje falando da loucura do diretor da CNN mandar um artigo para Folha defendendo a taxa de juros, uma coisa maluca, e o dono da CNN, que é o [Rubens] Menin, que está se ferrando aí com a taxa de juros, ele protestava contra a taxa de juros pelo Twitter, não pelo jornalismo. Então, você tem hoje uma subordinação a esses dogmas que é impressionante, de uma mediocridade que eu nunca vi igual.
DÉBORA NASCIMENTO, jornalista, repórter especial da Continente e colunista da Continente Online.