Entrevista

“É um coração galinha que cabe muita gente”

Assim define seu motor afetivo e artifício poético Ana Frango Elétrico, cantora e compositora cujo segundo álbum, 'Little electric chicken heart', foi um dos motivos de telefonarmos para ela

TEXTO Thaís Schio

13 de Fevereiro de 2020

Ana Frango Elétrico tem 22 anos e foi eleita, pela Associação Paulista de Críticos de Arte (APCA), a artista revelação de 2019

Ana Frango Elétrico tem 22 anos e foi eleita, pela Associação Paulista de Críticos de Arte (APCA), a artista revelação de 2019

Foto Hick Duarte/Divulgação

[conteúdo exclusivo Continente Online]

A vida de Ana Frango Elétrico enveredou por outros caminhos quando a jovem carioca decidiu desencaixotar as composições “tortas” de sua adolescência e largar a faculdade de Belas Artes para assumir a música como profissão. A decisão, tomada há cerca de dois anos, era apenas um dos primeiros capítulos de uma trajetória que, apesar do pouco tempo, vem colecionando ótimas reações – como a do crítico musical norte-americano Anthony Fantano. Para se ter ideia, no hiato de um ano e oito meses após o lançamento de seu primeiro disco, Mormaço queima (2016), uma “bossa pop rock decadente com pinceladas punk”, como gosta de identificar, a compositora conseguiu finalizar o universo cinematográfico de Little electric chicken heart (2019), segundo álbum de sua carreira, além de ter sido eleita, no fim do ano passado, artista revelação pela Associação Paulista de Críticos de Arte (APCA).

Apesar de não entender o sucesso do seu próprio disco, a atmosfera “chamber pop balada-jazz” do último lançamento é um bom exemplo dos tipos de sensações que a artista gosta de provocar. Com voz doce e arranjos nostálgicos, intensificados especialmente pelos instrumentos de sopro, a musicista, também poeta e artista visual, nos leva “despretensiosamente” para a trilha sonora de um filme, desses clássicos dos anos 1960, com direito aos mais variados romances e cortes de câmeras que, em determinados momentos, desvelam-se irônicos, cômicos e surreais. Atravessada pela poética marginal de Ana Cristina Cesar, pela irreverência estética e revolucionária de Clara Crocodilo, álbum de Arrigo Barnabé, e por um humor muito típico do signo de sagitário, Ana Frango Elétrico, com apenas 22 anos, constrói, de maneira única, uma narrativa não linear de sobreposição de imagens, algo que costuma chamar de “paralelismo miúdo”.

Até mesmo seu nome artístico carrega inúmeros significados – desde o mais óbvio, isto é, “a preguiça alheia na hora da leitura e, consequentemente, do pronunciamento das consoantes” do seu sobrenome de registro (Fainguelernt), como anuncia em suas redes sociais, até questões políticas ligadas às heranças deixadas pelo sistema patriarcal. “Porque não conseguia achar os sobrenomes das mulheres da minha família”, diz, listando ainda todas as outras questões que envolvem heterônimos e identidade. “Meu nome acaba em masculino, mas começa feminino, tenho isso dentro de mim”, pontua a artista em conversa bem-humorada com a Continente. Prestes a aterrissar no Recife, dessa vez para participar do festival Rec-Beat (segunda, 24/2), durante o carnaval do Recife, Ana Frango Elétrico também falou sobre sinestesia, internet, “teoria do suco verde” e Tyler, the Creator. Além de Fernando Pessoa, movimento lésbico e não-binariedade.

CONTINENTE Me conta um pouco sobre você, sobre como a música surgiu na sua vida?
ANA FRANGO ELÉTRICO Eu comecei a fazer música superpequena. Meu pai é professor e artista plástico e minha mãe é psicóloga corporal e canta muito bem, tenho essa memória dela, sempre cantando. Apesar de não tocarem nenhum instrumento, os dois sempre tiveram esse interesse de me colocar em contato com isso. Esses dias, eu tava até rindo porque minha mãe comentou: “Ah, mas é porque coloquei a Aninha para fazer essas coisas desde cedo”. E eu também tenho certeza de que tem a ver com isso, com essa aproximação musical, mas aí a amiga dela chegou e falou: “É, também botei a Clara e ela virou médica” (risos). A partir disso, a gente ficou pensando até que ponto essas coisas vêm do nosso ser e até que ponto vêm das nossas influências. Então, quando tinha 10 anos, fui para o Villa-Lobos, uma escola de música no Rio de Janeiro. Eu lia partitura superpequenininha, tocava e tal, mas não gostava das aulas, gostava de pop rock. Aí pedi para sair, já que tocar piano clássico não era a minha, ainda fiz um pouco de violão, tocava rock.

CONTINENTE E a composição?
ANA FRANGO ELÉTRICO Eu falo que comecei a compor com 16 anos, porque, na verdade, as músicas dessa época estão presentes nos meus discos até hoje, mas tenho memória compondo quando tinha uns 10 anos. Aos 14 e 15 também, quando tinha uma banda engraçada com amigas que, por ser a única a tocar, era quase um coral (risos). Mas só me interessei de outra maneira quando participei, no ensino médio, de uma banda chamada Almoço Nu – que até hoje existe e vai lançar disco novo. Comecei a compor músicas autorais para ela e, a partir desse momento, as coisas foram ficando mais interessantes, porque antes tinha esse papo de: “Ah, tudo já foi feito, as coisas não têm mais expansão”. Foi quando percebi que isso não com nada, até porque chega uma hora que são tantas influências e referências que é preciso outro nome. Lembro até de uma teoria que chamo de “teoria do suco verde”, porque acho mesmo que tem uma geração, até acima da minha, pré-internet como é hoje, que ficou presa aos grandes nomes que ainda vivem e produzem – e ainda bem também, porque a gente pode estudar e ver essas carreiras e discografias, mas sinto que, de alguma forma, a mídia os prendeu em várias circunstâncias, deixando muito claro quais são as influências... Ficaram muito presos no suco de laranja com cenoura, sabe? E aí a minha geração e as mais novas têm tanta influência, tanta coisa que nem a gente sabe. Por isso, a “teoria do suco verde”, porque uma hora tem tanto ingrediente junto que tem que dar outro nome. Então, eu ficava pensando: “Cara, tem muita coisa pra gente ampliar ainda, até do ponto de vista da forma da canção, por que tem que ser assim, muito 'AABB' (tipo específico de rimas, mais conhecidas como emparelhadas ou paralelas)?”. Daí comecei a brincar com isso, com a maneira que se faz letra e poesia. Essa banda, com 16 anos, foi muito importante; por causa dela, comecei a me debruçar em outras músicas que viraram a Ana Frango Elétrico e sigo nesse exercício da canção. Faz uns dois anos que assumi como trabalho e larguei a faculdade (de Belas Artes).

CONTINENTE Vi que você também pinta. Como isso se comunica com sua música, quais imagens você gosta de pintar?
ANA FRANGO ELÉTRICO A minha pintura, minha parte gráfica, eu considero pós-pop e super pop. Tem mais a ver com meu primeiro disco, com coisas muito saturadas e plásticas. Gosto muito de acrílico, de pintar em plástico, pintar emoticon, sabe? Existe uma linguagem pop e mundana que tem total a ver com minha poesia de coisas reais e como faço para as transformar em artes surreais. Eu tenho o clipe de Roxo, meu único clipe, na verdade, que exemplifica, de alguma forma, o que eu gostaria de fazer, uma sinestesia completa. No sentido de que a música evoca a pintura quando fala “mistura magenta com azul”, mas, em nenhum momento, cita a palavra “roxo”.



CONTINENTE A gente sempre pensa em influências, nomes, mestres e você fala de haver novos nomes, novas linguagens.
ANA FRANGO ELÉTRICO Tenho a impressão de que vai ser quase impossível colocar os artistas em uma caixinha novamente, nessa perspectiva de movimento artístico. E me agrada muito a sensação de que cada um é um universo. O audiovisual tem contribuído e acho isso lindo. Grandes nomes como David Bowie, uma figura icônica andrógina, ou Tyler, the Creator são figuras que admiro e se enquadram no seu próprio universo, sabe? Cabe ao artista falar qual o gênero dele. O próprio Tyler falou, no discurso do Grammy, sobre a questão do rap e da urban music, e de como não se sente enquadrado nesses códigos. No meu primeiro álbum, não queria que chamassem de “nova MPB”. Hoje em dia, tenho menos ranço, mas, como antes ligava muito, já chegava falando para não cair nisso. Acho que a mídia tem vários vícios de linguagem pós-grandes movimentos. Fica meio nesse limbo. Sinto que, na verdade, quando vejo o futuro da arte é mais do que isso, é plural, vão ser várias ilhas estéticas. 

CONTINENTE Nesse sentido, em que ilha estética sua arte pode se encaixar?
ANA FRANGO ELÉTRICO Esteticamente, consideraria pós-pop, mas isso na minha parte gráfica, que anda colada com tudo que faço. Esses dias, me marcaram como pop experimental e gostei dessa nominação, mas sinto que cada trabalho meu vai ter uma pegada diferente. No primeiro álbum, Mormaço queima, eu falava que era uma bossa pop rock decadente com pinceladas punk, ainda acho que faça isso, mas o segundo álbum Little electric chicken heart é, para mim, um pop de câmera (chamber pop) balada jazz. Não sei se você já chegou a ouvir meu álbum, mas em Saudade tem uma parte de metalofone e coro, isso tem a ver com música de filme mesmo. 

CONTINENTE E o terceiro álbum? Uma junção, de repente?
ANA FRANGO ELÉTRICO Vai ter dos dois, e vai ter mais coisa. Acho que é sempre uma continuação da pesquisa, mas são coisas diferentes. Foi importante lançar o segundo álbum, porque o meu primeiro tem coisas de produção muito específicas que não realçam as canções, ele tem outras propostas. Achei isso muito incrível, mas ficava angustiada de querer mostrar outras coisas. No último, pensei nas minhas referências e em como deixar tudo redondo, onde queria começar e terminar. Tenho me interessado, cada vez mais, pela produção musical; então, cada vez mais, entra um desejo de produzir, por isso acho que vão ser discos mais instrumentais. Acho que não dá muito certo esperar alguma coisa de qualquer próximo álbum meu, porque não me satisfaço, não vou seguir essa receita de bolo que fiz no Electric chicken heart

CONTINENTE Seu nome artístico é uma brincadeira com seu nome de registro e você falou de como é um alter ego seu. Você pode me contar um pouco do processo de formação dele?
ANA FRANGO ELÉTRICO (risos) É muito doido, a coisa mais próxima tem a ver com meu sobrenome (Fainguelernt), por ser difícil, com muitas consoantes. Mas, mesmo se não fosse, não usaria meu próprio nome, porque não tenho o menor interesse como cantora. O “frango elétrico” veio de personagens que já eram alter ego para alguns amigos... Eu tinha uma dupla de bichos com uma amiga e ela começou a falar para eu usar. Você pergunta como foi o processo de formação, mas está sendo uma construção. Por exemplo, eu ainda não encontrei alguma coisa que abraçasse como me sinto com a minha sexualidade. Não me identifico como bissexual, esse sistema binário nunca me abraçou, por isso a não-binariedade é o que mais me acalanta no momento. Meu nome acaba em feminino, mas começa masculino, tenho isso dentro de mim. Sinto que essa pesquisa de alter ego tá completamente em aberto e exposta, no sentido de sentir mais coisas. Sou eu também, mas não sou só eu. Sei que, quando estou no palco, não tenho tanto controle e quero ter menos controle ainda sobre o frango, a frango ou Ana.

CONTINENTE Você fala que tem um “pequeno elétrico coração galinha”. Como é ter esse coração?
ANA FRANGO ELÉTRICO Esse coração sofre. Sofre, mas é sagitariana, sabe? Eu sofro, mas sou safado também, não presto muito. O Little electric fala bastante disso, é um coração galinha que cabe muita gente, mas é pequenininho também… Hoje em dia, estou namorando uma mulher, nunca tinha namorado uma mulher. Já me apaixonei, muita coisa, mas nunca tinha vivido uma relação mais longa e com comprometimento. Então, outras coisas estão me atravessando, né? O movimento lésbico e sapatão, o político do sapatão tem me atravessado. Sempre me atravessou, mas agora de uma maneira mais forte por estar vivendo isso na rua e na vida. 


Foto: Hick Duarte/Divulgação

CONTINENTE Qual momento da sua vida repercutiu na criação do Little eletric chicken heart?
ANA FRANGO ELÉTRICO Sinto que é um álbum onde quis muito acessar a nostalgia. Sabe quando você não tem a ideia do momento, mas a ideia de memórias? As referências são memórias afetivas minhas, mais familiares do que qualquer coisa. Fala de um momento do ano passado, de conceitos amorosos internos dentro de mim. Também sinto que falo sobre as coisas de maneira mais mascarada, tenho dificuldade de falar de uma forma mais explícita, é um exercício para mim, apesar de assumir que tenho um raciocínio mais ligado à poesia e a poesia, às vezes, é louca porque nem sempre é literal. O Little electric expõe muito mais do que eu estava acostumada, evoca memórias afetivas nostálgicas e tenta acessar a nostalgia das pessoas pelo som, ao mesmo tempo em que fala de certos conflitos internos relacionados ao amor e à sexualidade. 

CONTINENTE Suas músicas quase sempre contam uma história, mas que não é linear. É quase um fluxo do inconsciente, uma sobreposição de imagens, tanto nas palavras, quanto sonoramente. De onde vem isso?
ANA FRANGO ELÉTRICO Vem muito da poesia. Muitas das músicas desse álbum vieram de poemas que musiquei. A poesia tem outra maneira de narrar as coisas, sempre tive dificuldade com literaturas longas e, quando comecei a gostar de poesia, encontrei tanta possibilidade de sentir coisas. Lembro de um livro (A casa dos budas ditosos, do escritor João Ubaldo Ribeiro) que me marcou muito; não era poesia, mas foi o primeiro livro que comecei a sentir tesão lendo e comecei a gostar da palavra. É muito doido, você faz muita coisa sem ter que dar nenhuma imagem, nenhuma cor, é tudo palavra que vai para cabeça e tem códigos que acessamos. Aí me identifiquei muito, porque a poesia tem essa coisa do paralelismo das coisas. Por exemplo, estou aqui no meu quarto, agora no Japão algo acontece, o carro está passando, o cachorro faz xixi, estou falando com você e alguém do seu lado está mordendo a ponta da caneta (risos). A poesia tem esses cortes curtos que me interessam e, por isso, faz total sentido você falar isso da sobreposição, porque tem a ver com a poesia, mas que também, visualmente, tem a ver com o cinematográfico e meu trabalho teve muitas referências de músicas dos anos 1960 e 1970, do Quincy Delight Jones e Burt Bacharach.

CONTINENTE Tem outros poetas e poetisas que te atravessaram?
ANA FRANGO ELÉTRICO A Ana Cristina Cesar super me atravessou, o (Vladimir) Maiakovski… Deixa eu ver, até olhando pras minhas coisas (risos). Depois que a Ana me atravessou, fui descobrindo o Federico García Lorca, me aprofundando um pouco mais nos heterônimos de Fernando Pessoa que, inclusive, foram marcantes no começo e influenciaram, com certeza, a criação do Frango Elétrico. Os heterônimos de Fernando Pessoa e Clara Crocodilo, álbum de Arrigo Barnabé.

CONTINENTE Em algumas músicas, há um humor, uma pequena ironia contida. Como você enxerga esse dispositivo? 
ANA FRANGO ELÉTRICO Não acho graça nas coisas que escrevo, mas entendo acharem. Acho que tem a ver com essa distância da poesia, acho que é culpa da poesia, especialmente dessa poesia que é mais cinematográfica, com mais cortes curtos. Mas, tipo assim, não faço nenhuma música de brincadeira, sabe? Não tem nenhuma música que penso: “Ah, quero ser engraçada”. Elas têm uma irreverência, a maneira com que as cantoras “devem” se comportar e que graças a Deus; a Deus não, graças a nós todas, têm cada vez mais mulheres fazendo o que querem, artisticamente, esteticamente… Mas acredito muito no humor e na estranheza, acho que esses instantes de riso e de estranheza, choque, são momentos importantes de acesso ao corpo. 

CONTINENTE Do primeiro álbum, Mormaço queima, até Little eletric chicken heart, o que mais mudou durante esses anos, tanto no processo de criação, quanto na sua vida?
ANA FRANGO ELÉTRICO A minha maturidade mudou muito, sonora e pessoal, porque o Mormaço tem músicas dos meus 16 e 18 anos. O comprometimento mudou, fiz o Little electric com vontade, com verdade, objetivo e seriedade, vendo a música como trabalho. E minha vida, com certeza, está diferente, passando por coisas específicas, então o que mais mudou fui eu. 



CONTINENTE Quando escuto o seu álbum, sinto que você estudou muito, especialmente os arranjos. É possível dizer isso? 
ANA FRANGO ELÉTRICO O que estudei de música foi muito nova, mas, há anos, toco muita coisa. Antes, eu gravava tudo sozinha e ficava me ouvindo, até hoje faço isso. Sou assim, meio autodidata em alguma medida, porque minha prática e meus estudos são autodidatas, me proponho a achar melodias que ouço na minha cabeça e que talvez não sejam tão simples, sabe? Hoje em dia, depois do Mormaço, dei uma estudada, de fato, com professor de baixo, o que me fez entender várias coisas que já tocava na guitarra, e não sabia o que eram. É muito doido ver, com mais conhecimento, que certas coisas que fazia não eram simples, em termos harmônicos e melódicos. Acho que minha prática é completamente autodidata, eu sou doida, mas sou perfeccionista. Dentro do meu caos, existe um cuidado com as coisas que eu faço, com o que quero passar.

CONTINENTE Quando você começou a tocar baixo e conseguiu entender o que fazia com a guitarra, conseguiu perceber o que te interessava na música?
ANA FRANGO ELÉTRICO Total entendi. Uma coisa que me aconteceu de interessante, durante o ano passado, foi que voltei a tocar piano. Foi engraçado porque tentava pegar minhas próprias músicas de violão e não tinha a menor paciência. Nunca tive paciência de tirar música no violão, só das coisas da minha cabeça, escutando um acorde e buscando ele – o que tem ficado cada vez mais fácil, vi essa melhora como instrumentista nesses quatro anos. Não tenho muita bagagem teórica, mas me comprometo com a prática. E aí quando fui para o piano, super percebi que a minha prática tem a ver com exercitar minhas próprias composições. Embarcando nelas, descobrindo e redescobrindo novos acordes.

CONTINENTE O que vem primeiro, as palavras ou os arranjos?
ANA FRANGO ELÉTRICO É difícil. Estou em um momento de não compor muitas letras, mas, ao mesmo tempo, é meio doido, porque fiz duas músicas com letras recentemente. Sinto que só faço letras quando estou em momentos com mais pensamentos em literatura e vou anotando. Quando anoto coisas que penso, ouço e converso sinto que faço música com letras, mas agora estou em um momento mais instrumental, gostando muito de piano. 

CONTINENTE É, inclusive em Promessas e previsões você canta: Cê pode não gostar/ mas não vou mais falar palavra. Foi a previsão de um momento mais instrumental?
ANA FRANGO ELÉTRICO (risos) Que doideira você falar isso, porque faz muito sentido, na verdade. Essa música é a única música que não é minha e ela me pegou muito. Eu estava em São Paulo, ano passado, passando um mês e finalizando o disco, já tinha algumas ideias de como gravar. E aí o Chico França cantou essa música e fiquei louca. Fiquei tocando, coloquei no celular, tem coisas dela que adoro. E ela... Nossa, acho que agora você acabou de passar uma ideia que tem a ver mesmo.

CONTINENTE Do novo disco, qual música é sua favorita e por quê?
ANA FRANGO ELÉTRICO Hoje em dia, não consigo ouvir minhas coisas e gostar muito. Antes de lançar, fico satisfeita. Mas, do ponto de vista musical, Se no cinema melhor executa minha pesquisa com a canção, tanto de letra quanto de mudança de partes.

CONTINENTE Ana, você foi eleita a revelação do ano passado. Seu disco está em quase todas as listas de melhores álbuns. Para finalizar a entrevista, quando foi que você percebeu esse sucesso e como foi ter contato com essa informação?
ANA FRANGO ELÉTRICO Não consigo ver como se fizesse sucesso. E também não entendo muito porque, para o que pretendo fazer, é um som tão diferente. Até o som da bateria é muito longe e eu já quero fazer uma parada que seja muito perto, sabe? Não consigo ver muito, mas fico feliz porque sei que fiz com muito cuidado e intenção de chegada, por mais que o som seja muito pouco comprimido, é um disco baixo, com muita profundidade. Acho curioso, não concordo (risos), mas fico feliz por ter evocado algum sentimento nas pessoas. 

THAÍS SCHIO é jornalista em formação pela Universidade Católica de Pernambuco.

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