Curtas

WandaVision

Nova série da Marvel chega à Disney + costurando referências, metalinguagem e maneira ousada de articular elementos ficcionais

TEXTO Erika Muniz

01 de Abril de 2021

O seriado é protagonizado por Elizabeth Olsen (Wanda) e Paul Bettany (Vision)

O seriado é protagonizado por Elizabeth Olsen (Wanda) e Paul Bettany (Vision)

Imagem Divulgação

[conteúdo na íntegra | ed. 244 | abril de 2021]

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Marcada pelo pós-guerra, avanços na indústria do entretenimento e estímulo ao consumo, a década de 1950 evidencia essas circunstâncias em vários dos produtos midiáticos lançados na época. Nos anos seguintes, a contracultura e os movimentos ligados a pautas em prol da liberdade, justiça social e feminismo conquistaram mais espaços nos veículos de comunicação.

Era também o momento de bandas de rock estrearem em programas de rádio, de TV com suas letras e melodias subversivas. Para o público das histórias em quadrinhos, em 1964 chegava pela primeira vez às páginas da HQ X-Men #4 uma poderosa personagem. Inicialmente apresentada como uma vilã, a Feiticeira Escarlate ganharia características de uma super-heroína. Por toda sua complexidade, ela logo questionaria as definições entre bem e mal nas narrativas em que protagonizava. Criada pelos norte-americanos Stan Lee e Jack Kirby, Wanda Maximoff recebeu diversas versões sobre a sua origem. No cinema, suas memórias também tiveram contornos específicos, o que contribuiu para alguns mistérios em torno de sua história.

Para elucidar alguns dos enigmas sobre a vida de Wanda e seu carismático companheiro Vision, em janeiro de 2021, o catálogo da plataforma Disney + ofereceu WandaVision. Dividida em nove episódios, a série é o mais recente lançamento do Universo Cinematográfico da Marvel (MCU), do qual também fazem parte outras grandes produções, como Homem de Ferro (2008), Os Vingadores (2012), Pantera Negra (2018) e Capitã Marvel (2019).

Escrita por Jac Schaeffer e dirigida por Matt Shakman, WandaVision amplia o público interessado no que a Marvel costuma produzir, seja pela metalinguagem em torno da história da televisão norte-americana, pelas referências que vão além das trazidas em sagas de super-heróis, ou pela maneira ousada com que articula os elementos ficcionais. Desde o lançamento, em poucos meses, as aventuras de Wanda (Elizabeth Olsen) e Vision (Paul Bettany) vêm conquistando dos fãs mais exigentes aos mais novos entusiastas do gênero. Prova disso são os altos números de audiência, superando programas de sucesso de sua concorrente Netflix. A revista Forbes referiu-se à novidade da Disney + como “a série número um em todo o mundo”.


A história do casal superpoderoso é apresentada, sobretudo, pelo ponto de vista de Wanda. Imagem: Divulgação

A história do casal superpoderoso é apresentada, sobretudo, pelo ponto de vista da personagem Wanda. Por conta disso, muito de sua bagagem cultural, interpretações e interesses participam ativamente de toda a trama. Isso não acontece por acaso, já que se relaciona à própria natureza da Feiticeira Escarlate, na qual a série é baseada. Entre seus vários poderes, um deles é justamente o de manipular e interferir na realidade ao seu redor e nas mentes dos outros. Constantemente, Wanda nos convida – ou talvez nos confunda – a questionar em torno de acontecimentos importantes na narrativa, a partir de sua visão de mundo. Por ela ser grande admiradora de sitcoms norte-americanos, em WandaVision, são inúmeras as alusões a programas do gênero que habitam a memória de gerações de telespectadores.

Outro ponto de destaque da série é a direção artística, que apresenta uma pesquisa detalhada a cada episódio. Nos primeiros disponibilizados, por exemplo, os anos 1950, 1960 e 1970, respectivamente, são reencenados de uma maneira bastante singular. As menções a essas décadas não se restringem a elementos da moda, penteados e cenários que marcaram as épocas, mas são trazidas enquanto agentes na trama, a partir de questões sociais e culturais que ascendiam em cada um dos momentos históricos revisitados. Em WandaVision, essas referências temporais recebem ora contornos de homenagem, ora aparecem pelos vieses da paródia e da crítica. Com certa frequência, o texto de Jac Schaeffer e a interpretação de Elizabeth Olsen despertam reflexões sobre os modos que as personagens femininas foram retratadas em diversas séries televisivas e na própria história da cinematografia hollywoodiana.

Dentre os sitcoms que serviram de referências para WandaVision, alguns são I love Lucy (1951), The Disck Van Dyke Show (1961), A Feiticeira (1964) – com direito à recriação da abertura em formato de desenho animado que marcou muitos telespectadores –, Jeannie é um gênio (1965) e Três é demais (1987). A atriz Julie Bowen, que interpretou Claire Dunphy, no seriado Modern family (2009), outra menção, chegou a declarar-se emocionada em suas redes sociais com a citação.

Para os que não costumam seguir as inúmeras sagas de super-heróis, WandaVision é um convite a perceber que eles talvez não sejam tão diferentes de nós, humanos, pois também têm seus conflitos e questões. Mas a nova série também consegue acessar memórias e sentimentos nostálgicos de programas que fizeram história na televisão. Após os nove episódios disponíveis de WandaVisison, quem quiser descobrir os desdobramentos da vida da protagonista terá que aguardar as próximas criações do universo da Marvel, cotadas para chegar no Disney +, ou somente quando elas puderem retornar às salas de cinema.

ERIKA MUNIZ é jornalista e bacharel em Letras.

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