Cavanellas dividiu EP Tudo vibra, com 11 faixas,
em dois discos: Noite e Dia. Imagem: Divulgação
Abrindo o EP Dia, lançado na mesma data que o anterior, porém ao meio-dia, temos a faixa Coragem. “Covardia é querer chegar ao fim/ De algo que não tem fim/ E adoece” são versos cantados por Mariana em parceria com sua amiga, a cantora pernambucana Flaira Ferro. A canção fala de ciclos e pontua a nova fase na carreira da mineira, que tem passagem anterior em duas bandas, a Lamparina e a primavera e a Rosa neon: “É difícil trilhar música por um caminho social num momento em que a música brasileira tem receita para atingir números e algoritmos. Então, pela primeira vez, eu me coloquei nesse lugar de fazer algo que eu gostaria de fazer, cem por cento fiel ao sentir”.
A faixa seguinte recebe o título de Yanomami e reverencia o saber e a cultura indígenas. O trecho “Chame o povo daqui/ Pra aprender com o povo de lá” abre espaço, mais uma vez, para reflexões sobre a importância e a urgência em defender e valorizar os povos originários. Já com ares mais urbanos, a canção O mar oferece um tom romântico à melodia, ao timbre da voz e à letra (“Eu vou tomar banho de mar/ E desfilar por essa vila a te esperar”). Esses contrastes temáticos e de ritmos mostram a pluralidade e diversidade do trabalho solo da artista, que preferiu não se limitar a um único estilo.
Por uma escolha pessoal e sensorial, baseando-se nos detalhes de mixagem de cada faixa, a divisão do EP em dois foi realizada a fim de inspirar a escuta diurna ou noturna. “Acredito que, dividindo em Dia e Noite, eu consigo acessar as pessoas, para terem mais uma disciplina de audição mesmo e entenderem esse trabalho com uma certa sensibilidade”, contou a cantora e compositora, que sugere experimentarmos escutar as faixas com fones de ouvido, de forma a captar todas as nuances das harmonias.
“Fecho os olhos para andar
Já sei onde estou
Olho para o céu azul
Não sei pra onde vou
Piso na beira do mar
Não sei o que sou
Olho pra esse céu azul
Já sei pra onde vou”
Esse é um trecho de Oz, um dos destaques de Tudo vibra, que encerra o EP Dia. Um resumo, talvez, da proposta geral deste primeiro trabalho solo de Mariana Cavanellas: a de mostrar que todos nós somos capazes de sentir, escutar e dizer além do óbvio – aprofundar nossas percepções, enquanto aceitamos a presença das instabilidades na vida. Até porque, mesmo que pareça, nada é estável; de fato, tudo vibra.
TAYNÃ OLIMPIA, jornalista em formação pela UFPE e estagiária da Continente.