A dimensão cultural, artística e afetiva do SPA das Artes, importante evento de artes visuais ocorrido no Recife, na primeira década dos anos 2000, agora é retratada em livro. Durante 13 anos e 12 edições, performances, exposições, oficinas e debates marcaram as ruas e espaços artísticos da cidade: o SPA das Artes fez história, ao incorporar a arte experimental no circuito cultural recifense, materializando um projeto participativo de produção e circulação de arte que reverbera até hoje. Essa trajetória é contada na recém-lançada obra SPA das Artes: memória, legitimação e afeto, de autoria da artista plástica e produtora cultural Bárbara Collier.
Em formato digital, a publicação é fruto da pesquisa de mestrado da autora, realizado em Teoria das Artes Visuais pela UFPE entre os anos de 2016 e 2018. Contudo, a relação de Bárbara com o SPA começa antes desse período. Foi ainda durante a graduação em Artes Visuais pela mesma universidade que ela começou a interagir com o evento, tanto de maneira profissional, quanto afetiva.
“O SPA das Artes sempre foi sinônimo de felicidade para mim. Foi através dele que eu tive a oportunidade de ver e conhecer artistas consagrados não apenas da minha cidade, mas também de Pernambuco e do Brasil. Foi nele que estreitei várias relações de amizade que carrego até hoje. Além disso, ele acontecia sempre em setembro, que é o mês do meu aniversário, então achava o máximo esse presente”, relembra e brinca a artista em entrevista à Continente.
Bárbara teve suas primeiras experiências como produtora cultural no SPA das Artes, exercendo, ao longo dos anos, diversas funções no evento, inclusive como coordenadora da sua última edição, em 2013. Foram essas diferentes vivências dentro e fora do processo de criação e gestão do evento que a fizeram compreender melhor o funcionamento dos ateliês e dos espaços para as artes visuais na cidade, assim como a importância da implantação de políticas públicas para o fortalecimento desse segmento. “A partir da realização do SPA, não só aprendi a pensar a cultura como uma necessidade pública e política, como também me dei conta da potencial parceria entre o poder público e a classe artística”, afirma a pesquisadora.
Dessa forma, o livro apresenta um levantamento dos aspectos políticos e artísticos que envolveram a história do SPA, seus principais atores e instâncias envolvidas. No capítulo inicial, a autora realiza uma análise da contribuição da gestão pública e das políticas culturais promovidas pela Prefeitura do Recife em 2001, quando o evento foi criado, detalhando a implantação de várias ações, como Plano Nacional de Cultura, fundamentais para o fomento e para a difusão da produção contemporânea de arte na cidade.
Paralelo a isso, a autora mapeia as múltiplas ferramentas de atuação do SPA das Artes – elaborando um catálogo inédito das obras e das produções artísticas realizadas durante as suas edições – sem deixar de lado a afetividade presente no intercâmbio artístico e cultural proporcionado pelo evento, cuja repercussão causou impactos positivos no público, em uma geração de artistas e no Recife. E a intenção de Bárbara é não deixar que o legado do evento seja esquecido: “A arte é essencial para uma vida em sociedade”, ela enfatiza. O livro SPA das Artes: memória, legitimação e afeto teve o apoio da Capes e incentivo do Fundo Pernambucano de Incentivo à Cultura (Funcultura) e está disponível gratuitamente no endereço: https://barbaracollier.com.br/.
PAULA MASCARENHAS é graduada em Letras pela UFBA, estudante de Jornalismo pela UFPE e estagiária da Continente.