Curtas

Solo – Álbum das glórias musicais

As caricaturas escultóricas do artista plástico mineiro Genin Guerra em livro

TEXTO João Rêgo

01 de Junho de 2021

Algumas das 44 esculturas documentadas na publicação

Algumas das 44 esculturas documentadas na publicação

Imagem Divulgação

[conteúdo na íntegra | ed. 246 | junho de 2021]

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Depois de criado o desenho, prepara-se a argila, fazendo com que se torne placa. Na união desses dois processos, o personagem é modelado em relevo para, enfim, ser levado ao forno oriental noborigama. Após uma semana de resfriamento, está pronta uma das 44 esculturas reproduzidas no livro Solo – Álbum das glórias musicais, do artista plástico mineiro Genin Guerra.

O procedimento descrito acima é explicado pelo próprio artista, no final da publicação, que reúne imagens de peças de cerâmica criadas por ele nos 10 últimos e que marca sua estreia no mercado editorial. Longe de ser apenas um catálogo, Solo mergulha nas memórias afetivas dos envolvidos no processo de criação e também na história da música brasileira. 

O subtítulo é inspirado no livro Álbum das glórias, do ceramista e caricaturista português Rafael Bordalo Pinheiro (1846–1905). O acréscimo da palavra musicais por parte de Genin vem justamente do seu objeto de pesquisa e adoração: a música popular brasileira. 

A produção de Genin de caricaturas escultóricas retratando artistas da música é apresentada em ordem alfabética em cerca de 150 páginas. Entre elas, encontramos representações de Chiquinha Gonzaga, Villa-Lobos, Adoniran Barbosa, Jackson do Pandeiro, Carmen Miranda, Cartola, Dorival Caymmi, Caetano Veloso, Gonzagão, Milton Nascimento e Rita Lee.

Há uma intenção didática na edição, com a oferta de informações biográficas dos personagens – ajudando o leitor a entender a importância de figuras menos populares, como Carlos Gomes, Candeia, Radamés Gnattali ou Lupicínio Rodrigues, todos presentes em Solo. Nos anexos, há uma linha do tempo com o percurso da música brasileira em relação aos acontecimentos históricos de 1800 até a atualidade. Além desses recursos, Solo também traz algumas letras de músicas e relatos. 


O artista. Foto: Marcelo Rosa/Divulgação

Guerra convidou cantores, instrumentistas, compositores, escritores, poetas, jornalistas, professores, fotógrafos e outros caricaturistas, na sua maioria também mineiros, para escreverem suas impressões e relações com a obra dos músicos caricaturados. Os depoimentos vão desde o primeiro contato juvenil com a música até textos inspirados por ela. 

Para Genin Guerra, desenhar é uma forma de contar uma história através da organização de linhas. Sua aproximação com o tema não se dá pela satirização vulgar do personagem, mas por uma composição que nasce para expandir sua persona com o potencial fantasioso da caricatura. Ele não recusa o caráter imaginativo para apreensão da realidade física. Pelo contrário, é através da pequena fenda entre as duas coisas que reside a sua criação. A beleza das caricaturas surge no momento em que os traços sugerem o real (a aparência física dos personagens), ao mesmo tempo em que abrem espaço para fabulações. Uma ambivalência que resulta, entre tantos sentimentos, no humor – ferramenta fundamental no trabalho do artista. 

“Faço os esboços tentando definir a composição e a proporção para a futura modelagem. É um primeiro passo para transportar a ideia do efêmero para o concreto”, explica o artista, nascido em Itabira (MG), cidade que deu luz à poesia do seu conterrâneo Carlos Drummond Andrade – o qual já se tornou, por três vezes, escultura feita pelas mãos de Guerra.

JOÃO RÊGO é jornalista em formação pela Unicap e repórter estagiário da Continente.

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