A aura introspectiva é corroborada também pela estética adotada. Com uma fotografia preta e branca intimista, paisagens urbanas – muitas vezes noturnas – e uma trilha de músicas clássicas como Clair de lune, o clima etéreo perpassa a obra como se fosse uma crise existencial em plena madrugada. O filme então parece tomar a forma de um road movie, em que os momentos mais importantes são nos quartos de hotéis, ao colocar a criança para dormir e ser ocasionalmente surpreendido por uma pergunta infinitamente ingênua para a qual o adulto não sabe a resposta. É intimista e sereno, mas não entediante, e se a crise existencial atinge o espectador, ela se dissipa em lágrimas de acalanto, não de tristeza.
Ao mesmo tempo em que o diretor propõe uma visão macro no levantamento de múltiplas perspectivas ao redor do país, ele faz isso a partir do micro, olhando e parando para ouvir de fato indivíduos comuns, independente de sua idade. Como toda sua filmografia, Mills monta mais uma bela investigação do que é universal no ser humano a partir do individual, ora em tom melancólico, ora positivamente conformado, mas com a única lição de que está tudo bem aceitar nossos sentimentos negativos e que devemos seguir em frente, atrás das respostas que não sabemos ou nunca havíamos parado para nos perguntar.
O filme ainda não está disponível nas plataformas de streaming.
DANILO LIMA é jornalista em formação pela UFPE.