A diversidade aponta para a multiplicidade de abordagens e vivências dentro da área, cada qual resultando em percepções e criações particulares. Há também os problemas comuns, como ter que lidar com a falta de orçamento através da inventividade. O livro propõe um mergulho nos processos criativos e metodologias de trabalho destes profissionais, colocando como central a percepção visual e narrativa que os figurinos compõem em obras audiovisuais.
“O figurino comunica. O figurino traz uma contribuição importante para a construção do personagem. Antes mesmo do personagem falar ou realizar alguma ação na cena, o figurino já está transmitindo algo sobre este personagem. Pode transmitir informações como faixa etária, classe social, vaidade, estado psicológico, visão de mundo, profissão, período histórico ou deslocamento de espaço-tempo se o roteiro assim exigir”, explica Ana Cecília.
Já a segunda parte do livro é composta por três artigos que tratam sobre o papel do figurino no cinema pernambucano. A pesquisadora e diretora de arte Iomana Rocha, por exemplo, estuda a área a partir do conceito “brodagem”, usado para definir a produção de alguns cineastas locais. O professor universitário André Antônio analisa o traje de cena dentro de uma perspectiva queer, fazendo relações entre a obra de realizadores como Kenneth Anger e Teo Hernandez, com a do pernambucano Sosha. E o pesquisador Álamo Bandeira apresenta um guia explicativo sobre termos e setores de um set de filmagem para o trabalho do figurino.
Aliar a visão de quem trabalha na área à uma fundamentação teórica, explica Ana Cecília, mostra que "o design de figurino é feito através de processos, reflexão e pesquisa". É justamente a partir dessa busca formal que o livro alça os figurinistas a um papel fundamental para a história do cinema pernambucano. Roupa de cinema monta um panorama múltiplo dos profissionais que vestiram personagens memoráveis nas últimas três décadas de produção local. São 30 filmes, entre longas e curtas, analisados de forma mais aprofundada pelos figurinistas, revelando conceitos, bastidores e metodologias.
Curta Tempestade, com figurino assinado por Libra. Imagem: Maira Iabrudi/Divulgação
Marcam presença obras premiadas como Bacurau, Tatuagem e Amarelo Manga, mas também são contemplados produções menos conhecidas, mas igualmente importantes para a construção de uma linha do tempo. Este recorte heterogêneo permite tanto um olhar sobre a transformação do cinema pernambucano, partindo de um maior acesso a recursos de editais de incentivo, como sobre a força transgressora que atiçou um cinema mais representativo.
Ana Cecília Drumond assina o figurino dos longas-metragens Amores de chumbo (2017), de Tuca Siqueira e Passou (2020), de Felipe André Silva, além dos curtas-metragens Décimo segundo (2007), de Leonardo Lacca, Nº 27 (2008), de Marcelo Lordello, Mens sana in corpore sano (2011), de Juliano Dornelles, Sob a pele (2013) de Daniel Bandeira e Pedro Sotero, História natural (2014), de Julio Cavani, e Muro (2008), de Tião, vencedor do prêmio Regard Neuf da Quinzena dos Realizadores do Festival de Cannes.
JOÃO RÊGO, jornalista em formação pela UNICAP e estagiário da Continente.