Curtas

Recife Arte Pública

Projeto mapeia patrimônio artístico da cidade localizando murais, esculturas e vitrais que podem ser visitados gratuitamente

TEXTO Sofia Lucchesi

10 de Abril de 2018

Mural 'A Batalha dos Guararapes', de Francisco Brennnand, na Rua das Flores, no Recife

Mural 'A Batalha dos Guararapes', de Francisco Brennnand, na Rua das Flores, no Recife

Foto Breno Laprovítera/Divulgação

[conteúdo na íntegra (degustação) | ed. 208 | abril 2018]

Nos úl
timos anos, a forma como nos relacionamos com a cidade tem sido uma discussão constante e urgente, colocando questões como o abandono e a negação do espaço público em evidência. Quem passa pela caótica Avenida Dantas Barreto e suas adjacências, no centro do Recife, pouco imagina que, para além do grande fluxo de pessoas, veículos e movimentações comerciais, existe ali uma outra paisagem. Na área, por exemplo, estão expostos a céu aberto murais de Abelardo da Hora e Francisco Brennand. No sentido de auxiliar a vivência desse patrimônio urbano, o projeto Recife Arte Pública localizou murais, esculturas e vitrais distribuídos pela cidade que podem visitados gratuitamente.

A documentação registra muitas obras muralísticas produzidas nas décadas de 1940 e 60, assinadas por artistas como Lula Cardoso Ayres – autor do famoso mural do Cinema São Luiz –, Cícero Dias e Corbiniano Lins. No acervo de esculturas, foram mapeados mais de 100 pontos de localização e cerca de 300 esculturas públicas espalhadas por 32 bairros do Grande Recife, enquanto na categoria de vitrais documentou-se sua existência de década de 1930 até o final do século XX.

Vitral compõe as artes decorativas da Basílica do Carmo, de Heinrich Moser.
Foto: Hassan Santos/Divulgação


“O projeto vem da vontade de lançar um olhar carinhoso para a cidade. A vivência das cidades e de seus espaços tem ficado cada vez mais restrita”, explica a arquiteta Lúcia Padilha, idealizadora do projeto, cujo mapeamento de obras públicas está disponível no endereço digital www.recifeartepública.com.br, com fotos e informações sobre os artistas. Compreendendo a arte pública como recurso educativo, a iniciativa conta ainda com a distribuição de livretos em escolas. “A arte pública estabelece um diálogo com o entorno, com o contexto urbano da cidade, e pode ser facilmente utilizada como recurso educativo multidisciplinar, proporcionando uma intersecção entre os diferentes campos de estudo”, diz Lucia. Incentivado pelo Funcultura, o projeto tem fotografias de Nando Chiapetta, Hassan Santos e Breno Laprovitera. O assinantes da Continente recebem a versão impressa do mapa junto com a revista deste mês.

O contato com a arte pública é dificultado por impasses como a precária infraestrutura urbana da cidade - como poucas linhas de ônibus ligadas às localizações. Outro fator que dificulta o interesse do público para com as obras é a ausência de identificação e má conservação. Apesar disso, há de se enxergar no acervo de arte pública um potencial de estabelecer uma relação afetiva com seu patrimônio cultural e histórico. “Esse tipo de arte não é acessível apenas por estar em lugares públicos, mas porque permitem interação e contato com o volume e a textura das obras”, enfatiza Lucia.

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