Ao fazer uso de repetições para colocar uma musicalidade não tão óbvia nos seus versos e brincar com diferentes formatações textuais, Solo para vialejo se destaca como obra singular do gênero. Ao mesmo tempo em que apresenta a vontade de fazer-se ser compreendida, a autora também aposta na não objetividade e inexatidão para comunicar ao mundo sua complexa subjetividade, na qual cabem elementos mundanos e filosóficos, belos e amargos e outros opostos que, nesse título, parecem se complementar.
antonio biu
suas lágrimas eram gotas de barro a escorrer
na face mistura de cavalo e homem suor e
sol espinho e fulô fazia carreira na caatinga
pegando rezes perdidas perneira gibão chapéu
peitoral luvas botas e bornal chamava o gado
com o berrante triste como triste era a sua
figura de quixote sem um sancho para alertá-lo
do perigo entoava aboios com a voz rascante e
ressecada da poeira e das pedras pisadas pelo
cavalohomem
antonio biu
antonio biu
antonio biu
(Poema do livro Solo para vialejo)
Natural de Bodocó, Cida Pedrosa deixou o interior pernambucano no final da década de 1970, aos 14 anos, e partiu rumo ao Recife para estudar. Ao chegar na capital pernambucana, trouxe consigo o hábito de contemplar, de forma que locais como as pontes que cruzam o Rio Capibaribe se tornaram lugares de observação. Das paisagens da cidade, colheu seus primeiros poemas até se reconhecer como poeta. Neste ano, a artista lançou mais um livro, Estesia, sobre o qual tivemos a oportunidade de conversar em setembro.