Com Permanência, livro lançado recentemente no Recife, Paulo Malta se insere no meio literário pelo mesmo mote, entendendo também que é pela consciência do processo criativo, pela forma, portanto, que sua história pode se tornar peculiar. Opta pela estrutura fragmentada de uma narrativa na qual personagens e tempos se confundem – como é do feitio do amor –, assim como o próprio “narrador”, uma voz que alterna em primeira e terceira pessoa, referindo-se a Eu, Ele, Ela, Ausência, Sossego, Demônio sem hierarquias. Eis um livro para ser lido em uma hora, e tudo flui sem muito assombro ou reflexão.
Embora mescle suas formas de narrar, Paulo Malta também pesa para o lado da subjetividade, do olhar de quem acorda num dia de domingo com uma ausência na cama. As horas de domingo se arrastam, minuto a minuto; “domingo é um sentimento”, parafraseia a amiga. “… Um dia tão vazio de sentido, que vira as costas para qualquer tipo de justificativa.” Assim como o amor, a separação também é idealizada e nutre-se de lembranças incessantes, geralmente permeadas por referências como pinot grigio, Coltrane, Mondrian. “Às vezes, a memória parece aquela visita que não sabe a hora de partir”, registra o autor em sua primeira página.
Mesmo sendo um estreante, Paulo Malta escreve desde os 20 anos, mas só agora, aos 38, resolveu publicar. É advogado e fez sua obra por conta própria, sem editora ou apoio de fomentos. Cuidadosa sua edição de 72 páginas, em papel pólen, com ilustrações aquareladas de Guilherme de Moraes. E, ao contrário de Ferrante, não sofremos com o livro.
OLÍVIA MINDÊLO, jornalista e editora da Continente online.