Aos 15, foi expulso do colégio onde estudava em Teresina, por atividades políticas. Aos 17, já era um migrante: foi morar na Bahia, onde conheceu Gilberto Gil, Caetano Veloso, Glauber Rocha. Com os baianos, Torquato fez história, como sabemos. Nos anos 1960, já instalados no Rio de Janeiro, eles criaram a Tropicália, e, nem a música, nem a arte, nem a cultura brasileira seriam mais as mesmas.
Sendo que Torquato Neto não era, assim, um raiozinho de sol, não. A sombra da morte estava sempre lhe rondando e, hoje, quando lemos seus textos, podemos observar, em vários momentos, essa pulsão. “Faço força em esconder o sentimento/ do mundo triste e feio que eu vejo./ Tento esconder de todos o desejo/ Que eu não sinto em viver todo o momento// Que passa./ Mas que nunca passa inteiro”, ele escreveu em Soneto da contradição enorme. Portella não comenta nesses Melhores poemas – Torquanto Neto, mas, em outras fontes, afirma-se que, na última internação de reabilitação do consumo de bebida que ele tentou, em 1971, numa clínica no Piauí, foi diagnosticado com um quadro de esquizofrenia, o que explicaria boa parte do seu comportamento.
No dia 10 de novembro de 1972, depois de festejar seu aniversário, ele chegou em casa, deixou que a esposa Ana Maria de Araújo e o filho pequeno Thiago dormissem, trancou-se no banheiro e ligou o gás. O bilhete que deixou, dizia: “Pra mim chega. Vocês aí: peço o favor de não sacudirem demais o Thiago que ele possa acordar”. E foi com o título Pra mim chega que o jornalista Toninho Vaz publicou a biografia de Torquato Neto, com primeira edição em 2005 e reedição em 2014, nos 70 anos de nascimento do poeta.
Outros livros têm sido publicados sobre o Torquato poeta, letrista, jornalista e crítico cultural. Em 2005, o jornalista Paulo Roberto Pires lançou, em dois volumes, o Torquatália. No ano passado, foi a vez de Ítalo Moriconi apresentar Torquato Neto – Essencial. Menos pretensioso e mais barato, este volume organizado por Cláudio Portella possivelmente interessará aqueles que estão chegando agora à obra de Torquato, especificamente à sua poética, tenha sido ou não feita como letra de música. Um bom encontro com aquele que, parodiando Drummond, escreveu que, quando nasceu, um anjo com asas de avião lhe disse: “vai bicho desafinar/ o coro dos contentes”.
ADRIANA DÓRIA MATOS, editora da Continente e professora da Unicap.