Curtas

Festival Chama Violeta 2020-2021

Quer assistir a apresentações circenses direto do Sertão? Com cenas gravadas mês passado, evento vai ao ar no YouTube desta quinta até sábado (16), após aprovação pela Lei Aldir Blanc

TEXTO Valentine Herold

14 de Janeiro de 2021

Cia. Biruta de Teatro, de Petrolina, é uma das atrações deste 'Chama Violeta'

Cia. Biruta de Teatro, de Petrolina, é uma das atrações deste 'Chama Violeta'

FOTO THAIS LIMA/ DIVULGAÇÃO

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Para a sertaneja Odília Nunes, atriz, palhaça e produtora cultural, o refúgio para uma área mais afastada dos grandes centros urbanos e o contato mais próximo com a natureza almejado por tantos durante a quarentena se deu há cerca de cinco anos, quando ela realizou o que denomina de "êxodo urbano". Do retorno à terra natal, no Sertão do Pajeú, após anos vivendo em capitais, aliado ao olhar aguçado para as necessidades culturais das comunidades rurais, ela desenvolveu, em 2015, o projeto No Meu Terreiro Tem Arte e, em 2018, o festival Chama Violeta, de arte circense.

Por conta das restrições sanitárias decorrentes da pandemia, não foi possível realizar o evento como de costume, reunindo grandes públicos e diversos grupos indo e vindo da cidade, mas, após um 2020 tão difícil e muita conversa com os artistas amigos, Odília decidiu que, mais do que nunca, a arte era necessária e que iria pensar em um novo formato. Em dezembro passado, 25 artistas chegaram à sua casa, em Ingazeira, para viver um confinamento de 10 dias antes de se apresentarem para pequenos grupos durante três dias. E agora, a partir desta quinta (14) até sábado (16), o festival – gravado na íntegra em todas as apresentações – vai ser disponibilizado de forma gratuita através do canal do YouTube do No Meu Terreiro Tem Arte.

"Foi um momento muito especial, lindo demais. Uma experiência revolucionária, pois vivemos dividindo as tarefas domésticas, realizando oficinas, performances. Todos nós passamos 2020 sem conseguir nos apresentar e fazer o que mais amamos, então foi realmente emocionante estarmos reunidos e se preparando para o festival. Foi como se tivéssemos aguado nossa esperança para 2021", lembra a produtora. Para que não houvesse aglomerações, o grupo se apresentou em três comunidades, apenas para os moradores: Terreiro de Dona Dia no Sítio Xique-Xique, Terreiro da Igreja do Sítio Minadouro e Terreiro de Aurinha no Sítio Caiçara. E antes que tudo ocorresse, Odília foi à Secretaria de Saúde do município para avaliar a viabilidade do projeto.

Participaram desta terceira edição os grupos e artistas Teatro de Retalhos (PE), Circo do Asfalto (SP), Cia. Trupeçando (PB), Cia. Biruta de Petrolina (PE), Carolzinha Lima de Triunfo (PE), Cia. Cirkombi de João Pessoa (PB), Rapha Santa Cruz (PE), Fabiana Pirro (PE) e Nanda Melo (PE). "Aprovei a edição virtual do Chama Violeta pela Lei Aldir Blanc, o que nos permitiu gravar absolutamente tudo na íntegra, além de algumas performances. O que vai ao ar para o grande público agora é a experiência completa do festival, as reações dos espectadores, as risadas", especifica Odília.

Sobre pensar projetos voltados para públicos de pequenos povoados do interior, a artista e produtora desabafa que é preciso olhar mais para as demandas fora da capital e perceber que esse tipo de evento é o caminho do futuro – iinclusive em termos de viabilidade de apresentações ao vivo no contexto ainda da pandemia. "Aqui no meu sítio, temos uma comunidade de 200 habitantes, não é impossível pensar em eventos seguindo todas as medidas necessárias contra a pandemia. No Meu Terreiro Tem Arte e Chama Violeta nasceram justamente dessa necessidade de descentralização, levar o teatro, a arte para quem não tem acesso o ano todo. Onde são esses locais? Como podemos chegar até eles? Quais as demandas por arte lá? É o momento de percebermos essas outras realidades. Voltei para cá justamente porque entendi que minha função como artista tem que ir além de me apresentar em grandes palcos, é preciso escutar o interior."

VALENTINE HEROLD, jornalista e mestre em Sociologia.

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