Curtas

EGO

Bione apresenta primeiro álbum de músicas autorais

TEXTO Erika Muniz

02 de Janeiro de 2023

Álbum visual de Bione traz influências, entre outras, do rap, trap e do brega funk

Álbum visual de Bione traz influências, entre outras, do rap, trap e do brega funk

Foto Sidarta/Divulgação

[conteúdo na íntegra | ed. 265 | janeiro de 2023]

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Em
Não me peita, música de abertura de EGO (2022), primeiro álbum visual da pernambucana Bione, ela canta: “Eles querem declarar guerra/ Eu tô pensando em escurecer a arte/ Que foi sequestrada e eu pagando resgate/ De alta ou de baixa/ A gente reparte/ Se espera que eu brigue com o meu povo, espero que você não me contrate”. Nesses, como em outros versos de seu novo trabalho, o conceito central que percorre a obra se evidencia: a autoestima preta enquanto potência de sobrevivência. Com uma saudação aos orixás Ogum e Iansã, a primeira faixa conta com a participação de Mãe Beth de Oxum, mestra da cultura popular, ialorixá e Patrimônio Vivo de Pernambuco, que traz seu vocal poderoso, abrindo os caminhos não só do disco, mas dessa nova fase na carreira de Bione.

Com referenciais que passeiam pelo rap, trap, bregafunk, dancehall e da música popular feita no nordeste brasileiro, a obra começou a ser desenvolvida no contexto da pandemia de Covid-19. Sua realização, porém, só foi possível devido à conquista do primeiro lugar do Festival Pré-Amp, na categoria “artista revelação” por Bione. Com a premiação, a pernambucana recebeu a possibilidade de dedicar 120 horas de gravação em um estúdio profissional. Desse modo, ela e sua equipe deram início à construção que resultou em EGO, gravado no Oráculo Estúdio, no Recife. Além de Mãe Beth de Oxum, a faixa Tropa das loka traz um feat triplo com Adelaide (PE), Bixarte (PB) e Iza Sabino (MG). No hit Banca malvada, a cantora Rayssa Dias participa intensificando a sintonia entre o rap e o bregafunk.

“Depois de ganhar o Pré-Amp, comecei a me dedicar. Vamos contar uns três anos e seis meses para escrever, produzir, gravar, pensar em conceito e pagar as pessoas que trabalham com a gente, porque EGO também tem muito a ver com parceria. A maioria das pessoas que fizeram parte desse projeto são parceiras mesmo. Foi um processo bem grande, um processo de crescimento da minha vida. Eu era menor de idade quando comecei a produzi-lo, e, agora, já tenho minha casa, já tenho outras responsabilidades, outras metas, outros focos, já enxergo o mundo como uma jovem, não mais como uma adolescente e mais como uma adulta. Acho que esse projeto teve que sair bem maduro para mostrar a potência da gente”, conta Bione, em entrevista à Continente.


Imagem: Divulgação

Em 2018, quando a entrevistei, na época para o Jornal do Commercio, a artista – que hoje está com 19 anos – morava com sua mãe Janaína e se preparava para representar o estado de Pernambuco na quinta edição do Slam BR, Campeonato Nacional de Poesia Falada, em São Paulo. Agora, morando sozinha em uma casa na Favela do Detran, sua relação com a poesia permanece, mas ela conta que, nesse momento, o foco está mais direcionado à carreira musical. No entanto, “a poesia falada já era o início dessas músicas, desse projeto do álbum. Eu não imaginava que seria dessa maneira. Foi o destino que se mostrou, que colocou o Pré-Amp à frente da gente, que colocou esse prêmio na nossa mão, para a gente conseguir essas 120 horas num estúdio, que possibilitou conseguir gravar, produzir em alta qualidade e lançar esse álbum”.

Com produção do disco de DJ Big, EGO é composto por 10 canções autorais que fabulam acerca das vivências de Bione, a partir de temas como o amor, a importância da família e de sonhar. A coletividade se evidencia no trabalho de Bione junto à Aqualtune Produções, produtora de mulheres negras que gerencia a carreira da artista. Em entrevista, a cantora conta: “São quatro anos que estou com a Aqualtune e a gente vem se fortalecendo, vem fazendo trabalhos bons, vem trazendo essa persona artística da Bione para o mundo e mostrando que é possível, sim, uma pessoa preta, favelada, que talvez não tivesse perspectiva de futuro sendo artista, conseguir a partir de outras mulheres pretas e faveladas. Estou muito orgulhosa de trabalhar com a Aqualtune e ter lançado esse projeto. Agora é um novo começo e a gente está pronta para isso até demais”.

Filmada no Edifício Douro, localizado no Centro do Recife, a construção visual que compõe EGO conta com visualizers desenvolvidos para cada uma das faixas. A direção do projeto é da Aqualtune Produções; as imagens e edição são assinadas por Will Souza e os figurinos do elenco são das marcas Máfia Feminina e Cabrochas. O material completo pode ser assistido no canal de Bione no Youtube e também encontra-se disponível nas plataformas digitais.

ERIKA MUNIZ, jornalista com formação também em Letras.

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