Diante da busca pela pluralidade de realidades brasileiras, a obra cinematográfica que abre o Festival é o documentário em curta-metragem A vida secreta de Delly, do cineasta pernambucano Marlom Meirelles. Seu filme conta a história de Edelfan Batista, presidente da Associação de Catadores de Materiais Recicláveis em Cabo de Santo Agostinho, e a sua jornada, até então nunca contada. Lidando com a situação de subalternização e com a descoberta de sua sexualidade, Edelfan passa a ser Delly e se dedica ao trabalho como catadora de materiais recicláveis em uma luta para fazer sua voz, representante de toda uma classe, ser ouvida.
De acordo com Marlom, produzir cinema no Brasil é uma representação de resistência. Para ele, “há histórias que precisam ser contadas. Quando um documentarista se depara com um relato tão profundo e impactante como encontrei em A vida secreta de Delly, existe uma necessidade de se registrar essa história por duas razões: para dar uma plataforma a alguém que historicamente viveu muitos processos de violências e silenciamentos, e por outro, para sensibilizar o público através de seu relato”. Sensível, a necessidade de olhar para os ignorados ainda se faz latente e, com o trabalho de Marlom, a força da resistência frente aos preconceitos e violências é acentuado.
Ainda no dia de abertura, o documentário de 1975 Leila para sempre Diniz será exibido como forma de homenagear o cineasta Sérgio Rezende e, dando início à Mostra de Longas-Metragens, o filme Vermelho Monet, de Halder Gomes, também terá sua exibição no histórico cinema.
Entre os filmes que concorrem na categoria de Longa-Metragem, um deles é Casa Izabel, do diretor Gil Baroni. Com temática LGBTQIA+, o filme busca naturalizar a presença das pessoas que fazem parte dessa comunidade nas produções culturais. Na trama, que se desenrola nos anos 1970, durante a ditadura militar no país, um retiro de crossdressers instala-se em uma casa antiga com histórico escravocrata.
“É cada vez mais importante a gente trazer esses personagens e provocar um pouco a estrutura heteronormativa, sexista, machista, branca, eurocentrada. Essas histórias que afrontam as estruturas de poder e opressão precisam ser contadas”, afirma Gil.
Vermelho Monet (acima) e Fantasma neon estão na programação do festival.
Imagens: Divulgação
Entre as premiações, os competidores da Mostra Competitiva de Longas-Metragens concorrem a melhor filme, direção, roteiro, fotografia, montagem, edição de som, trilha sonora, direção de arte, ator coadjuvante, atriz coadjuvante, atriz e ator, enquanto as obras das Mostras Competitivas de Curtas-Metragens Nacionais e Pernambucanos concorrem a melhor filme, direção, roteiro, fotografia, montagem, edição de som, trilha sonora, direção de arte, ator e atriz. A premiação de 2022 conta também com o Prêmio Canal Brasil de Curtas, que escolhe um dos filmes exibidos nas mostras, através de um júri de jornalistas e críticos de cinema, para ser o ganhador do prêmio, que também oferece R$ 15 mil ao vencedor.
Há 25 anos atuando como difusor da cultura audiovisual brasileira, o Cine PE – Festival do Audiovisual também visa fomentar a indústria do cinema. Neste sentido, oferece o Cine PE Seminários, encontros abertos ao público que visam à qualificação do debate pela discussão de temas referentes ao momento atual do Brasil.
LAURA MACHADO, estudante de Jornalismo e estagiária da Continente.