Curtas

ANIMAGE aporta na capital pernambucana

De 15 a 20 de novembro, 12ª edição do festival trará animações em longa e curta-metragem de várias partes do mundo, além de mostras especiais, oficinas e masterclasses

TEXTO Laura Machado

10 de Novembro de 2022

'Meu tio José', dirigido por Ducca Rios, é um dos destaques da programação

'Meu tio José', dirigido por Ducca Rios, é um dos destaques da programação

Imagem Divulgação

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Com a intenção de celebrar a pluralidade que há na animação mundial, a 12ª edição do Festival Internacional de Animação de Pernambuco – Animage acontece no Recife, de 15 a 20 de novembro. Entre os longas-metragens de destaque, estão dois filmes brasileiros – Perlimps, do indicado ao Oscar Alê Abreu; e Meu tio José, do diretor baiano Ducca Rios –, além de 13 curtas também do país.

Com um total de mais de 180 filmes programados para exibição, o Animage 2022 deseja superar suas edições anteriores, consolidando o festival através de sua diversidade, além de ser um grande instrumento de fomento da cultura pernambucana. Segundo seu idealizador, Antonio Gutierrez, Gutie, “o Animage vem contribuindo para que a animação pernambucana cresça e se desenvolva, porque não é apenas um festival de mostra, ele também traz atividades formativas, como oficinas e masterclasses. Isso estimula muito a produção, pois as pessoas que querem fazer animação começam a se sentir estimuladas e também adquirem conhecimento para entrar nesse mundo”. 

Com a capilarização do evento, isto é, a ocupação de diversos espaços culturais da cidade com as sessões de cinema, o Animage atua como um amplificador da arte de animação e, mesmo após enfrentar o período pandêmico e restrições orçamentárias, segue forte. “O Brasil não tem um festival que tenha o conteúdo, a diversidade e a qualidade curatorial que o Animage apresenta”, afirmou Gutie à revista Continente.

Para o curador do festival, Júlio Cavani, o retorno do Animage ao formato presencial, após uma edição híbrida, pode significar recorde de público, e a animação dos envolvidos com a produção é vibrante. “O Animage traz para o Brasil filmes que muitas vezes nem chegariam aqui, então, o festival faz esse intercâmbio e por isso é importante. Além de trazer um olhar sobre o que está acontecendo, os filmes dizem muito sobre o mundo atual, a política e o comportamento. A programação costura mensagens que o público vai absorver”. 

Originalmente criado por Gutie como forma de homenagear a sua relação com o filho — o garoto fez 15 anos em 2022, enquanto o festival segue logo atrás, com 12 —, o Animage traz produções livres, mais voltadas ao público infantil, mas também animações cujo público-alvo são os adultos. Ele explica que a animação é comumente confundida como um tipo de produção cinematográfica exclusivamente para crianças justamente por ser a porta de entrada de diversas pessoas ao universo do cinema, mas essa forma de contar histórias  vai além do cinema voltado apenas aos pequenos. “A animação estimula a reflexão, desperta interesses, abre horizontes, é uma porta de iniciação para o cinema, é uma magia muito peculiar, tanto é que está sempre vibrante e presente”, diz Gutie. 


Imagem do Animage no Cinema São Luiz. Foto: Victor Jucá/Divulgação

REPRESENTANTES BRASILEIROS 
A mostra de longas do Animage trará nove produções de várias partes do mundo. Entre elas, duas animações nacionais. Fazendo uso do poder das cores, o novo filme de Alê Abreu, Perlimps, conta a história dos protagonistas Claé e Bruô, agentes-secretos de reinos rivais que acabam por se unir em prol de uma grande missão: encontrar os perlimps, seres místicos que possuem o poder de encontrar a paz em meio à guerra. A animação de 80 minutos será exibida na abertura do Animage, 15 de novembro, às 15h30, no Cineteatro do Parque.

“Em Perlimps, pude explorar meus estudos sobre a cor, o quanto ela é potente. Nesse filme, ela é praticamente um personagem, assim como a trilha sonora de André Hosoi e Grivo. São elementos que ajudaram a compor esse universo do filme”, explicou Abreu, que vê a animação como “um vasto campo de técnicas e linguagens para se fazer poesia, de dar outra forma ao mundo para que seja possível enxergá-lo novamente. Acho que a animação tem um poder de dialogar com as pessoas num nível muito profundo”, concluiu. 

A outra obra brasileira entre os longas é Meu tio José. Dirigido por Ducca Rios, o longa faz um resgate ao período da ditadura militar, no início dos anos 1980, e acompanha o garoto Adonias, que precisa escrever uma redação para o colégio no mesmo dia em que o seu tio, José Sebastião Rios de Moura, membro do grupo de esquerda Dissidência da Guanabara, sofre um atentado e precisa ser levado ao hospital, em estado grave. 

A história contada por Ducca nasceu da maneira mais pessoal possível: O tio José é, na verdade, seu tio de sangue, morto na ditadura quando o cineasta ainda era uma criança. “Costumo dizer que o filme começou a ser pensado quando eu ainda era criança, e que aprendi com a morte do José o que é uma ditadura militar. Claro que todo esse processo foi construído de forma inconsciente, até que, já adulto, me tornei cineasta. [...] Resolvi escrever sobre a minha percepção dos acontecimentos que levaram à morte do meu tio. Escrevê-lo e dirigi-lo é um exercício de memória, mas, sobretudo, um exercício de entrega e desprendimento, pois busquei, acima de tudo, ser honesto com a forma que enxergava o acontecimento quando tinha meus dez anos de idade”. Com tamanha intimidade explorada na obra, o diretor avisa o espectador: “Não espere assistir a uma obra fria, mas a um relato emocionado”. 

Rios enxerga a animação como um território ilimitado, como a imaginação. Para ele, nenhuma outra linguagem do audiovisual tem a capacidade de reproduzir sonhos. “O ato de imprimir expressões e sentimentos em um personagem criado utilizando lápis e papel possui uma carga simbólica inigualável e que independe se a história a ser contada é baseada em um fato verídico, como em Meu tio José, ou na mais louca fantasia”. O longa-metragem será exibido no Cineteatro do Parque, às 18h40 do dia 16 de novembro. 

Para além dos filmes exibidos, o Animage promove também uma mostra competitiva que premia produções em curta-metragem. Neste ano de 2022, o festival bateu recorde de inscrições, com mais de 1.600 produções vindas de 40 países, o que representa o dobro de filmes da edição anterior. 

Entre as 92 obras selecionadas, 13 são representantes do Brasil e concorrem ao grande prêmio de Melhor Curta-Metragem, juntamente a um valor de R$ 4 mil. Também acontecem premiações nas categorias: Melhor Curta Infantil, Melhor Curta Brasileiro, Direção, Roteiro, Direção de Arte, Técnica e Som, além do retorno do Prêmio do Público, que conta com o voto direto dos espectadores das sessões de cinema. 


Cena do longa-metragem Perlimps. Imagem: Divulgação

É importante ressaltar que as obras participantes da mostra competitiva foram todas produzidas há cerca de um ano atrás, o que significa dizer que os temas são atuais e refletem um olhar para o cenário mundial da animação observando novas tendências.

MOSTRAS
Nesta 12ª edição, o Animage realiza oito mostras especiais, com reocrtes específicos. São elas: Mostra Africana, Mostra Brasil, Mostra Erótica, Poesia Óptica: Retrospectiva Oskar Fischinger e a Mostra Pernambuco –50 Anos. 

Esta última se propõe a realizar um mergulho na história da animação produzida no estado, exibindo produções das últimas cinco décadas. De acordo com Júlio Cavani, a mostra é dividida em três pontos: “Um, dedicado aos desbravadores, os pioneiros, que experimentaram linguagens que não costumavam ser usadas aqui em Pernambuco; outro, que chamamos de "preparando o salto", traz animadores que são praticamente a primeira geração profissional de Pernambuco, pessoas que realmente podem dizer que trabalham com animação, não fizeram experimentos isolados, estão construindo esse cenário pernambucano; a terceira sessão é mais livre, mais lúdica, com filmes que estimulam a imaginação e nos levam a viajar por mundos mágicos”. 

Unindo pioneiros e nova geração na animação pernambucana, a mostra contará com debates online após cada sessão para promover o diálogo e reflexões sobre os 50 anos de história.

LAURA MACHADO, jornalista em formação pela Unicap e estagiária da Continente.

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