Imagem: Keith Bernstein/Divulgação
Em recente minissérie da Netflix, Harry e Meghan (2022), o filho caçula de Diana e Charles fala abertamente sobre como a sua mãe foi enganada pelo jornalista para conceder a entrevista, ponto bem presente em The Crown, após a investigação realizada em 2020 concluir que foram utilizados métodos ilegais e antiéticos para isso. O príncipe aborda como Diana e outras mulheres da família real foram expostas e exploradas, mas que, diferente das demais, sua mãe precisou lidar sozinha com a situação, principalmente após o divórcio.
Apesar de apresentar, com cuidado, os pontos que envolvem Diana, boa parte da narrativa dessa temporada da série é dirigida a Charles, ao apresentar pontos vulneráveis, como o caso do Camillagate. Um ano após o divórcio com Diana, é exposta, pela mídia, uma conversa íntima entre o príncipe de Gales e Camilla Parker que revela o relacionamento entre os dois. Os bastidores da história, diferente da temporada passada, narram com precisão a forma como o príncipe Charles lidou com a separação, os escândalos com seu nome e os constantes conflitos de ideias com sua mãe.
Também neste período, fim da década de 1990, Hong Kong deixou de ser colônia britânica, alimentando a sensação de vulnerabilidade do império. Fatores esses que urgiam uma necessidade de estratégia para a sobrevivência da monarquia britânica e intensificavam a frágil relação entre Elizabeth II e Charles. A rainha levava consigo os princípios do reinado da rainha Victoria, um império inanimado e anglicano, em cujos valores o príncipe de Gales não convinha. A crença em uma reforma constitucional e em um estado laico, somada à ambição por assumir o trono, levou Charles a, por vezes, se opor à sua soberana e a levar esses confrontos à mídia, como a pesquisa divulgada pelo Sunday Times, que mostrou o público preferindo o afastamento da rainha e sendo a favor de seu filho.
Os anos 1990 também foram marcados pela fragilização dos casamentos, com três divórcios de três filhos da rainha: Anne, princesa real; André, duque de Iorque; e o mais complexo e midiático, o príncipe Charles. Diante dessas circunstâncias, nos é apresentada a criação do Conselho de Guerra Informal, um grupo destinado a gerenciar exclusivamente os conflitos na família, uma espécie de força-tarefa para assessorar a realeza inglesa em casos de envolvimento em escândalos e polêmicas, como uma forma de garantir a sobrevivência da monarquia. A ação evidencia a fragilidade e a insegurança que a família real se encontrava, com dilemas morais, ideológicos e religiosos quanto a questões como as contraditórias relações extraconjugais e os comportamentos da família mediante a imprensa e o público.
Em Harry e Meghan (2022), o príncipe apresenta ainda as semelhanças dele com sua mãe, por se guiar pelo coração e lutar por causas sociais e humanas. Aspectos que possivelmente serão desenvolvidos, assim como o enredo do seu irmão William, na sexta temporada de The Crown, que se passa nos início dos anos 2000. Segundo o diretor, Peter Morgan, a série não se aproximará dos dias atuais, preferindo detalhar mais o contexto exibido na quinta temporada.
Por fim, a penúltima temporada de The Crown retrata, com uma riqueza de detalhes, a instabilidade da família real frente à modernidade dos novos tempos, de modo que os jovens e mais velhos da realeza passam a lidar e encarar esses desafios de maneiras distintas. A expectativa para a sexta temporada é, com certeza, alta, mesmo que a série não se aproxime dos tempos atuais, possivelmente estará situada entre o final dos anos 90 e os primeiros anos do novo século, permitindo uma identificação mais intensa dos espectadores ao recordarem os acontecimentos abordados.
MAYARA MOREIRA MELO, jornalista em formação pela Universidade Católica de Pernambuco e estagiária da Continente.