Brenda está viajando e, no caminho, avista uma casa solitária com uma senhora habitando-a. Rodrigo volta à região em que nasceu, após anos sem visitá-la, e reencontra algumas memórias. Cecy e os dois filhos, Laís e Arthur, adoram animais e costumam alimentar os encontrados pela estrada, mas surpreendem-se com algo inesperado. Esses e outros personagens compõem as páginas de A estrada amarela (Estronho, 2021), livro de contos do jornalista e professor Filipe Falcão. Ao longo de 12 narrativas – onde mistério e terror se evidenciam –, um elemento é compartilhado entre todas elas: diferentes cidades do sertão de Pernambuco são trazidas como cenários das histórias narradas.
“Sou um grande admirador do sertão. Gosto muito de viajar pela região, então me pareceu uma escolha muito natural. Minha intenção era explorar esse cenário, suas estradas, pequenas cidades, casas. E, claro, acho uma região muito bonita”, pontua Filipe, em entrevista à Continente por e-mail. “Outro fator dessa escolha tem ligação com a ideia de isolamento geográfico. Gosto desta ideia de um personagem sozinho em uma situação atípica e alguns personagens encontram-se neste contexto. Claro que existem cidades grandes e muito desenvolvidas no sertão, mas tive o cuidado de procurar cidades menores ou casas isoladas no meio da estrada.”
Nos contos de A estrada amarela, a sensação de suspense se estabelece e gera expectativas durante a leitura. Escrito no primeiro semestre de 2020, no período de isolamento social, o novo livro marca a estreia de Filipe Falcão no universo literário. Porém, no campo da pesquisa, ele já tem outros títulos, como A aceleração do medo: o fluxo narrativo dos remakes de filmes de horror do século XXI (2018) e Fronteiras do medo: quando Hollywood refilma o horror japonês (2015), ambos direcionados a estudos cinematográficos.
Grande fã do cinema de horror e de literatura fantástica, Filipe conta que essas seriam suas principais influências na hora de escrever os textos de A estrada amarela. “No quesito cinema, posso destacar filmes que trazem antologias, histórias com cerca de 10 ou 15 minutos. Sempre gostei desse formato por permitir concentrar as ações em um único personagem ou em um grupo pequeno de personagens”, complementa.
O autor e sua obra. Foto: Gustavo Bettini/Divulgação
O modo como as histórias de A estrada amarela são contadas remete ao roteiro cinematográfico – embora em formato de contos. Por vezes, as narrativas transportam para o desenho das cenas, além de provocarem a imaginação. No texto de abertura, Brenda e a estrada amarela, existe, inclusive, a informação de que a narrativa teria sido baseada num curta-metragem escrito por Filipe, Gustavo Bettini e Miva Filho.
Entre cada conto, ilustrações da artista Vânia Notaro – que também assina a capa – intercalam-se, trazendo algo do que as páginas seguintes reservam, mas preservando o suspense que as narrativas resguardam. Ainda sobre o projeto gráfico, nas últimas páginas, existe um mapa de Pernambuco, em que dá para identificar cidades mencionadas nos textos de A estrada amarela. Floresta, Brejinho, São José do Egito, Verdejantes e Solidão são algumas das citadas. E, de fato, serem apontadas no mapa contribui para informar quem não sabe onde os municípios se localizam. Mais importante do que simplesmente localizar, no entanto, talvez seja saber se, na visão dos habitantes dessas e de tantas outras cidades sertanejas, trazidas nas obras de ficção, o modo com que sua região é ficcionalizada contribui na desestruturação dos estereótipos em torno do imaginário desses lugares.“Sempre que publico um livro, tenho muita dificuldade em escolher o título. Mas, neste caso, me pareceu mais simples. Gosto de pensar em uma estrada no sertão e como a geografia (da região) já traz uma coloração amarelada por parte da terra e da vegetação, mas esta leitura se torna ainda maior se estivermos dirigindo durante o nascer do sol ou no pôr do sol”, afirma o autor, explicando sua decisão para a nova publicação. A geografia retratada como sendo “a do sertão”, a partir de uma paleta em tons amarelos, sob um “forte sol” e cuja vegetação é referente ao bioma da caatinga, já fora bastante explorada em diversas obras da literatura e do cinema brasileiro. E essa “ideia de sertão” vem, ainda, sendo frequentemente revisitada.
O lançamento de A estrada amarela em formato físico acontece nesta quinta (3/6), em uma live no Instagram do portal Boca do Inferno (@bocadoinfernobr). A publicação estará disponível para compra nas lojas da Amazon, Americanas e no site da editora Estronho (https://www.lojaestronho.com.br/). A versão em e-book estará disponível a partir do dia 10 junho.