Ilustração Greg
"Parece que a maioria dos trabalhos de hoje em dia está nas mãos das pessoas erradas”, comenta Allan Oviedo, 43 anos, morador do Pina, “porque quem faz acha difícil, e quem não faz acha a coisa mais fácil do mundo”.
Ele sabe o que está falando, porque sua profissão é uma das mais difíceis e invejadas do Recife de hoje. Oviedo é tatuador orgânico, e fatura “algo na casa dos seis dígitos” por mês. Suas culturas de bactérias cromáticas são, há alguns anos, um sucesso entre a juventude de várias capitais nordestinas, sem falar no eixo RJ-SP-BSB. Risco zero de saúde (garante ele); e desenhos, escolhidos pelo cliente, que se transformam uns nos outros, ao longo de semanas, como um desenho animado em câmara lenta.
A clientela de Oviedo é restrita, mas abonada; isso não quer dizer que somente essa faixa de público esteja sendo contemplada pelas novas tecnologias. Veja-se o caso de Isabella Couto, 36 anos, moradora do Espinheiro. Isabella é amestradora de pássaros para animar festas de aniversários.
Em geral, festas infantis, explica ela, enquanto nos faz uma demonstração no Parque da Jaqueira, com uma revoada de duzentos pombos coloridos que erguem-se no céu desenhando bandeiras de clubes de futebol, ou figuras animadas (destaque para um Mickey Mouse piscando o olho).
Depois que o Governo e os órgãos de segurança monopolizaram o uso de drones ornamentais (explica Couto), foi preciso recorrer a técnicas milenares dos antigos circos para extrair dos pássaros estas performances. Isabella Couto é sócia da ONG luso-britânica Passarinho Bêrde, e garante que não usam chips nem implantes eletrônicos. “É uma combinação de estímulos magnéticos e visuais, é tudo que posso adiantar”, diz ela. É claro – o segredo está na alma do negócio.
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