“A feira é fruto de uma pesquisa que estamos aprimorando a cada edição. A curadoria das galerias está cada vez mais atenta e, este ano, a presença de Rodrigo Moura, subiu ainda a mais a régua”, comemora Fernanda Feitosa, diretora executiva da SP – Arte.
De Pernambuco para a feira – Duas galerias (Amparo 60 e Marco Zero) do Recife e uma representação da Oficina Francisco Brennand estavam presentes, além de obras de artistas pernambucanos variados nos acervos de galerias, a exemplo de Tunga (Palmares) e Montez Magno (Timbaúba) na seleção do espaço Mirante, ou os ceramistas de Caruaru Manoel Eudócio e Ratinho.
No estande da Amparo 60, seis artistas compunham a mostra Tremor das Línguas, com curadoria de Ariana Nuala. A proposta era refletir “como a palavra, a imagem e o sonho criam caminhos para uma tradução entre brechas e temores”. Esculturas de Diogum e um desenho em carvão de Clara Moreira chamavam a atenção no espaço.
Posicionada estrategicamente na entrada da feira, a galeria Marco Zero apresentou 28 artistas reunidos pela curadoria de Bitu Cassundé sob o título Territórios Desviantes. A ideia foi investigar “o desvio como estratégia de relação com o Nordeste brasileiro”. Nesse contexto, Cícero Dias, José Claudio, Gilvan Samico dividiam a atenção do espaço com o Véio, Ianah, Leonilson e outros.
No espaço da Cerâmica Brennand, a atração era a venda de peças produzidas pelo coletivo de oleiros e pintores da Oficina Francisco Brennand. Originais do artista, havia três pequenas esculturas. Outra obra de Brennand podia ser vista no estande da Marco Zero.
No estande da Galeria Andrea Rehder, a iconografia pernambucana ocupava uma parede com quadros de dois artistas recifenses da nova geração: Jota Zeroff e Getúlio Maurício traziam maracatus, a rural de Roger, cores e personagens da tradição contemporânea local. Andrea Rehder, proprietária da galeria, contou que conheceu ambos em uma recente viagem de pesquisa ao Recife.
Cerrado e sertões - Do Centro-oeste surgiram outros dois destaques da feira, que ganharam a preferência de muitos participantes e visitantes. Os estandes da Cerrado Galeria e do Sertão Negro.
De Goiânia, a Cerrado convidou Divino Sobral para fazer a curadoria de uma mostra individual do artista Moacir Soares de Faria, mais conhecido como Moacir, figura mítica da Chapada dos Veadeiros, retratada em documentário por Walter Carvalho – Moacir – Arte Bruta (2006) – e há anos presente em seleções de artistas promissores em curadorias de nomes como Paulo Herkenhoff.
Eram 44 desenhos de Moacir, com suas figuras ímpares, que misturam natureza, sexualidade e violência em cores vibrantes. Para a obra, o curador não poupou adjetivos: “complexa, enigmática, desconcertante, fascinante, singular e bela”. Com diversas limitações físicas, Moacir nasceu, na década de 1960, e vive em São Jorge, povoado de Alto Paraíso (GO). Há alguns anos deixou de pintar e desenhar por questões de saúde.
Em seu estande, o coletivo Sertão Negro representava o projeto Sertão Negro Ateliê e Escola de Artes que o artista brasiliense Dalton Paula criou em Goiânia. Com as paredes cobertas por serrapilheira, o espaço reunia o trabalho de diversos artistas do ateliê. Um dos destaques eram duas pequenas esculturas em um suporte de madeira, Iaiá e Ioiô.
A instalação, de autoria da artista Lucélia Maciel, é uma homenagem a seus avôs, Josefa e Feliciano, naturais de Morro do Chapéu (BA) e cujo acervo fotográfico inspirou e nutre sua pesquisa artística. Lucélia é nome de destaque na produção contemporânea, residente e assistente no projeto Sertão Negro.
OUTROS CAMINHOS
Seguindo a rota pelo Nordeste, destaques e surpresas surgem no estande da Lima Galeria, de São Luís (MA), como a obra escultórica do maranhense Luís Carlos Lima, que trabalha argila e outros elementos, alcançando texturas e cores inusitadas, explorando formas orgânicas. Ou o piauiense Gabriel Archanjo, que usou grafite aquarelado sobre lenços de tecido para desenhar rostos de mães, avós, tias, primas, parentes e amigas de sua família, em busca do rosto da mãe que não conheceu.
Já a galeria baiana Paulo Darzé conquistou o público com uma curadoria em homenagem a Exu, intitulada O Mensageiro. Reuniu obras de 19 artistas, todas em torno do orixá, propondo “refletir sobre como nossa concepção de mundo eurocêntrica nos afastou dos saberes e da profunda dimensão cultural que herdamos das Áfricas pré-coloniais”.
Outras rotas possíveis, transitando mais ao centro do cenário artístico paulistano, nos levavam a estandes como o da Caravana Farkas, mostrando a trajetória do fotógrafo Thomaz Farkas e sua contribuição para o documentário brasileiro; ou a galeria Gomide&Co com a “Rotas de Afeto”, com curadoria de Leonora de Barros, que olhou para sua própria produção em diálogo íntimo com a produção de seu pai, Geraldo de Barros.
CARLOS COSTA, jornalista, graduado pela UFPE, começou sua carreira no Diario de Pernambuco