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Serra da Capivara: Maior acervo de rupestres do mundo

TEXTO Danielle Romani

01 de Dezembro de 2010

Foto FumdHam/Divulgação

[conteúdo vinculado à reportagem de capa | ed. 120 | dezembro 2010]

Existe uma divisão na história
da arqueologia brasileira que pode ser descrita como o antes e o depois do início das pesquisas na Serra da Capivara, no sudeste de Piauí, que começaram em 1973, quando a arqueóloga Niède Guidon, nascida em São Paulo, chegou à região e se deparou com a riqueza e diversidade dos resíduos da pré-história no local.

“Em 1963, quando eu era arqueóloga do Museu Paulista da Universidade de São Paulo, um visitante piauiense me contou que, na sua terra, eu poderia encontrar desenhos de índios nas rochas. Mostrou-me as fotos, vi que eram totalmente diferentes de tudo que havia sido publicado. Dez anos depois, em 1973, consegui montar uma missão para explorar o local, no qual descobrimos 55 sítios com pinturas, o que foi suficiente para demonstrar a importância da região para a arqueologia americana”, relembra.

Hoje, quase 40 anos depois, mais de 700 sítios arqueológicos, dos quais 590 com pinturas rupestres, foram encontrados na Serra da Capivara, que é considerada a extensão de terreno que concentra maior acervo de pinturas rupestres no mundo, e que pode ser equiparada, pela quantidade e diversidade dos achados, às mais importantes cavernas europeias.

Para se ter uma ideia da riqueza dos sítios piauienses, basta dizer que, apenas na Toca do Boqueirão da Pedra Furada, 1.300 figuras foram detectadas. Lá, também foram feitas prospecções que mostraram ser a ocupação humana no Brasil bem mais antiga do que se pensava, a partir da descoberta de ossadas com 12 mil e 10 mil anos BP.

Aliás, exatamente nessa região foi encontrada Zazá, a mulher mais antiga do Nordeste, cuja ossada possui 9.670 anos BP, e que só perde em antiguidade para outra famosa mulher brasileira, Luzia, localizada em 1975 no sítio Lapa Vermelha, em Minas Gerais, cujo esqueleto data 11.500 anos BP.

Zazá, segundo conta Gabriela Martin, no livro Pré-História do Nordeste do Brasil, morreu junto a uma fogueira, quando um bloco de cerca de seis toneladas desprendeu-se do teto do abrigo, lançando uma onda expansiva que separou sua cabeça do tronco. Escavações na região também permitiram o estabelecimento de uma coluna cronoestratigráfica que registrou datas entre 59 mil a 5 mil anos BP. 

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