Arquivo

A "escola dos pernambucanos"

Desde os anos 1980, com a redemocratização, profissionais do estado buscam especialização na Escola Internacional de Cinema e TV de Cuba

01 de Junho de 2015

Adelina Pontual foi uma das primeiras cineastas locais a buscar formação em Cuba

Adelina Pontual foi uma das primeiras cineastas locais a buscar formação em Cuba

Foto Otavio de Souza/Divulgação

[conteúdo vinculado à reportagem especial | ed. 174 | jun 2015]

Profissionais que fazem parte da cadeia produtiva do cinema pernambucano buscam, desde a década de 1980, intercâmbio com a Escola Internacional de Cinema e TV de Cuba, para fazer cursos e oficinas. Alguns já voltaram à ilha para dar aulas.

Só na equipe de filmagem de Te sigo, eram quatro profissionais de áreas diferentes, todos com formação em Cuba: Cecília Araújo (diretora), Adelina Pontual (continuísta), João Malaquias (diretor de fotografia) e Moab Filho (técnico de som).

Uma das precursoras desse intercâmbio é a diretora e continuísta Adelina Pontual, de 49 anos. No final de 1987, formada em Comunicação Social, tinha trabalhado no primeiro curta do cineasta Cláudio Assis, o doc-ficção Henrique.

Sem muita opção no mercado local, resolveu tentar um mestrado em um dos únicos cursos de Cinema que o Brasil oferecia na época, na Universidade de Brasília. Pediu a um amigo dessa cidade para ver se tinham aberto o processo de seleção, mas a notícia que ele lhe deu foi surpreendente – a Escola Internacional de Cinema e TV de Cuba estava oferecendo sua segunda turma, e as inscrições estavam abertas no Brasil. O amigo a inscreveu.

Adelina conta que foi com a cara e a coragem. Provas de conhecimentos gerais, sobre cinema e, se passasse, uma entrevista final. Foi a única pernambucana aprovada para o curso regular, que dura três anos, junto a outros dois brasileiros.

Na volta da seleção, a difícil missão de avisar ao pai, um “direita juramentado”, que iria para Cuba. “Vai para a Ilha de Fidel? Cuidado”, foi a resposta dele.

Em janeiro de 1988, ela chegou à instituição, em San Antonio de Los Banõs, onde passaria seis meses de experiência, “para ver se dava para a coisa”. Logo descobriu sua ignorância sobre a América Latina, sua cultura, literatura. Mas deu sorte. Na formação, fez um seminário com toda a obra do diretor Tomás Gutiérrez Aléa – com ele presente.

Ficou três anos e meio, voltando ao Brasil uma vez por ano, para as férias. Especializou-se em montagem, mas sempre teve fascínio pelo trabalho de continuísta. “Isso foi graças à Escola”, diz, fazendo referência à professora da cátedra de Edição, uma francesa, que tinha uma máxima – “quem vai montar tem que ir para o set, fazer continuidade, para aprender o que deve e não deve ser feito”.

Desde que voltou ao Brasil, trabalhou em 25 filmes como continuísta, dirigiu outros 12 e fez sete séries para TV. Em 2005 e 2006 voltou à instituição cubana, então como professora das disciplinas Assistente de Direção e Continuidade e Assessoria de Exercícios Práticos.

Vários outros profissionais seguiram para estudos na Escola Internacional de Cinema e TV, já se constituindo aí uma “escola cubana” de Pernambuco. Entre os diretores, Andréa Ferraz, Tuca Siqueira, Camilo Cavalcante, além de diretores de fotografia, como Jane Malaquias e profissionais de várias áreas do cinema, como Moabe Filho, Catarina Apolônio e Rafa Travassos (som).

Leia também:
Diásporas: os enraizados e os que partiram

Publicidade

veja também

Pesquisa: Teatro para a infância

“Não tive tempo de ser cinéfilo”

“Mesmo um filme que não fale diretamente de política, é político”