2014: cedi ao Wagner Moura e à @o2filmes os direitos de adaptação.
2017 e 2018: filmagem.
2019: première no Festival de Berlim.
2021: depois de muiiiiiiita luta, Marighella será lançado no Brasil em 4/11.”
Filme de estreia do ator Wagner Moura (esq.) na direção foi exibido pela primeira vez na Berlinale de 2019. Foto: Luciana Veras
Partindo do material escrito por Magalhães, Wagner enveredou pela ficção. “Esse era um filme que teria que funcionar como uma ficção, mesmo que uma ficção ancorada em um extenso trabalho de pesquisa. Mas não seria um documentário. Os personagens seriam amálgamas daquelas figuras históricas todas, sabe? Não queria que ninguém da ALN (Ação Libertadora Nacional) olhasse para o filme e dissesse: ‘Olha, aquele sou eu’. Mário foi muito disponível, sempre nos ajudou quando foi preciso, mas o roteiro é de Felipe Braga com colaboração minha e nossa ideia era contar uma história sobre personagens complexos. Não queria criar o ‘caras legais versus os caras ruins’. O filme não reforça estereótipos. Tenho certeza de que vai ser muito criticado pela direita, mas também espero crítica por parte de pessoas de esquerda”, situou, ainda em Berlim.
Para Seu Jorge, Carlos Marighella era um “homem poderoso, consistente, de ação”, em contraste com sua personalidade de “homem da paz e da música”. “Ele era esse mito que aparecia nas canções de Caetano Veloso e Mano Brown, mas que eu não conhecia, nem que parecia comigo. Então para interpretá-lo, precisei da ajuda de Fátima Toledo, com quem já tinha trabalhado em Cidade de Deus”, disse o ator. Fátima Toledo fez a preparação do elenco, que traz ainda Adriana Esteves como Clara, companheira do guerrilheiro, Herson Capri, como Jorge Salles, e Luiz Carlos Vasconcelos, como Branco. Adrian Teijido responde pela fotografia, inspirada na cinematografia dos cineastas belgas Jean-Pierre e Luc Dardenne, e Antônio Pinto (Central do Brasil, Cidade de Deus) assina a trilha sonora.
Marighella é uma obra de arte fundamental aos tempos de hoje, tanto por mirar a ditadura – esse fantasma que segue vivo a nos assombrar (e povoar o imaginário de milhares de brasileiros que pedem sua volta) – como por espelhar as incertezas atuais. Como filme, é passível de despertar reações contraditórias. Se, por um lado, aposta e convence no pulso de uma narrativa de ação, por outro, exagera na composição de alguns personagens – em especial o Lúcio de Bruno Gagliasso, calcado na figura de Sérgio Paranhos Fleury, delegado do Departamento de Ordem Política e Social/DOPS de São Paulo que caçou Marighella como a um animal.
Porém, entre a Alemanha de 2019 e o Brasil de 2021, ecoa a pergunta: se este primeiro filme de Wagner Moura como diretor fosse uma cinebiografia de Carlos Alberto Brilhante Ustra demoraria tanto para estrear?
LUCIANA VERAS, crítica de cinema e repórter especial da Continente.