Segundo a pesquisa Públicos de cultura, divulgada em 2013 pelo Sesc, 61% das pessoas entrevistadas nunca chegaram a ver uma peça de teatro. O que não surpreende quem é do meio. “Teatro é arte cara e para poucos. Por isso nossa luta pelos incentivos públicos. Com bilheteria minguada, como sobreviver? Mas é uma arte para um público pequeno”, reconhece Ferraz.
INTERAÇÃO X INTERATIVIDADE
A formação de público, de maneira geral, é um problema que persiste em todas as formas de expressão artística. Nesse prisma, a contribuição da virtualização seria negativa, ao desestimular a convivência. “A situação caótica que se instalou parece menosprezar a necessidade e a importância de locais onde aconteçam a produção, a fruição e o aperfeiçoamento da qualidade do que se ‘consome’. Bibliotecas, centros culturais e outras instituições de caráter educativo e formador são menosprezadas em nome da exacerbação do individualismo que se expressa nos aparelhinhos de consumo personalizado e fechado, como smartphones, tablets, computadores etc.”, diz Felipe Lindoso. Para ele, é preciso aprofundar a “busca de um equilíbrio entre as facilidades de acesso proporcionadas pela tecnologia e as interações comunitárias e socialmente mais produtivas que se dão nesses tipos de instituições, que muitos qualificam como antigas, mas que são locus fundamentais da interação e da convivência social”.
De acordo com a citada pesquisa Públicos de cultura, 89% dos entrevistados nunca foram a um concerto de ópera ou de música clássica em sala de espetáculo; 75% nunca estiveram em espetáculos de dança ou balé no teatro; 71% jamais visitaram exposições de pintura, escultura e outras artes em museus ou outros locais; e 70% não estiveram numa exposição de fotografia. Em compensação, 91% revelaram assistir a filmes em casa ou noutro lugar diferente do cinema; 80% costumam dançar em bailes e baladas; 78% declararam ir ao cinema; 72% têm costume de ir ao circo; e 69% assistem a um show de música em casa ou outro local diferente de casas de espetáculos.
Há espaços recém-inaugurados que contribuem para mudar esse quadro. Como a Caixa Cultural, aberta no Bairro do Recife em 2012. De frente para a Praça do Marco Zero, um dos principais pontos turísticos da capital pernambucana, a Caixa Cultural contabiliza mais de 300 mil visitantes, em 127 projetos realizados desde a inauguração. Em 2014, o espaço recebeu sete exposições de artes visuais, sete espetáculos de dança, cinco de teatro, quatro projetos de arte-educação e quatro mostras de cinema, além de 17 apresentações de música.
De acordo com o gerente em exercício, Elton Rodrigues, pelo espaço cultural passam pessoas que vão diretamente para lá e aquelas que passeiam pelo Recife Antigo, e aproveitam para conhecer os equipamentos culturais do bairro. “Isso impõe a responsabilidade de atuar na formação do público e o desafio de apresentar sempre projetos de qualidade para atrair esses visitantes, surpreendê-los e motivar sua volta em novos projetos.”
A interatividade é o apelo dos espaços surgidos no país de 2000 para cá. Entre eles, o Museu da Língua Portuguesa (2006) e o Museu do Futebol (2008), em São Paulo; o Cais do Sertão e o Paço do Frevo, ambos abertos em 2014, no Recife. Com elementos tecnológicos em destaque e o uso extensivo de vídeos e áudios, esses museus do século 21 representam uma aposta para a conquista de públicos cada vez mais acostumados a vivenciar a cultura como levam o cotidiano – recheado de apetrechos técnicos à palma da mão e com a possibilidade de fácil compartilhamento da experiência. Apenas nos três primeiros anos de funcionamento, o Museu da Língua Portuguesa recebeu em suas instalações mais de 1,6 milhão de visitantes, logo tornando-se um dos principais destinos culturais do Brasil e da América Latina.
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