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Acervos: Um mercado a se expandir

Novos museus e galerias sugiram em diversas capitais brasileiras, mas números apontam ainda uma baixíssima visitação, o que coloca a formação de público em xeque

TEXTO Fábio Lucas

01 de Janeiro de 2015

Museu Cais do Sertão, dedicado à cultura sertaneja e à obra de Luiz Gonzaga, foi aberto em 2014, no Recife

Museu Cais do Sertão, dedicado à cultura sertaneja e à obra de Luiz Gonzaga, foi aberto em 2014, no Recife

Foto Fred Jordão/Divulgação

[conteúdo vinculado à reportagem de "Comportamento" | ed. 169 | jan 2015]

A arte contemporânea no Brasil experimenta,
nos anos iniciais do terceiro milênio, um impulso nos negócios que têm movimentado o setor e animado artistas, galeristas e curadores. Mas a formação de público permanece posta em xeque.

Para a pesquisadora em arte e psicanálise Liana Vila Nova, os grandes centros de arte contemporânea coincidem com os grandes centros econômicos. “O mercado nacional é jovem e em processo de internacionalização. Um universo de aproximadamente mil artistas é representado pelas galerias de arte. São Paulo comporta 59% das galerias do Brasil, Rio de Janeiro representa 29%, Curitiba 4%, Recife 2%, Ribeirão Preto 2%, Belo Horizonte 2% e Porto Alegre 2%”, informa Liana; e lembra que, em 2011, a arte brasileira quebrou o recorde na Christie’s, com uma obra da artista Adriana Varejão, que atingiu o preço de US$ 1,7 milhão.

Em consonância com esse cenário, o setor ganhou o primeiro fundo de investimentos em arte contemporânea no país, o Brazil Golden Art (BGA), em 2011. “O BGA consolida no país a ideia de arte como investimento, envolvendo os diversos players.” A feira de arte do Rio de Janeiro, ArtRio, criou uma plataforma de encontro internacional. “Assim como a SP-Arte, feira de arte de São Paulo, criada em 2005 e responsável pelo início da mobilização das galerias brasileiras em prol de um evento convergente”, indica Liana Vila Nova.

A galerista Lúcia Santos, da Amparo 60, concorda que, nos últimos 15 anos, o mercado tem crescido. “O Brasil nunca chamou tanto a atenção lá fora, não só São Paulo, como também Pernambuco. Nos últimos 10 anos, participamos de feiras internacionais, o que tem ajudado a expandir muito nosso público”, diz Lúcia. Segundo ela, a visibilidade tem aumentado. “Somos convidados sempre para feiras e atividades fora do Brasil, e, continuamente, recebemos visita de curadores importantes, do Brasil e de fora.”

Lúcia conta que mostras de artistas contemporâneos fizeram com que um público mais jovem passasse a frequentar sua galeria. Para ela, faltam políticas de apoio às instituições, especialmente os museus, para incentivar a população a visitá-los. “Isso seria bom para todo o mercado”, acredita.

A curadora Cristiana Tejo destaca, nesses 15 anos, a profissionalização e o aumento de mercado. “Museus surgiram em cidades como Porto Alegre, Fortaleza, Recife, Goiana, Belém, além de feiras de arte”, relaciona. Ela recorda, no entanto, que, em 2007, uma pesquisa do IBGE apontou que 70% da população brasileira nunca havia entrado em qualquer museu. Quando as artes visuais eram a especialidade do museu, este número subia para 90%. “Ou seja, apesar de o mercado de arte e a oferta de exposições ter aumentado no Brasil, não há dados recentes que indiquem que houve uma mudança do lugar que as artes visuais ocupam na sociedade”, observa Tejo.

Liana Vila Nova acrescenta que o cenário fica mais complexo com a presença de novas galerias, espaços alternativos e de residência no país. “Tudo isso contribui para uma maior abertura do mercado e trocas internacionais mais amplas. Essa dinâmica traduz-se em todos os indicadores quantitativos e qualitativos que apontam tendências positivas para o mercado e o sistema das artes como um todo”, acredita a pesquisadora. 

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