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Mike Davis
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Este ano, a revista Continente completa 15 anos. Pode parecer um pequeno marco, mas, se observarmos o panorama de publicações do gênero no Brasil, perceberemos que se trata de um grande feito. Isto porque são poucos os títulos, voltados ao jornalismo cultural, que se mantêm ao longo dos anos, a despeito das flutuações de mercado e de leitores.
Como que antevendo tal fragilidade, o editorial da edição de número 0, publicada em dezembro de 2000, afirmava: “Quem já se ocupou ou se ocupa de periódico sabe esta verdade singela: mais difícil que editá-lo é mantê-lo viável. Não basta ter uma boa ideia ou saber dividi-la em colunas e povoá-las de boas imagens. O trabalho árduo sustentado em profissionalismo e a constância amparada em bases materiais sólidas são pré-requisitos para que a iniciativa tenha fôlego e perenidade”.
E a base sólida em que se estrutura a revista Continente tem sido o compromisso assumido pelo Governo do Estado, através da Companhia Editora de Pernambuco (Cepe), em oferecer ao leitor pernambucano, e brasileiro, uma revista de excelente qualidade editorial e gráfica, que apresente e discuta, com seriedade, leveza e beleza, assuntos de interesse contemporâneo sobre aspectos da cultura, de comportamentos, das manifestações artísticas e da tradição tornados perenes pela abordagem oferecida na publicação.
Soma-se a essa relação, que a revista mantém com seu público, aquela que diz respeito aos profissionais que têm trabalhado e colaborado com a Continente – jornalistas, fotógrafos, ilustradores, revisores, designers, acadêmicos, especialistas, artistas, estudantes. São eles os responsáveis por atribuir qualidade e consistência ao material publicado.
Ao longo desses 15 anos – que também são os que inauguram os anos 2000 –, a revista passou por sutis e bem-vindas mudanças no seu projeto editorial e gráfico, procedimento comum a qualquer periódico em circulação, como uma demanda do próprio tempo e de uso.
Uma transformação de grande impacto ocorreu na edição de número 100 da revista, em abril de 2009, em que, aproveitando o momento, discutimos os rumos do jornalismo cultural no Brasil (que, naquele momento, tinha uma configuração diferente da atual). Recorrendo novamente a esse editorial, na edição de 2009, afirmava-se:
“Mudamos também, tantas vezes agradecidos, sem necessariamente sairmos do lugar. Assim entendemos esta reforma que operamos na revista Continente. Porque ela quer preservar os méritos que a publicação conquistou e manteve, nos seus oito anos de existência, mas admite a necessidade de inserir em seu contexto novas formas de observar e produzir cultura, de pensar o mundo, de empreender um jornalismo cultural que se pretende informativo, reflexivo, dinâmico. Rigorosamente, não saímos do lugar, estamos aqui fincados, buscando a solidez e a permanência, mas supomos que para isso precisamos nos mexer, transformar.”
Uma qualidade à qual atribuímos o que pode ser chamado hoje de “poder de permanência” da revista, afora a base sólida antes mencionada, é a de um recorte editorial bastante claro e definido: o local de fala. A Continente tem sido, todos estes anos, uma revista de cultura de Pernambuco, o que significa uma afirmação de ponto de vista. Este tem sido um aspecto sempre destacado como essencial e valioso pelos leitores e pelos que fazem a revista. Isto não significa, entretanto, que a Continente é “regional”, termo que só diminui a dimensão da interlocução.
Ser uma revista “de Pernambuco” significa, desde o número inaugural, ser “escancaradamente pernambucana. Sem ranços de regionalismos nem cosmopolitismos fáceis. Mas, sobretudo, querendo conhecerse e expandir-se no que lhe é próprio, sem esquecer-se de privilegiar o novo e o inédito”. Assim tem sido, e esperamos que seja por muitos anos mais.
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