Arquivo

A Revista: três momentos de mudança

Ao longo de 15 anos, a Continente passou por projetos editoriais e gráficos distintos, o que reflete formas diferentes de pensar a publicação e o desejo de se ajustar às demandas do público

TEXTO Revista Continente

01 de Janeiro de 2015

As páginas internas da revista marcam os projetos gráficos e editoriais da Continente

As páginas internas da revista marcam os projetos gráficos e editoriais da Continente

Imagens Reprodução

No seu lançamento, em dezembro de 2000, a Continente se apresentava como “despudorada, escancaradamente pernambucana. Sem ranços de regionalismo nem cosmopolitismos fáceis”. Apesar de ter-se mantido fiel a essa ideia, ao longo desses 15 anos, ela passou por diversas fases, mas três ficaram especialmente marcadas pelas mudanças gráficas que refletiam também modificações na linha editorial da publicação.

O seu primeiro momento se deu em 1999, quando a Cepe planejava criar uma publicação similar à Leitura, revista da Imprensa Oficial de São Paulo. O editor do Suplemento Cultural (hoje Pernambuco), Mário Hélio, e o editor de arte Luiz Arrais foram convidados pela direção da empresa para tocar o projeto. Com uma equipe pequena, a revista foi gestada nos fins de semana.

O grupo a batizou de Continente, pensando numa integração com toda a América Latina (o que, na prática, pouco aconteceu), tendo sempre Pernambuco como ponto de partida para observar a cultura – “Mês a mês, o leitor acompanhará nessas páginas uma seleção de reportagens, ensaios e artigos que refletirão o que se faz e se pensa no continente de Pernambuco e em outras províncias do mundo”. Foi opção da diretoria da Cepe adicionar o termo “Multicultural” que, em maio de 2008, por um consenso da equipe, foi retirado e a publicação passou a se chamar Continente.

A edição nº 0 foi lançada em dezembro de 2000 e, para a nº 1, a equipe foi reforçada pela contratação dos jornalistas Marco Polo e Homero Fonseca, que passaram a atuar como editores-executivos. Com um grupo fixo pequeno, a publicação trabalhava com uma maioria de colaboradores externos que, a cada edição, eram convidados a dar suas contribuições – modelo mantido até hoje.

A qualidade da publicação começou a conquistar leitores. Havia certo espanto que uma revista do seu nível fosse produzida fora do eixo Rio-São Paulo. Nos primeiros anos, os grandes ensaios dominavam a maior parte das páginas, com textos longos e reflexivos. A despeito do reconhecimento que angariava, a sua logística de produção, às vezes, tinha problemas, atrasando a sua chegada às bancas.

Por volta da edição de nº 15, começou-se a pensar na reformulação de seu projeto gráfico e a designer Manoela Leão foi contratada para gerenciar essa mudança, que chegou a público na edição nº 24, em fevereiro de 2003. Após esse lançamento, o editor Mário Hélio deixou a Cepe para assumir a chefia da Editora Massangana. Os editores da revista passaram a ser Homero Fonseca e Marco Polo, tendo como diretor de redação o economista Carlos Fernandes.

Nesse segundo momento, a publicação alcançou um nível de organização que lhe garantiu a chegada pontual às bancas, sempre no dia 5 de cada mês. O foco no caráter ensaístico permaneceu, trazendo para a discussão assuntos do campo filosófico, porém resenhas e críticas tornaram-se gêneros frequentes, além da publicação de poemas e contos. Nos anos iniciais, a Continente também era marcada pela presença de muitos colunistas.

A mudança de governo, após as eleições de 2006, alimentou a especulação de que a revista seria descontinuada. Porém, o governador eleito Eduardo Campos garantiu a manutenção do projeto iniciado no governo Jarbas Vasconcelos. Afinal, apesar de ser uma publicação governamental, a revista manteve independência editorial, desde o início, tendo-se firmado como uma publicação que expressa uma imagem consistente de Pernambuco, trabalhando com valores intangíveis, ligados à identidade e ao orgulho dos cidadãos pernambucanos.

Nessa mudança de governo, uma das novidades foi a contratação de Ricardo Melo para a direção de arte. Sua experiência em jornalismo gráfico foi fundamental à implantação de programas de editoração mais eficazes, resultando na profissionalização dos recursos da redação. A partir de mudanças administrativas na editora, no final de 2008, foi contratada a jornalista Adriana Dória Matos para assumir a edição da publicação e elaborar, junto com a diretoria da Cepe e a redação, o novo projeto editorial e gráfico, lançado em abril de 2009, na edição n° 100. O redesign da revista, que ganhou nova logo e diferentes seções, foi realizado pelo espanhol Guillermo Nagore, designer de revistas e jornais, que trabalhava como editor de arte do New York Times e já havia colaborado com outras publicações de destaque no mundo. O projeto gráfico é bastante diferente dos anteriores e conferiu uma cara nova à publicação, que passou a ter uma diagramação mais padronizada e ágil.

Para esse mais recente projeto – que o leitor tem em mãos até a atual edição –, a equipe da Continente reavaliou seções e colunas e pensou em conteúdos que pudessem representar o momento vivido pela revista. Ficou estabelecido que ela passaria a ter como eixo editorial as grandes reportagens. Por isso foi criada a função de repórter especial, lotada na redação. Em 2008 e 2011, foram realizadas pesquisas de opinião e, em ambas, o público apontou o interesse por temas ligados a Pernambuco, mais próximos, mais locais. Isso significava que o leitor gostava de “se ver” na revista, embora não professasse bairrismos.

Ao mesmo tempo, houve um investimento no site da publicação, que passou a ter produções exclusivas e dinamismo, além da presença nas redes sociais. Nesses últimos seis anos, a Continente ganhou também uma rotina de produção mais efetiva e organizada, garantindo mais eficiência no seu modus operandi.

Atualmente, a equipe da revista é composta por 13 funcionários, entre jornalistas, designers, revisores e estagiários, e segue com um elenco de colaboradores externos convidados. A cultura continua sendo seu foco, porém numa visão ampliada, que vai além das linguagens artísticas. 

Leia também:
Nas bancas: As 15 capas que mais venderam
Design: 15 belas capas, segundo a redação
Pautas: 15 temas que se destacaram
Personagens: 15 frases que marcaram

Publicidade

veja também

Virtualização da cultura

1900-1915/2000-2015

“As megafavelas são recurso mais subutilizado do mundo”