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Ilustração: Na viagem da imagem lúdica

A preocupação com a qualidade estética dos livros infantis está se tornando regra, transformando-os em itens sofisticados em uma estante de qualquer leitor, independentemente da faixa etária

TEXTO Gianni Paula de Melo

01 de Outubro de 2011

Ilustração André Neves

"Alice estava começando a ficar muito cansada de estar sentada ao lado da irmã na ribanceira, e de não ter nada que fazer; espiara uma ou duas vezes o livro que estava lendo, mas não tinha figuras nem diálogos, ‘e de que serve um livro’, pensou Alice, ‘sem figuras nem diálogos?’”. A literatura é muito feliz nas reflexões que faz para dentro, metalinguisticamente. Não é curioso que as aventuras dessa personagem tenham sido impulsionadas justamente por um livro sem imagens? Que exatamente ela se queixe pela falta de figuras nas publicações? Logo Alice, cuja história se tornou um clássico da literatura infantil, não apenas pelo fantástico de seu texto, mas também pelas diversas interpretações imagéticas nas suas várias edições. Ilustradores e artistas como John Tenniel, Arthur Rackham, Salvador Dalí, Peter Newell e até o próprio autor Lewis Carroll traçaram e coloriram versões da personagem, e, no entanto, nenhuma delas impediu o leitor de criar o próprio repertório visual para essa história. Ainda assim, muitas pessoas acreditam que a ilustração limita a narração literária e a capacidade do texto em sugerir imagens.

Com o maior interesse das editoras por obras do gênero infantojuvenil, preconceitos como o citado vêm diminuindo, mas essa é uma transformação gradual que tem demandado reflexão. Durante muito tempo – e ainda hoje –, o livro ilustrado esteve associado aos leitores menos experientes ou hábeis para a fruição estética do verbal; uma perspectiva das imagens pelo viés puramente explicativo, de quem entende que elas exigem menos competência cognitiva. Em parte, o grande número de publicações com finalidade apenas moralizante e conteúdo “infantilizado”, no sentido pejorativo do termo, colaboraram para essa rejeição ao gênero. Isso porque muitas editoras enxergavam nessa categoria apenas um nicho mercadológico e não havia, propriamente, cuidado visual ou literário. Aos poucos, porém, os grupos preocupados com a qualidade estética dos livros para crianças estão deixando de ser exceção e tornando-se regra.

Inicialmente concebidos para estimular os pouco letrados e recém-alfabetizados, os livros infantis ilustrados se sofisticaram e, hoje, compõem estantes independentemente da faixa etária dos seus donos. Curiosamente, em outras esferas, os produtos infantis também encontram uma nova tônica. É o caso dos filmes de animação, que nos parecem mais inteligentes. Aos poucos, descobrimos como trabalhar a linguagem – nos diversos campos da arte – da forma mais eficiente para as crianças do nosso tempo. Aqui, é importante lembrar que os pequenos do século 21 vivem numa sociedade repleta de referências visuais e, nesse sentido, os ilustradores experimentam um verdadeiro desafio: como fazer com que os desenhos do livro infantil, em conjunção com sua narrativa literária, provoquem encantamento do olhar e a inteligência dessas crianças que já crescem rodeadas por imagens?


Uma das mais recentes interpretações visuais para Alice no País das Maravilhas, o clássico de Lewis Carroll, foi realizada pelo artista plástico Luiz Zerbini. Foto: Reprodução

Ao nos depararmos com produtos complexos e artísticos, começamos a perceber que a ilustração não exige menos do ato de leitura, ao contrário, demanda outro grau de envolvimento do leitor. Afinar a poesia do texto com a da imagem requer atenção, disposição, esforço crítico e sensível. No entanto, grande parte do público está tão afetada pelo entendimento da literatura infantojuvenil como algo menor, que não consegue acreditar que Bili com limão verde na mão, escrito por Décio Pignatari e ilustrado por Daniel Bueno, ou o Livro das perguntas, escrito por Pablo Neruda e ilustrado por Isidro Ferrer, estejam mesmo incluídos nesse catálogo. Quer dizer que o belo é departamento dos adultos e às crianças cabe apenas o simplório?

AVANÇOS TÉCNICOS
Um fator que agrega beleza e variedade ao livro ilustrado contemporâneo é a multiplicidade de estilos e técnicas espalhados pelas páginas. Embora as diversas estéticas sejam fruto, sobretudo, do exercício criativo dos profissionais, a evolução material e tecnológica também colaborou para a melhoria das publicações. No século 15, quando a impressão de livros em escala tornou-se possível com a invenção de Gutenberg, os ilustradores se viram obrigados a limitar seus recursos. Antes disso, no Ocidente, eles já atuavam na criação das chamadas iluminuras – imagens presentes nos manuscritos medievais.

Por mais de quatro séculos, as impressões foram realizadas a partir de matrizes de madeira entalhada – xilogravura – e, posteriormente, em chapas de cobre; técnicas que impunham bastantes restrições à criação de imagens. Apenas no século 19, em plena era vitoriana, é que os livros passam a ser concebidos em cores com uma qualidade razoável, favorecidos pelo surgimento da litografia e da fotografia. Nesse período, a literatura infantil avança em outros aspectos. Sob efeito da Revolução Industrial e com o fortalecimento da burguesia, a sociedade se reconfigura e a atitude em relação às crianças, tratadas até então como meros “adultos pequenos”, também se modifica. O livro destinado a esse público, tal qual compreendemos hoje, com premissas artísticas, formativas e lúdicas, surge nessa época. Naquele momento, no entanto, as publicações refletem o conservadorismo e o convencionalismo das elites; os costumes vão influenciar os seus conteúdos verbais e visuais.


Muitas publicações contemporâneas, como O teatro de sombras de Ofélia, exploram cores mais sóbrias. Imagem: Reprodução

Atualmente, ainda que existam os puristas, é inegável a importância do computador e dos avanços digitais para a ampliação das possibilidades imagéticas nos livros. Não se trata de uma ode desmedida à tecnologia, pois a realização criativa, como frisado anteriormente, é, sobretudo, humana, e o lápis não deverá ser abandonado. Porém, é bastante óbvio que a indústria gráfica superou várias limitações a partir do desenvolvimento técnico. Paralelamente, outros aspectos foram essenciais ao enriquecimento das obras infantis ilustradas. Hoje, passeamos não só por desenhos em tinta acrílica, aquarela, guache, pastéis, lápis de cor e, mais raramente, óleo, mas também por colagens referenciadas pelo Cubismo, por exemplo. Isso porque, ao poucos, o campo foi abraçando experimentalismos, inclusive tornando mais frequente a prática de ilustrações por artistas plásticos.

Um bom exemplo desse diálogo pode ser observado em O fazedor de velhos, de Rodrigo Lacerda, cujas imagens são assinadas pela mineira Adrianne Gallinari. Em seus trabalhos, a artista costuma utilizar tecidos como suporte para desenhos feitos com nanquim, giz de cera e grafite e, no livro, seu traço simples dialoga com a delicada história sobre o amadurecimento do personagem Pedro, que encontra na literatura o caminho para buscar as respostas dos seus dilemas existenciais. Outro projeto inusitado foi o desenvolvido pelo artista paulistano Luiz Zerbini, integrante do coletivo Chelpa Ferro, para mais uma edição de Alice no país das maravilhas. Zerbini possibilitou imagens completamente novas, a partir de maquetes com cartas de baralho. Depois de tudo montado, a partir de recortes, elas foram fotografadas por Julio Calado e todos os efeitos que percebemos resultaram apenas do trabalho de iluminação.

Na contramão dos avanços, parte do público percebe nessas inovações de linguagem um efeito hermético, impossível de ser apreendido pelas crianças. Uma leitura típica de quem subestima a astúcia dos pequenos para sentir e interpretar o visual. Além disso, é uma perspectiva que pressupõe a experiência de leitura como algo uniforme, quando, na verdade, estão em jogo fatores como memória, experiência, expectativa e atenção do leitor, que sempre vão gerar compreensões diversas. Em outras palavras, a criança está apta a preencher os vazios verbais e visuais deixados no texto, à sua maneira, dentro dos seus limites de vivência e olhar criativo. Contrária à percepção de que alguns livros ilustrados complexos são impenetráveis para os menores, a escritora pernambucana Luzilá Gonçalves afirma: “As crianças são muito sensíveis e inteligentes, até mais que os adultos. A imaginação delas é muito fértil e deve ser estimulada, o que nem sempre acontece. Às vezes, os pais e a escola podam essa imaginação”.


A sofisticação das ilustrações de Isidro Ferrer chama a atenção dos
leitores adultos. Imagem: Reprodução

O LUGAR DA IMAGEM
Ao contrário do que pode parecer, nem todas as obras infantojuvenis com imagens são consideradas, stricto sensu, livros ilustrados. A mencionada edição de Alice, com fotos das maquetes de Luiz Zerbini, por exemplo, dentro de uma classificação mais específica, deve ser considerada um livro com ilustração, pois, nesse caso, o texto é predominante e a ocorrência de imagens é pontual. Existem outras variantes, dentro do gênero, que também se aproximam dos chamados livros ilustrados, mas não os são, propriamente. Entre eles, estão os livros pop-up, aqueles que abrigam, entre as páginas duplas, abas e encaixes, permitindo a mobilidade dos elementos e até mesmo um desdobramento tridimensional, e os livros-brinquedos, objetos híbridos, geralmente feitos por materiais variados como pelúcia e plástico. Ambos possuem um papel lúdico importante na educação das crianças, porém integram categorias específicas.

Mas, então, o que seria determinante para definir uma publicação como livro ilustrado? O que obras como O pote vazio (Demi), Onde vivem os monstros (Maurice Sendak) e O teatro de sombras de Ofélia (Michael Ende e Friedrich Hechelmann) apresentam em comum? A especificidade dessa classificação é, justamente, a preponderância dos elementos visuais. Eles são indispensáveis para a compreensão do livro, sobrepõem sentidos e afetam a sua fruição. Não são meramente ornamentais e, em alguns casos, chegam ao extremo de dispensar o verbal – são os chamados livros-imagem. Um nome de destaque nesse segmento é o do húngaro Istvan Banyai, autor das publicações Zoom e O outro lado, nos quais constrói narrativas a partir da variação de pontos de vistas e do exercício de distanciamento e aproximação do olhar.

Também é impossível não mencionar a trilogia da sul-coreana Suzy Lee, formada pelos livros Onda, Espelho e Sombra. Os três partem de temáticas que, por si só, já sugerem uma poética e suas imagens em lápis de cor e carvão estão distribuídas de maneira que sua justaposição nas páginas estabelece interação. A costura da obra se torna quase invisível, tamanha a organicidade da criação com o formato do suporte. Enquanto, em Onda, temos a areia e o mar separados pela divisória do livro, e uma menina diante daquela imensidão desconhecida – espécie de metáfora do encontro com o outro –, em Espelho, o enfrentamento da personagem é com o eu e, visualmente, a artista recorre ao efeito da simetria. Sombra, por fim, brinca com o real e o imaginário, apresentando reflexos fantásticos. Todos eles criam um universo mágico, sem utilizar nenhuma palavra, estimulando a imaginação dos que ainda não sabem ler, mas também convidando os já alfabetizados a produzir suas próprias histórias.


Em obras como O pote vazio, os elementos visuais e verbais possuem a mesma importância para a narrativa. Imagem: Reprodução

O presente, primeiro livro-imagem de Odilon Moraes, é um belo representante dessa produção no Brasil. Abordando aquela que é, talvez, a maior paixão nacional, o ilustrador promove um sensível retrato da nossa relação com o futebol; da forma como nos envolvemos e nos decepcionamos com ele e por ele. Para isso, são utilizadas as cores da bandeira e padrões nacionais. O livro, que também trata de lembranças e expectativas, é predominantemente azul e branco, acolhendo ainda as camisas verdes e amarelas dos tempos de Copa do Mundo.

É fácil perceber que muitos adultos passam os olhos desatentos pelos livros-imagem, interpretam suas narrativas e os fruem rapidamente. Quando estabelecemos uma relação prioritária com a palavra, em geral, passamos a nos relacionar pouco com as ilustrações: atropelamos as expressões dos personagens e as peculiaridades do cenário, ignoramos as formas, cores e detalhes. Para as crianças, entretanto, esses componentes são caros; elas constroem sentidos mobilizando todas as informações apresentadas, como se juntassem peças de um quebra-cabeça. Mas, ao final, a decodificação – não só do visual, mas também do verbal – nunca lhes parece suficiente ou completa, e elas precisam ler de novo, e de novo, e de novo, as mesmas histórias.

DIÁLOGO COM O TEXTO
Em Seis propostas para o próximo milênio, Ítalo Calvino relembra a importância das ilustrações para o seu empenho criativo: “A leitura das figurinhas sem palavras foi, sem dúvida, uma escola de fabulação, de estilização, de composição da imagem”. Na nossa tentativa de facilitar o entendimento do mundo, separamos conceitos. Esquecemos, dentre outras coisas, que a palavra começou na imagem – desde as pinturas das cavernas, buscávamos comunicação e passamos por várias estruturas icônicas, até criarmos um sistema alfabético eficiente. Essas linguagens não devem ser pensadas em um movimento de disputa, pois ocupam lugares específicos e somam sensibilidades.


A trilogia da sul-coreana Suzy Lee estimula as crianças a construir as próprias
histórias, a partir, unicamente, dos desenhos. Imagem: Reprodução

No livro ilustrado, isso é evidente. Podemos notar que, independentemente do que optamos ler primeiro – imagem ou palavra –, um gera expectativa sobre o outro. Além disso, o mesmo princípio de que o verbal deixa brechas para serem preenchidas pelo leitor também vale para a dimensão visual. Como, em geral, as histórias são escritas e, posteriormente, recebem as imagens, a qualidade necessária a um bom ilustrador está diretamente associada a duas competências: a primeira é a de ser um bom leitor, para poder inserir nessas lacunas textuais novas camadas de sentido; a segunda é a de fazer com que essas novas camadas não signifiquem uma redundância, ou seja, captar estilo e tom da história para criar contrapontos interessantes, sem chegar ao incoerente.

Os textos poéticos e fantásticos são, costumeiramente, apontados como os preferidos pelos profissionais da imagem. Para o ilustrador André Neves, a melhor experiência de criação são aquelas realizadas a partir “dos textos com narrativa aberta, que deixam o imaginário livre, com situações fantásticas e que proporcionem a sensação de sonho”. Essa mesma qualidade da narrativa é apreciada por Renato Alarcão, que aponta preferência pelos textos que “abrem portas para sair um pouco da realidade objetiva, desse mundo regido por regras de perspectiva e lei da gravidade”.

Se estamos defendendo o valor equivalente do verbal e do visual nos livros ilustrados, partindo da compreensão de que essas obras só podem ser apreendidas pelo diálogo sem limites entre esses dois eixos de criação, chegamos a um ponto delicado desse universo, que é a questão da autoria. Embora estudiosos defendam que, nesse caso, ambos são autores – escritor e ilustrador –, esse entendimento ainda não está fortemente disseminado. Alarcão acredita que a dificuldade para modificar esse pensamento começa nas próprias editoras: “As editoras não me parecem ter pelos ilustradores o mesmo respeito e consideração que têm pela figura do escritor. Às vezes, parece mesmo que elas nos vêm como fornecedores, alguém cujo trabalho entra na mesma planilha onde estão os custos de papel e impressão”.


O trabalho de Ziraldo é uma referência para grande parte dos ilustradores brasileiros. Imagem: Reprodução

Por outro lado, esse reconhecimento da coautoria também deve vir dos consumidores desses produtos. “Mas ainda falta muito para atingirmos um público leitor de imagens que reconheça a importância das ilustrações na construção de um imaginário que vai além das palavras”, opina André Neves.

REFERÊNCIAS
Quando questionamos os ilustradores contemporâneos sobre um livro que mereça atenção especial por sua qualidade artística, eles divagam entre inúmeros exemplos, mas existe uma publicação nacional que dificilmente fica de fora: Flicts. O livro de Ziraldo, com sua simplicidade imagética, apresenta uma poesia muito sutil e particular, ao contar a história de uma cor rejeitada. O autor, aliás, nos legou uma série de personagens memoráveis, como o Menino Maluquinho e o Pererê, além de ser o responsável pela parte visual de livros escritos por figuras célebres, como História de dois amores (Carlos Drummond de Andrade), Noções de coisas (Darcy Ribeiro), Chapeuzinho amarelo (Chico Buarque) e O fazedor de amanhecer (Manoel de Barros).

Atualmente, um dos nomes mais celebrados no campo da ilustração é o de Odilon Moraes. Em um artigo intitulado O projeto gráfico do livro infantil e juvenil, ele compara: “Da mesma maneira que um projeto de uma casa não se limita a uma ideia de casa, mas, sim, à ideia de um morar dentro de uma forma particular de disposição de espaços e ambientes, assim também o projeto gráfico de um livro propõe seus espaços, compostos por textos e imagens, e constrói um ambiente a ser percorrido”.


Muitos livros ilustrados, de alta qualidade, não estão mais disponíveis no mercado nacional, como Princesas esquecidas ou desconhecidas. Imagem: Reprodução

Em seus trabalhos, essa preocupação é patente, como vemos nos livros premiados Pedro e Lua e Ismália. Esse último, esgotado na editora, é resultado de um ousado projeto de adaptação da poesia do simbolista Alphonsus Guimaraens para o formato do livro ilustrado. Fisicamente, o produto se aproxima do artesanal, com uma capa revestida de tecido e as páginas unidas em formato de sanfona. O texto do poeta mineiro é combinado com aquarelas em tons de marrom e a dinâmica de leitura brinca com a oposição céu e mar, proposta nos versos que são distribuídos explorando o eixo vertical da folha de papel.

De forma geral, os ilustradores mais autorais e marcantes são aqueles que internalizam a seguinte recomendação da poetisa russa Marina Tsvetaeva: “Não devemos explicar nada a uma criança, é preciso maravilhá-la”. A artista tcheca Kveta Pakovscá compreende bem essa premissa. Em seus trabalhos, como na recente edição de João e Maria, da Cosac Naify, ela abusa da saturação de cores e aposta em uma espécie de surrealismo geométrico, que é próprio do seu estilo, fortemente influenciado por artistas como Kandinsky e Miró. No Brasil, O reizinho das flores é uma de suas publicações mais famosas.

As obras do alemão Wolf Erlbruch também são extremamente pessoais e devem ser lidas minuciosamente. Em geral, suas narrativas exploram temáticas existenciais, como é possível observar em A grande questão e em O pato, a morte a tulipa: o primeiro tenta nos responder a pergunta “por que viemos ao mundo?”, enquanto o segundo parece afinado com o drama do “para onde vamos, afinal?”. Seus desenhos, contudo, imprimem certo humor e leveza a esses assuntos essencialmente densos.


A artista tcheca Kveta Pacovská vem desenvolvendo um dos trabalhos
mais autorais no campo da ilustração infantil. Imagem: Reprodução

Menos conhecida, porém igualmente criativa, é a produção da francesa Rebecca Dautremer. Um dos seus livros mais populares, Princesas esquecidas ou desconhecidas..., com texto de Philippe Lechermeier, foi lançado, originalmente, pela editora espanhola Edelvides e ganhou versão em português pela editora Salamandra, mas essa última já está fora de circulação. As imagens delicadas de Dautremer são exemplares do bem-sucedido uso de texturas, luz e sombra, como também podemos ver nas obras Enamorados e Cyrano.

Em um apanhado dos grandes expoentes da ilustração infantojuvenil, não se pode deixar de mencionar o americano Shel Silverstein, cuja vivência do período da contracultura, quando militou a favor do desarmamento e em atenção às questões ecológicas, está fortemente presente em seus livros. Entre suas publicações mais famosas está A árvore generosa, com tradução de Fernando Sabino, que explora não só as questões ambientais, mas uma problemática maior de responsabilidade social e postura cidadã.

A quantidade de ilustradores criativos, e que desenvolveram uma estética pessoal, estimulando uma postura experimental das novas gerações, é enorme. Vale lembrar, entretanto, que a formação desse profissional também parte de outras referências, como indica André Neves: “Ainda mantenho um olhar forte nos artistas que fizeram parte do meu universo e formação. Principalmente, os pintores pernambucanos que terão meu encantamento eterno: Samico, Reynaldo Fonsêca, Cícero Dias, Romero de Andrade Lima, Badida, Abelardo da Hora, entre outros”. 

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