Formado em 1977, em Manchester, o Fall, apesar da constante troca de membros (só o vocalista Mark Smith tem se mantido na banda desde o começo), tem uma carreira prolífica: 28 discos de estúdio. O Fall é um caso típico de banda que alcançou mais respeito do que sucesso, tendo influenciado uma leva de bandas alternativas e a segunda safra do pós-punk inglês, uma geração que tocava como o Fall, só que cinco ou 10 anos depois.
Maior banda de rap no país, Racionais MC’s promete cantar inéditas. Foto: Divulgação
Engrossam a lista de atrações os americanos do The Sea and Cake e o paulista Rômulo Fróes. O primeiro vem divulgar seu quarto álbum, Um labirinto em cada pé. Espécie de sambista moderno, Fróes vem crescendo desde seu penúltimo álbum, o elogiado No chão sem chão, em que se aproximou mais de outros ritmos, chegando a flertar com o rock. O cantor é apontado como um dos pensadores da cena atual. Já o The Sea and Cake traz seu post-rock, e deve se sentir em casa, uma vez que o festival é conhecido por trazer bandas do gênero, como o Tortoise (em 2006). Os americanos também têm material novo, The moonlight butterfly, disco com ecos de jazz.
Passando à principal atração nacional (Racionais), o festival, que já tinha ousado trazendo um rapper promissor, no ano passado, foi mais longe agora. Já virou brincadeira entre jornalistas, músicos, produtores e o público em geral adivinhar a grade do evento. Dessa vez, ninguém acertou. Talvez por se tratar de um grupo avesso ao hype. Só com Sobrevivendo no inferno, arrasa-quarteirão de 1997, venderam 1,5 milhão de cópias, recusando maciçamente convites para televisão, numa época, vale lembrar, em que a TV ditava o que era tendência.
Talvez o tenham feito em retaliação às muitas críticas que receberam da mídia, na qual foram rotulados de sexistas, violentos e até de “irracionais”. O desprezo de parte da crítica foi inversamente proporcional à resposta do público, como provaram as vendagens milionárias de Sobrevivendo no inferno. A banda, que se manteve em uma gravadora própria e independente, a Cosa Nostra, deu origem a um culto tão fiel e radical entre seus fãs quanto a própria postura dos MCs. Apesar das idiossincrasias da banda, a produtora do Molotov Ana Garcia garante que a negociação com os paulistas foi tranquila. E adianta: devem tocar músicas inéditas, do álbum previsto para 2012.
Ainda sem título, o suposto disco de inéditas sucede o duplo Nada como um dia após o outro dia (2002). O CD tem momentos de brilhantismo, apesar de não ter repetido o fenômeno deSobrevivendo. Desde então, o grupo só tem lançado coletâneas, mas continua em atividade, lotando ginásios Brasil afora. Recentemente, aqueles dois álbuns de estúdio foram contemplados numa lista de melhores da história, entre os brasileiros. Pode ser um acerto de contas com o tempo. Mas os Racionais sempre fizeram pouco caso de premiações. Quando não, fizeram polêmica mesmo.
Como na premiação da MTV, o Video Music Brasil, de 1998. No palco, os Racionais mandaram ver com Diário de um detento, cujo clipe, um épico de oito minutos, bombava naquele canal, à época. Depois de uma performance impecável, Mano Brown soltou a pérola: “Minha mãe já lavou roupa de muito desses boys que tão aqui (na cerimônia)”. Críticos? Como atesta Brown em Vida loka, Deus, Ele, sim, é o juiz.
THIAGO LINS, repórter especial da revista Continente.