Curtas

Trinca de Ases + Tribalistas

Dois novos trabalhos de trio estão em cena no Brasil este mês: 'Trinca de ases', com Gal, Gil e Nando Reis, e o segundo álbum dos Tribalistas, com dez faixas

TEXTO Mariana Filgueiras

15 de Agosto de 2017

Show 'Trinca de ases, com Nando Reis, Gal e Gil, estreou em São Paulo dia 4/8

Show 'Trinca de ases, com Nando Reis, Gal e Gil, estreou em São Paulo dia 4/8

Foto Henrique Alqualo/Divulgação

O baralhão da Música Popular Brasileira se dividiu em duas mãos cheias este mês. Numa delas, a inédita Trinca de ases, formada por Gilberto Gil, Gal Costa e Nando Reis, que estreou show homônimo em São Paulo no dia 4 de agosto, dando início a uma turnê que vai passar por capitais brasileiras até o fim do ano – no Recife, dia 11 de outubro, no Itaipava Armazém 14.

Na outra mão, uma trinca de naipes distintos, já velha conhecida do público: os Tribalistas, grupo formado por Arnaldo Antunes, Carlinhos Brown e Marisa Monte, encontro que fez muito sucesso em 2002 (quem não cantarolou “Já sei namorar?”). O trio ressurgiu na noite do dia 10 de agosto, numa apresentação surpresa transmitida via internet, mostrando quatro canções que anunciavam o lançamento do disco novo, o que deve acontecer até o final de agosto.

Nessa partida imaginária, que podia muito bem ser uma cacheta ou um pifé, dependendo da região do país (um jogo tradicional de baralho que tem como objetivo formar trincas), quem ganha é o público. Juntando as três canções inéditas do Trinca de Ases e as dez dos Tribalistas, são pelo menos 13 músicas novas para deleite dos fãs – um naipe inteiro, aliás.

O SHOW
No show que reúne, pela primeira vez no palco, Gilberto Gil, Gal Costa e Nando Reis, assistido pela Continente na apresentação do Rio de Janeiro, na última sexta-feira (11/8), a primeira surpresa é a parceria entre Gil e Nando, intitulada justamente Trinca de ases

Letra de Gil e melodia de Nando, é uma festiva referência à canção Os mais doces bárbaros, que abria o show Doces Bárbaros, projeto de 1976 que reuniu Gil, Gal, Maria Bethânia e Caetano Veloso. Feita especialmente para o show, ela apresenta os três: Nando é o menino “impetuoso e viril”, Gal, a “moça”, e Gil, “o rapaz maduro calejado pela idade”. “Três mosqueteiros, três patetas, três poetas da canção”, cantam juntos assim que sobem ao palco.

Na sequência, outra inédita de Nando Reis, Dupla de ás, que também faz alusão ao projeto, na qual ele e Gilberto Gil protagonizam uma das cenas mais bonitas do espetáculo: os dois tocam juntos, espontaneamente, como velhos amigos quese estivessem “tirando um som na laje”. O cenário do show, com três pipas voando, e a formação low-fi da banda dão a sensação de um ambiente aéreo, mas aconchegante. Uma jam session num terraço imaginário.

Num show repleto de sucessos fáceis, como Refavela, Baby, Esotérico e All Star (o coro paralelo que criaram com a palavra “Laranjeiras” certamente divertiria a intérprete consagrada da canção, Cássia Eller), o único deslize foi a pouca familiaridade de Gal Costa com o repertório de Nando Reis: as músicas Espatódea e O segundo sol foram lidas por ela num teleprompter na apresentação do Rio, no KM de Vantanges Hall.

Mas logo viria a terceira canção inédita a desfazer o desconforto do público: anunciada com reverência por Nando, a belíssima Tocarte, parceria dele com Gil. “Tocar-te assim como se toca música, tangendo as cordas, dedilhando as teclas, metendo as mãos na pele do tambor/ Tocar-te assim como se toca samba, a perna bamba, o pulso no compasso, e aquele abraço para trazer calor”.

“Não queríamos que fossem apenas apresentações de canções do nosso repertório. Queríamos encontrar sonoridades novas”, disse Nando Reis no show carioca. “Por isso juntamos nossos trapos, nossos all stars azuis. E pretos”, brincou Gilberto Gil, mostrando o próprio tênis.

O momento “Fora Temer” do show – já que agora todos parecem ter um – ficou por conta da canção Nos barracos da cidade, de Gilberto Gil. Quando ele canta Gente estúpida, gente hipócrita, o público não perdoa a deixa e começa a gritar.

Há outros pontos altos da apresentação, como quando Nando Reis começa a interpretar Retiros espirituais, outra pedrada do cancioneiro de Gilberto Gil. “Somos o que sentimos”, diz ele ao contar de sua admiração pela música.

“SOMOS CAPITALISTAS E COMUNISTAS, SOMOS UM SÓ”
A frase de Nando Reis dialoga com um verso emblemático do trabalho novo dos Tribalistas, anunciado na mesma semana num pocket show online: “Somos um só”, cantam Arnaldo Antunes, Marisa Monte e Carlinhos Brown na canção inédita Um só, já disponível nas plataformas de streaming. “Somos capitalistas e comunistas, somos patrão e anarquistas, a justiça e o ladrão”, diz outro trecho da letra, que evoca um apaziguamento coletivo.

É uma das dez inéditas que serão lançadas pelo trio até o fim do mês, quando lançam o álbum novo e DVD, alem de um especial a ser exibido pela TV Globo no dia 31 de agosto. Até o momento, quatro já foram apresentadas: Um só (que inclui, na autoria coletiva, o músico Brás Antunes), Diáspora, canção sobre os temas que cercam os refugiados, com citações de Sousândrade e Castro Alves (respectivamente O Guesa e Vozes d’África); Fora da memória, com participação de Pedro Baby e Pretinho da Serrinha; e a curinga Aliança, uma canção de amor.

“Não é uma volta dos Tribalistas, porque os Tribalistas nunca foram, sempre estivemos por aí. Parece que o repertório convocou a gente para cantar junto de novo”, diz Arnaldo, na apresentação online do grupo. Marisa deixa escapar que pode vir mais por aí: “A gente tem até mais músicas juntos, mas essas dez pareciam mais com todo o grupo”. Cartas na mesa, é só o público apostar.

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