Curtas

Revoredo

Novo álbum do pernambucano Alexandre Revoredo viaja por vários ritmos

TEXTO Augusto Tenório

05 de Maio de 2020

Nascido em Garanhuns, Alexandre Revoredo atua na música desde 1996

Nascido em Garanhuns, Alexandre Revoredo atua na música desde 1996

Foto Breno César/Divulgação

[conteúdo na íntegra | ed. 233 | maio de 2020]

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Alexandre Revoredo
é amigo da música há mais de duas décadas, fazendo dessa arte o seu ofício desde 1996. Ainda assim, pode-se dizer que seu álbum Revoredo é uma apresentação dele ao mundo. Quase como um renascimento artístico pessoal, as canções do disco, lançado no final de março, são permeadas de vontade afirmativa e força, sentimentos carregados sutilmente por uma voz calma, que guia o ouvinte por uma experiência que se assemelha a uma viagem para um lugar conhecido: seu interior, seja o geográfico ou o psicológico. 

Produzido por Juliano Holanda, Revoredo é um trabalho que se nutre de variadas formas de se contar uma história. Fazem parte dessa narrativa musical o lirismo e a poesia, áreas dominadas por Alexandre, dono de uma trajetória artística que caminha também pela literatura e pelo teatro. No álbum, sua voz se une às de pessoas como Martins, PC Silva, Gabi da Pele Preta e Jr Black. “Esse disco é o resultado de quase 50 mãos, entre músicos, diretores, diretores de arte, fotógrafos, produtores etc. É uma coisa construída muito colaborativamente, com várias mãos e várias visões. Eu, sozinho, com um violão e minhas músicas não é um disco. Isso ter funcionado dessa forma me deixa muito feliz e me faz acreditar na humanidade”, comenta com graça Alexandre Revoredo, em entrevista à Continente.

As participações funcionam bem e o trabalho consegue manter a alma do artista, que promove uma jornada lúdica pelos ritmos do interior pernambucano, tendo o músico nascido em Garanhuns. “No período entre 2011 e 2016 eu andei muito pelo Sertão, que tem uma poesia popular muito forte, o que me influenciou bastante, trazendo essa questão da métrica, da rima e da poesia. E o lançamento do meu álbum demorou porque eu estava procurando algo que permitisse que eu mostrasse minha capacidade, que oferecesse uma mostra do que de fato é a minha música e a minha interpretação do mundo.”

Sou pés e pegadas, afago e navalha
Caminho sereno nas bordas do mundo
Meu canto é a força, meu tom é a verdade
Meu verso é clareira de um poço sem fundo

Os versos acima são da canção Sou. Foi a última a ser produzida, como uma amarração da mensagem, mas que foi colocada, não por acaso, como a abertura do álbum. É a faixa que mais traduz o espírito desse artista que, apesar da carreira longínqua, enfrentou percalços diversos para esse lançamento. Aprovado no Funcultura de 2017, após anos de tentativas, o disco foi o primeiro de um artista do Agreste a ser contemplado pelo edital. Por causa da dificuldade de sincronização de agendas, a produção demorou mais que o previsto e, devido ao prazo para a prestação de contas, teve que ser lançado em março, em plena pandemia e intensificação do isolamento social por causa do novo coronavírus.

“Foi uma coincidência triste e feliz. Triste porque, claro, é uma pena todo mundo ter que passar por isso. Mas feliz porque enxergo a arte se fortalecendo e fortalecendo a saúde mental das pessoas, curando-as nesse momento difícil… Mas, claro, temos que falar e refletir sobre como nos últimos anos a arte foi marginalizada e como, agora, as pessoas passam a consumi-la intensivamente, abrindo mais espaço para o entendimento de sua importância”, pontua Alexandre Revoredo.

De forma semelhante a Descompondo o silêncio, novo álbum de Academia da Berlinda lançado em meio à pandemia, Revoredo chega como um alento aos que estão em casa pensando em saídas diante da fragilidade causada pelo sentimento de impotência e pela frustração com os caminhos que a humanidade está tomando. Também partindo da naturalidade do viver, com seus sabores e dissabores, o disco traz a mensagem de força, calma e paciência em um momento em que muitos estão com os olhos e ouvidos mais abertos.

“Tenho recebido muitos depoimentos positivos sobre o trabalho. Isso era algo que eu não esperava durante a construção do processo. Quando essa mensagem do álbum chega nas pessoas, tem batido de forma especial. Acho que, depois desse momento de crise, vai haver uma mudança positiva nas pessoas, com revisões de comportamentos e da sociedade. Essa ‘busca histérica por uma bola vermelha’ precisa parar”, opina o artista, parafraseando a canção Lá fora, da Ave Sangria.

Questionado sobre se o seu otimismo é natural, a resposta de Revoredo pareceu ser tão óbvia que tirou este jornalista pessimista da posição de observador: “É claro! Isso é um grande recado do universo. Eu sou esperançoso, requer otimismo se tornar artista e se jogar no mundo! Quem é o doido que quer ser artista? Quem é o doido que quer ser jornalista?  (Risos.) Somente quem entende sua função de fazer as pessoas refletirem sobre sua realidade, não somente com entretenimento e replicando um modelo que sabemos que é falido. Estamos trabalhando para tornar a sociedade melhor”.

A turnê de Revoredo está planejada para acontecer no segundo semestre, logo após o arrefecimento da pandemia. O álbum está disponível nas plataformas de streaming e o disco físico deve começar a ser vendido e distribuído em breve.



VICTOR AUGUSTO TENÓRIO é jornalista em formação pela Unicap e estagiário da Continente.

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