“[Elias] é uma espécie de anatomia da elite masculina brasileira, uma elite absolutamente violenta e absolutamente tóxica. Ao mesmo tempo, ele é uma espécie de autópsia, porque é uma elite que está – se Deus quiser e a força da gente também – em absoluta decomposição”, afirmou Aïnouz.
Espelho de valores conservadoristas e ultrapassados, o personagem de Assunção vive em completa dissonância com os demais presentes em tela. Seja através da violência física, sexual ou psicológica, Elias parece desconhecer outro meio que não o ódio, para seguir sua vida. Ele é o grande detentor do motel e também dos destinos de seus empregados.
Heraldo, por sua vez, vem como a representação de uma nova geração, capaz de desafiar os valores tradicionais, ainda que também sofra com suas amarras. O segundo ato de Motel Destino estipula a conexão de força que vem sendo desenvolvida entre Heraldo e Dayana através de cenas de intimidade sexual e confidências sobre seus passados. Apesar de por vezes tais cenas soarem deslocadas, é possível sentir a união dos personagens na busca pela verdadeira liberdade diante do vortex que é o motel.
Na grande tela, o desejo identitário dos personagens resplandece. Através da dualidade entre sexo e violência, Motel Destino constroi uma história com traços naturalistas que cativa justamente pela luta por ser livre travada pelo protagonista. Luta essa, que sendo tão individual, é também de todo ser humano.
LAURA MACHADO, jornalista.