“Mickey 17” faz Robert Pattinson brilhar
O novo longa-metragem de Bong Joon Ho, vencedor do Oscar 2020 por “Parasita”, chega nesta quinta-feira (6) aos cinemas de todo o Brasil
TEXTO Laura Machado
06 de Março de 2025
Na trama, Robert Pattinson interpreta Mickey 17 e Mickey 18
Foto Warner Bros./Divulgação
No ano de 2020, o longa-metragem Parasita, dirigido pelo cineasta sul-coreano Bong Joon Ho, foi o grande vencedor do Oscar. Cinco anos depois, o mais novo filme do diretor, Mickey 17, chega aos cinemas de todo o Brasil nesta quinta-feira (6). Explorando o drama e a comédia no gênero de ficção científica, Bong criou uma obra cinematográfica que se mantém fiel a Mickey7, livro escrito pelo autor estadunidense Edward Ashton.
Na trama do filme, o mundo que conhecemos hoje passou por mudanças grandiosas e cada vez mais pessoas decidem tentar a vida no espaço e em outros planetas. Assim, envolto em uma situação desagradável e desejando deixar a Terra, Mickey Barnes se inscreve para um trabalho como "prescindível" em uma colônia humana que vai partir para o espaço sob o comando de um político. Esse árduo trabalho é, literalmente, o de morrer. De novo e de novo.
Com os avanços na ciência e na clonagem humana, o trabalho de Mickey consiste em passar por situações extremamente desagradáveis e desconfortáveis para que, cada vez que ele morrer, um grupo de cientistas possa estudar e analisar cada vez mais a fundo o corpo humano. Depois de morto e ter o corpo explorado pela ciência, uma máquina reimprime Mickey novamente. Dessa maneira quase imortal (ou extremamente mortal) de viver, o longa acompanha a décima sétima versão do protagonista, isto é, Mickey 17.
Diferentemente de seu trabalho em Parasita, porém semelhante aos seus filmes anteriores como Okja e Snowpiercer, Mickey 17 tem uma face clichê hollywoodiana mais exarcerbada, mas isso não o impede de ser uma obra engraçada e crítica ao sistema capitalista (algo presente em praticamente todas as suas obras).
O principal destaque do filme é, sem dúvidas, a atuação de Robert Pattinson, que estrela como Mickey 17 e Mickey 18. Começando cedo na atuação, o britânico vem crescendo de maneira merecida aos olhos da indústria cinematográfica e, se antes atuava em obras especificamente voltadas para o público adolescente, hoje ele mostra sua capacidade de multiplicação e desenvolvimento em personagens que requerem mais profundidade.
Apesar da personalidade de Mickey 17 ser levemente boba e desastrada, a escolha de Bong Joon Ho em ter Pattinson como o ator principal se justifica perfeitamente quando o espectador se depara com mais de um Mickey simultaneamente em cena. A partir desse momento, é preciso de alguém capaz de encapsular diferentes características e maneiras de ser em corpos que se repetem. Assim, Robert brilha com interpretações sagazes e envolventes.
Ao seu lado, atores e atrizes como Mark Ruffalo (Hulk, Pobres criaturas), Toni Collette (Hereditário, Pequena Miss Sunshine) e Naomi Ackie (Pisque duas vezes, Star Wars: a ascensão Skywalker), também complementam muito bem a obra.
Mickey 17 é uma obra interessante de Bong Joon Ho e retoma uma face já conhecida do diretor, que parece certo do que deseja ser no mercado do cinema, sempre trazendo no DNA de seus filmes questões pulsantes a respeito da sociedade. Através de uma clara e inteligente demonstração das falhas do nosso sistema, como é o caso de Parasita, ou através da relação do ser humano com a flora e a fauna que os cerca, como em Okja, ou através de uma visão política acerca do mundo inexplorado do espaço, como em Mickey 17, Jong Ho se deleita em criar universos complexos que levam ao desconforto e ao diálogo.