Mais um registro de Thompson presente na mostra é o vídeo com a entrevista informal que ele fez com o artista em 1981, intercalada por outras imagens de apresentações da mesma época. Há ainda trechos de filmes como, Nordeste: Cordel, Repente e Canção (1975), de Tânia Quaresma; A Noite do Espantalho (1974), de Sérgio Ricardo, em que Alceu, no início da carreira musical, destacou-se também como ator, e A Luneta do Tempo (2014), dirigido pelo próprio artista.
A exposição apresenta, também, material desconhecido do grande público, a exemplo da gravação de algumas músicas do show que Alceu Valença e Jackson do Pandeiro fizeram juntos dentro do Projeto Pixinguinha, percorrendo o país em 1978. Há coisas que surpreenderam até o próprio artista pernambucano. “Houve uma pesquisa grande, incrível. Inclusive tem coisas do exterior, que eu não me lembrava, como um vídeo em que eu e Paulinho Rafael estamos tocando para a TV francesa em 1979", disse o cantor, em entrevista à Continente, na quarta-feira (17).
"Aqui tem um material grande. Minha mãe tinha um acervo meu. Eu sou desorganizado, mas tudo que acontecia, que saía no jornal, na TV, eu dizia 'Manda para mamãe, porque eu vivo na estrada, não dá para ter um acervo meu'. Então, é a primeira vez que eu vejo muita coisa aqui que eu não lembrava”, completou o compositor, na Casa Estação da Luz, onde chegou de viagem do Rio de Janeiro, onde mora, para participar da inauguração apenas para convidados.
Entrada da exposição na Casa Estação da Luz.
Foto: Hannah Carvalho
Alceu Valença, que estava sendo apresentado à mostra nesse dia, afirma que não participou do processo de seleção do material da exposição, que ficou a cargo do curador Rafael Todeschini. “O título desta exposição traz a geografia, mas não como mero recurso retórico, para celebrar a obra do genial Alceu Valença e os seus mais de cinquenta anos de carreira. A começar pelo Nordeste, que é, antes de tudo, uma direção geográfica, mas aqui se insere como uma consciência íntima da sua produção artística”, explica Todeschini.
“A mostra tem seis salas. Então, por exemplo, com o recorte geográfico, a primeira apresenta o conceito", afirma o curador. "Nela, você vai ouvir a música A briga do cachorro com a onça, da banda de Pífanos de Caruaru. Segundo Alceu, é uma das primeiras formações musicais dele. Era uma música muito tocada. A sala dois, logo na entrada, começa com a casa, a réplica que Aline Feitosa fez, que é onde Alceu cresceu, morou até os nove anos de idade, lá em São Bento do Una. Tem o período no Recife e em Harvard... Cada lugar vai moldando ele", descreve.
O designer, que também participou da montagem do filme A Luneta do Tempo (2014), esteve, nos últimos dois anos, à frente da equipe de pesquisa para a mostra, revendo o material publicado sobre o artista a partir dos anos 1970 até o livro Pelas Ruas que Andei, uma biografia de Alceu Valença (Cepe Editora), de Julio Moura, lançado em 2023.
Alceu Valença com o curador Rafael Todeschini.
Foto: Hannah Carvalho
“O trabalho de pesquisa foi tão aprofundado e teve uma parte de ir atrás dos materiais que eram citados, mas que ninguém tinha informação sobre veículos de imprensa e datas. E tem essa amarração audiovisual também, além da imagem que é mais imediata. Tem uma consistência em relação ao conteúdo que está sendo exibido, com uma seriedade de contar uma história sem ser superficial, apenas com boas fotos e amarração”, analisa Erika Martins, diretora de arte da exposição.
A mostra reúne o acervo fotográfico pessoal do artista, assim como fotografias de Cafi, Carlos Horcades, Léo Aversa, Mário Luiz Thompson, Tânia Quaresma e Toinho Melcop. Estão expostas também obras de Bajado, Getulio Maurício, J. Borges, Marcos Cordeiro, Marisa Lacerda, Sérgio Lemos, Sérgio Ricardo, Véio e Wellington Virgolino e Aline Feitosa.
Tela de Marisa Lacerda, capa do Maracutus, baques e ladeiras (1994).
Foto: Hannah Carvalho
A exposição marca uma mudança na rotina do casarão. “Agora ele vai ser um equipamento permanente e aberto de terça a domingo. Antes, era um equipamento que só abria em dias pontuais, quando existia alguma atividade cultural”, afirma Natália Reis, sócia-gestora da Casa Estação da Luz. A ideia é transformá-lo em espaço de referência e visitação.
“Essa é a primeira exposição de grande monta da Estação. Na verdade, essa casa nasceu para ser um centro de cultura. Ela já tinha, em seus eixos de programação e pensamento, a abertura dessa exposição, que, agora, terá a duração de quatro meses. Mas a ideia é que esse conteúdo vá se renovando e se atualizando”, afirma Bruno Albertim, jornalista e curador do espaço. “A ideia é que seja uma exposição permanente”, complementa Natália. Permanente como Alceu.
SERVIÇO
Alceu Valença: Uma Geografia Visceral Nordestina
Onde: Rua Prudente de Morais, 313. Carmo, Olinda
Quando: De 18 abril até 18 de agosto. Visitação de terça a sexta-feira, das 10h às 17h; aos sábados e domingos, das 10h às 14h
Quanto: R$ 20 (inteira) e R$ 10 (meia), à venda no Sympla e no local