Resenha

"A verdadeira dor" na busca por si mesmo

O novo longa-metragem dirigido por Jesse Einsenberg chega aos cinemas brasileiros nesta quinta-feira (30) e conta com duas indicações ao Oscar 2025

TEXTO Laura Machado

30 de Janeiro de 2025

Jesse Eisenberg e Kieran Culkin interpretam os primos David e Benji

Jesse Eisenberg e Kieran Culkin interpretam os primos David e Benji

Foto Divulgação

Abraçando a melancolia da comédia e o humor do drama, o longa-metragem A verdadeira dor chega aos cinemas brasileiros nesta quinta-feira (30). Dirigido e estrelado por Jesse Eisenberg, o filme conta com duas indicações ao Oscar 2025 nas categorias de Melhor Roteiro Original (para Eisenberg, que, além de dirigir, também roteirizou e produziu o filme) e Melhor Ator Coadjuvante (Kieran Culkin). 

Na obra, David (interpretado por Jesse) e Benji (Kieran) são primos que decidem viajar para a Polônia com o intuito de honrar a vida e o legado deixado pela avó, uma mulher judia que sobreviveu aos campos de concentração e fugiu para morar nos Estados Unidos. Acompanhados por um guia e singular grupo turístico, os dois homens se conectam com a história dos judeus na Polônia ao mesmo tempo que enfrentam as desconexões entre si mesmos. 

Cenas bonitas mostram a arquitetura do país e diante daquelas paisagens centenárias, o espectador é convidado a observar os personagens como quem observa um quadro, com atenção aos detalhes em busca do belo. 

David é um personagem idêntico a muitos outros já interpretados por Jesse Eisenberg: um homem meio nerd, introspectivo e sem jeito para relações interpessoais. Apesar de saber interpretá-lo com maestria, o personagem não carrega em si nenhum brilho distinto que o torne mais interessante do que os demais Davids aos quais o ator deu vida. 

O brilho mesmo, está totalmente em Benji. Ele é um homem do tipo alma da festa, extrovertido, empolgado com as pessoas e suas histórias, pronto para escutar, aconselhar e ser verdadeiramente um amigo. Por outro lado, Benji é alguém explosivo, que se fecha totalmente quando escuta uma palavra que não gostaria, é um homem extremamente sensível ao mundo e suas dores, quase engolindo-as de uma vez só e tomando para si todas as mazelas do mundo. 

Destaque nesta temporada de premiações, Kieran Culkin é o intérprete do tumultuoso Benji, Indicado ao Oscar de Melhor Ator Coadjuvante, ele verdadeiramente atua através de minúcias, permitindo ao seu personagem uma face realista, ainda que exagerada em alguns momentos, de um homem que dói de dentro para fora e não sabe lidar com as emoções.

É com delicada ternura que A verdadeira dor lida com seus personagens e suas jornadas por entre a história que eles conhecem ao longo do passeio. Apesar de, em alguns momentos, a obra soar quase mecanizada demais, segue sendo uma bonita experimentação acerca do luto e das dores dentro de cada indivíduo. 

Simples, porém efetiva, a trama que se desenrola no filme de Einsenberg é um exemplo de como o cinema é capaz de desencadear emoções reais através de sua vigorosa forma de retratar o mundo. Sem muitos arrodeios, permitindo ao espectador rir com seus personagens e sentir vergonha por seus momentos embaraçosos, ao mesmo tempo em que demonstra sensibilidade, assistir A verdadeira dor é, também, descobrir um pouco mais sobre as angustias de dentro de si. 

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