A poesia popular de PC Silva
Cantor e compositor pernambucano de Serra Talhada lança "Me dê notícias do universo", segundo disco de sua carreira, em que mescla diversas referências musicais
TEXTO Marina Suassuna
21 de Fevereiro de 2025
Foto Sidarta/Divulgação
A poesia popular do Sertão do Pajeú ganhou novos contornos desde o dia 18 de outubro, quando o disco Me dê notícias do universo, do pernambucano PC Silva, entrou nas plataformas digitais. Com produção musical de Juliano Holanda, o álbum vem sendo considerado uma versão mais festiva e vibrante do artista sertanejo, que, desta vez, mescla suas origens com referências e ritmos do mundo, a exemplo do jazz e da lambada.
Após estrear o trabalho na Casa Estação da Luz, em Olinda, no final de 2024, além de circular com o novo repertório pelo Sudeste e se apresentar na programação do Janeiro de Grandes Espetáculos, o músico se prepara para o seu primeiro show do ano a céu aberto, no Carnaval do Recife, dia 28 de fevereiro, na Praça do Arsenal. Durante o período carnavalesco, ele também fará participação no Orquestrão, do Maestro Spok, na terça de Carnaval, no palco do Marco Zero e no show do músico Tonfil.
PC Silva iniciou sua carreira solo em 2016, com o fim da Bandavoou, da qual fazia parte. Naquele ano, o músico pernambucano começou a trabalhar no seu primeiro disco, Amor, saudade e tempo, lançado em 2020, também com direção de Juliano Holanda, presente em vários momentos da carreira do artista.
Do álbum de estreia herdou as reflexões sobre sentimentos, falta de lar, destinos e passagem das horas, temas presentes neste novo trabalho, em faixas como “Idas e voltas", “Rosa das horas” e “Lá vou eu”, que não deixam de ser celebrativas – esta com a presença da voz de sua filha Nina, de 5 anos - além de “Águas da lembrança”, gravada com o violão de Joana Terra, coautora da canção.
PARCERIAS E HOMENAGENS
Considerado pelo maranhense Zeca Baleiro “um cara muito musical, bom melodista, bom cantor", PC divide sete das onze faixas do disco. As parcerias apontam para um novo momento do artista, que, no primeiro álbum, dividia apenas duas músicas e já teve composições escolhidas para serem gravadas por nomes como Ney Matogrosso, Simone e Mariana Aydar.
A parceria dançante com Zeca Baleiro em “Lambada exuberante” e o dueto com a potiguar Juliana Linhares em “Arrodeio” se mostram como os momentos mais quentes e envolventes do álbum. O primeiro single lançado, "Beira de Mar", destaca a poesia cantada na voz de Ezter Liu, versando sobre um futuro distópico em que a preocupação com meio ambiente e a ganância de trilionários norteia o enredo da canção.
Com uma sonoridade fluida, marcada, sobretudo, pela bateria e percussão, o repertório é uma junção de “vários núcleos sonoros possíveis que se comunicam entre si". Apesar de muita história pra contar, PC Silva sugere que o ouvinte interprete e crie os próprios universos a partir da sua imaginação e referências individuais. Nas gravações, ele contou com uma banda formada por Juliano Holanda (guitarras), Rostan Junior (bateria), Miguel Mendes (baixo) e Gilú Amaral (percussão).
DO FÍSICO AO ABSTRATO
“A tua beleza vai do Pajeú até onde a luz alcança/guarda semelhança com a escuridão que acende estrelas pela noite/Laço de enfeite, virgindade do azeite e tudo quanto aguça/e mesmo que aconteça o que não entra na cabeça já valeu a dança/a alma da balança/o balé no precipício/toda dúvida que há no mundo submerso”, versa o artista na música que dá nome ao álbum.
Inspiração para a faixa-título, a relação com o pai foi o pontapé para a formação do repertório. “Quando compus essa música ['Me dê notícias do universo'], eu senti que se abria um portal para começar a pensar nesse novo disco. Todas as demais gravitam ao redor dela", comentou o pernambucano de Serra Talhada.
Além de sua cidade natal, o sertão de PC Silva passeia por referências a Taperoá, terra do escritor Ariano Suassuna, e também faz uma homenagem à poeta conterrânea Severina Branca - na canção "A Flor das Algarobas" - uma octogenária que não teve educação formal e se tornou autodidata na arte de compor versos.
VINIL
Me dê notícias do universo também marca um novo momento do artista como letrista, abrindo caminhos de reflexão que reafirmam sua poética refinada, pautada em paisagens e retratos conceituais, mas, desta vez, sobre a realidade pós-pandemia.
Tensão política, fascismo, destruição das florestas, agenda de exploração espacial e inteligência artifical são algumas temáticas contemporâneas abordadas nas letras, que seguem uma métrica familiar tradicional, mas dialogando com a modernidade.
"Esse disco é resultado de muitas histórias, emoções e músicas que agora ganham vida em vinil. Cada detalhe foi pensado com carinho: a capa, o encarte, as cores… tudo reflete o universo que quis compartilhar com vocês", escreveu o músico, recentemente, numa de suas redes sociais. O disco físico está sendo comercializado em formato de LP cor de laranja pelo selo Polysom.
TRAJETÓRIA
Batizado Paulo César dos Santos Silva, PC Silva nasceu em Serra Talhada, interior de Pernambuco. No final da década de 1990, veio com a família para a capital pernambucana, onde se formou em Arquitetura e Urbanismo pela UFPE. Com os colegas de curso, integrou a banda A Feira, na época da universidade.
Mas foi a partir de 2012 que passou a circular profissionalmente junto à Bandavoou, grupo que tem na bagagem dois lançamentos: o EP Bandavoou (2012) e o CD Nó (2015), com as participações de Juliano Holanda e do grupo Bongar. Foi com a banda que fez a abertura do show de Milton Nascimento no Parque Ibirapuera (SP). Em 2016, passou a se dedicar ao seu primeiro disco solo, Amor, saudade e tempo (2020), com onze faixas, que também contou com participações, entre elas, da cantora Ceumar e direção musical de Juliano Holanda.
Paralelo à sua carreira individual, PC Silva compõe o coletivo de músicos pernambucanos Reverbo, criado em 2017, por Juliano Holanda, com cerca de trinta artistas. Juntos, eles compõem, cantam, desenvolvem parcerias entre si e realizam apresentações, que reúnem nomes como Marcello Rangel, Flaira Ferro, Martins, Gabi da Pele Preta, Almério, entre outros. Em 2023, PC Silva iniciou a turnê Na sua casa, com shows intimistas, apresentados no Recife (PE), em João Pessoa (PB), Natal (RN), Salvador (BA) e São Paulo (SP).
MARINA SUASSUNA, jornalista.
Em tempo: Na sexta-feira (21), PC Silva lançou, com Juliano Holanda, o single "The Oscar goes to", um frevo que faz referência à grande repercussão em torno das indicações de Ainda estou aqui em três categorias da premiação norte-americana, Melhor Filme, Melhor Filme Internacional e Melhor Atriz, para Fernanda Torres.