Alto do Moura: o idioma do barro
Herdeiros do mestre Galdino moldam na argila o sonho e o imaginário, enquanto buscam o reconhecimento
TEXTO Maryane Martins
25 de Setembro de 2025
Foto Marina Torres
Distante 7 km do centro de Caruaru, no Agreste pernambucano, um letreiro gigante anuncia a chegada a um bairro que guarda uma magia particular: “Bem-vindos ao Alto do Moura, o Maior Centro de Artes Figurativas das Américas”. À direita, uma homenagem ao Mestre Galdino; à esquerda, a Vitalino Pereira dos Santos, o Mestre Vitalino. É nas margens do Rio Ipojuca que o barro, matéria viva, calmante, terapêutica, é encontrado. No Alto do Moura, como uma preciosidade, ganha expressão pelas mãos de muitos dos moradores.
Foi Vitalino quem, ainda na infância, se tornou o precursor da criação de peças figurativas, que traduziam o cotidiano da região. O barro, antes usado pelas louceiras para panelas e moringas, agora era moldado em carros de boi, cangaceiros, bandas, cenas da caatinga, vaquejada, revelando ao mundo o “mundo de fora” que Vitalino observava e vivia. O artesão abriu caminhos para gerações de discípulos, que fizeram e fazem do Alto do Moura uma “casa-ateliê” reconhecida internacionalmente.
Se Vitalino esculpia o que via ao redor, Mestre Galdino moldava o que via dentro, em seu imaginário. Em contraste com a clareza e objetividade do figurativo, o barro, nas mãos de Galdino, assumia formas de figuras fantásticas, expressões de sua subjetividade, que ele chamava de “a parede do juízo”. Suas peças traziam uma estética visceral, uma abstração que desafiava o olhar e buscava uma materialização de seu “mundo de dentro”. Ambos, cada um à sua maneira, são precursores de olhares que se perpetuam.
Nos dias atuais, o Alto do Moura, embora reverencie a tradição figurativa, também é palco para novas linguagens. Este espaço possibilita que outras técnicas e formas de expressão emerjam, atualizando significados e narrativas. É nesse cenário que artistas contemporâneos como Ratinho, Nicinha e Joel Galdino constroem seus universos, numa linguagem que ecoa o que Galdino deu início.

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