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Fiandeiros: Tecendo histórias há duas décadas

Grupo de teatro pernambucano mantém-se em atividades ininterruptas, apesar das dificuldades, criando espetáculos e formando artistas e plateias

TEXTO Márcio Bastos

10 de Outubro de 2023

Espetáculo 'Uma Antígona'

Espetáculo 'Uma Antígona'

Foto Morgana Narjara

Esta matéria já havia sido finalizada quando, no dia 10 de setembro, recebemos a triste notícia do falecimento do diretor, ator, compositor e dramaturgo André Filho, um dos fundadores da Companhia Fiandeiros de Teatro. Sua morte, aos 62 anos, em decorrência de complicações de uma pneumonia, comoveu a cena local, com muitos artistas e ex-alunos expressando sua admiração pelo artista múltiplo e inquieto e pela pessoa acolhedora e apaixonada por arte e cultura.

Durante a visita da reportagem da Continente ao Espaço Fiandeiros, na noite de 29 de agosto, André não pôde estar presente, pois havia saído há pouco do hospital e precisava ficar em casa, de repouso. Antes de começarmos a conversa com Daniela Travassos, sua esposa, e a atriz Geysa Barlavento, o artista fez uma ligação por vídeo, mandou seus cumprimentos e disponibilizou-se para responder por e-mail às perguntas da revista. As respostas dele, nesta que foi sua última entrevista, ganham novo significado neste texto idealizado inicialmente como uma celebração dos 20 anos da Fiandeiros, mas que agora também adquire o caráter de homenagem ao legado de André Filho, um homem de teatro por excelência.

O ESPAÇO
Quem caminha com pressa ou distraído pela Rua da Saudade, no Centro do Recife, pode deixar escapar a casa discreta, mas intrigante, localizada no número 240. Um pequeno portão azul, com detalhes cuidadosamente trabalhados, ostenta as figuras das duas máscaras douradas que são símbolos do teatro. Pendurada na fachada, uma placa em formato circular indica o nome do grupo que, desde maio deste ano, tem congregado ali artistas, estudantes e amantes do teatro: Companhia Fiandeiros de Teatro. No endereço, o coletivo pernambucano dá continuidade ao desenvolvimento de um teatro autoral e preocupado com a formação de plateias e indivíduos, missão assumida há 20 anos, quando foi fundado.

O Espaço Fiandeiros funciona como uma escola de teatro, com cursos para crianças, adolescentes e adultos, local de ensaio e pesquisa do grupo, e também como um palco alternativo aberto para artistas locais e de fora. A nova residência abriga ainda uma biblioteca especializada na arte dramática, anteriormente mantida na sede original da Fiandeiros, que funcionou na Rua da Matriz, também no Bairro da Boa Vista, de 2009 a fevereiro de 2023. Mantido de forma independente, é mais do que o CEP no qual está registrado; é um projeto conjunto de amor ao teatro.

É esse compromisso com a arte e seu poder transformador que impulsiona os integrantes da Fiandeiros. O grupo surgiu de maneira orgânica, quando alguns amigos se reuniram para ensaiar uma leitura dramatizada de Sonhos de uma noite de verão, de Shakespeare. Instigados a aprofundar as discussões, foram intensificando os encontros e começaram a desenvolver experimentações cênicas. No dia 17 de agosto de 2003, quase como uma brincadeira, alguns dos remanescentes desses primeiros ensaios assinaram uma ata fundando a companhia – papel que eles guardam até hoje.


O grupo, formado por Charly Jadson, Manuel Carlos, Dani Travassos e André Filho (falecido em setembro), na frente do Espaço Fiandeiros, na rua da Saudade. Foto: Divulgação

O nome Fiandeiros é uma referência à variedade de experiências dos participantes, que vinham de áreas como música, teatro e palhaçaria. Juntos, foram “fiando” um grupo e descobrindo-se artistas múltiplos. Entre os fundadores, estavam André Filho, Manuel Carlos de Araújo e Daniela Travassos, que permanecem até hoje no grupo.

“Fomos nos fazendo artistas com o grupo. Não sabíamos necessariamente o que éramos, enquanto grupo, mas havia a vontade de criar e de ter uma linguagem própria. Dessa forma, o trabalho no coletivo foi nos lapidando. Eu, por exemplo, me descobri, além de atriz, produtora. André, dramaturgo, músico, diretor; Manuel fica à frente da direção de arte e acervo; Charly Jadson, da área técnica. É uma construção”, explicou Daniela Travassos.

Das certezas que tinham, uma das mais latentes era o desejo de fazer espetáculos originais para crianças e jovens, objetivo alcançado alguns anos depois. Isso porque ficaram claras, logo de início, as dificuldades de financiamento e de circulação de peças para esse público. Tanto que a dramaturgia Outra vez, era uma vez, de André Filho, foi vencedora do segundo lugar no Prêmio Funarte para Novas Dramaturgias, em 2004, mas só foi montada em 2008, após a Fiandeiros estrear duas obras para o público adulto: Vozes do Recife – Um concerto poético, peça inaugural do coletivo, em 2004, e O capataz de Salema, a partir da dramaturgia de Joaquim Cardozo, em 2005.

Dos 10 espetáculos do repertório da Companhia Fiandeiros, apenas quatro são voltados para a infância: Outra vez, era uma vez; Vento forte para água e sabão (2016), com dramaturgia de Giordano Castro, do Magiluth, e Amanda Torres; Histórias por um fio (2017) e Cantigas de Fiar (2019).

“O teatro para a infância, ao contrário do que muita gente imagina, é mais complexo do que o para adultos. Nosso processo de criação para esse tipo de obra é de cerca de um ano, pois, além da dramaturgia própria, também costumamos usar músicas originais, então é muito tempo de ensaio e de troca de ideias. Acima de tudo, pensamos os trabalhos para e a partir das crianças, gostamos de ouvi-las, entender suas questões e tratá-las como sujeitos sensíveis. É, também, um processo de formação do olhar, que é muito importante”, reforçou Geysa Barlavento, atriz integrante da Fiandeiros.

Turma do curso de iniciação teatral 2022 da Escola Fiandeiros de Teatro. Fotos: João Fernando Bonfim/Divulgação 

Outro empecilho para as produções infantis costuma ser a competição de produtos da cultura pop, como obras adaptadas de grandes estúdios cinematográficos. Daí a ênfase da Fiandeiros em formar plateias e apresentar outros tipos de dramaturgias e encenações. Como os integrantes do grupo reforçam, não é sobre hierarquizar qual o melhor tipo de espetáculo, mas, sim, de oferecer olhares diversos, com temáticas que dialoguem com as crianças em toda a sua complexidade.

“É muito importante para nós que a criança troque conosco. É um cenário difícil porque muitas escolas preferem levar para esse outro tipo de espetáculo, mais comercial. Nossas apresentações, em geral, são para pequenos públicos, formados por pais que se interessam em trazer essas outras sensibilidades para suas crianças. É um trabalho árduo, mas é o que acreditamos: no poder da palavra, da ludicidade, da arte em toda a sua potência. Foi um compromisso que assumimos e é para isso que existimos”, disse Daniela Travassos.

Os artistas da Fiandeiros acreditam que quando o grupo começou, o cenário do teatro para a infância era um pouco mais diversificado, com um número maior de coletivos se dedicando à montagem e pesquisa de linguagem na área. Atualmente, a nível local, eles se enxergam um pouco mais isolados nesse sentido, mas entendem se tratar de um processo de altos e baixos e cuja mudança só é possível com a junção de vários fatores, como o fortalecimento das políticas de incentivo à cultura, e também no olhar atento para as crianças e suas particularidades.

“Acho que neste caso existem dois lugares: o primeiro deles é a cena em si, a criação do artista. Olhando por este ângulo, a cena pernambucana é inquieta demais, sempre foi, sempre trouxe com bastante irreverência os nós que a sociedade patriarcal e conservadora pernambucana finge não ver. Então, temos o outro lugar: o que fazer com essa produção? Este ponto é onde entram as políticas públicas de incentivo, este tem sido um grande problema. É visível a redução de espaços de apresentação, os artistas não conseguem fazer mais uma temporada longa de seus trabalhos, os instrumentos como Funcultura e SIC (Sistema de Incentivo à Cultura) municipal são engessados demais e já algum tempo precisam ser rediscutidos, não é acabar, mas, sim, redimensioná-los à realidade em que vivemos. Isto precisa ser feito urgentemente. Para mim, a maior frustração desses instrumentos legais foi o Plano Municipal de Cultura que passou 10 anos (2008-2018) na Câmara de Vereadores sem que nenhuma de suas diretrizes fosse discutida em plenário ou promulgada em lei. Isso transformou o PMC num instrumento de governo e não de Estado e os artistas mais uma vez perderam uma década que poderia ser de avanços significativos”, criticou André Filho.


Espetáculo O capataz de Salema. Foto: Rogério Alves/Divulgação 

A CIDADE
Estar em sintonia com as questões do contemporâneo é uma das diretrizes da Fiandeiros. Ao abrirem a primeira sede, na Rua da Matriz, os artistas iniciaram um processo de pesquisa que chamava a atenção para a situação de abandono de pessoas em situação de rua que habitavam o entorno, como a Praça Maciel Pinheiro, o que resultou na criação do espetáculo Noturnos, em 2012. A obra transformou a forma como o coletivo pensava sua cena, em termos estéticos e temáticos.

“Cada processo tem sua história. Alguns podem dialogar entre si, mas sempre guardam suas características próprias, suas provocações, seus atravessamentos. Por exemplo, nossos primeiros espetáculos, Vozes do Recife e O capataz de Salema, foram trabalhos de pesquisa literária que tinham como lugar de ação o palco italiano. Quando nos mudamos (para a sede), sofremos o impacto do espaço imediatamente, o seu entorno repleto de pessoas em situação de rua. Isso nos fez rever nossa estética de criação e construímos o espetáculo Noturnos, uma dramaturgia autoral, que falava sobre a invisibilidade social dos moradores de rua. Circulamos algumas capitais brasileiras discutindo essa questão. Essa foi uma experiência fantástica que mudou nossa forma de olhar nosso entorno, não apenas físico, mas principalmente humano. Seguimos com outros experimentos estéticos, de exercícios dramaturgos originais ou releituras de obras clássicas, todos agora pensados para espaços alternativos. Assim fomos construindo a nossa cena, seja nos trabalhos para o público adulto ou para infância. Sempre buscando algo que seja construído a partir de inquietações de querer reler o tempo, transformar espaços, promover uma nova escrita”, apontou André Filho.

Estar no Centro do Recife, pois, molda a identidade da Fiandeiros. O coletivo foi testemunha do abandono e falta de políticas para os espaços e para as pessoas da região, tanto que a mudança da Rua da Matriz se deu para além de problemas estruturais do casarão que ocupavam. Segundo Daniela, era como se a cidade estivesse “expulsando” quem ali permanecia, reflexo também do crescente número de lojas fechadas em ruas antes pulsantes de gente, como a Imperatriz, e a diminuição no fluxo de transeuntes. Esse processo recentemente ganhou as telas com o filme Retratos fantasmas, de Kleber Mendonça Filho, que parte do fechamento dos cinemas da área para refletir sobre as mudanças na capital pernambucana.

O espaço da Rua da Saudade acabou suprindo não só o objetivo de manter-se no centro, como também de tornar o acesso mais prático para os alunos e espectadores, já que o local é mais próximo de várias linhas de ônibus. Coincidentemente, o novo endereço já carregava um histórico ligado às artes. Em meados de 1984, ali funcionou a Opéra Buffo Café Teatro, um empreendimento dos artistas Beto Diniz e George. Uma espécie de aprimoramento da experiência do Vivencial Diversiones, icônico espaço do Grupo Vivencial, oferecia, além de um bar, quatro espetáculos por noite, com duração entre 30 e 40 minutos. Obras de Antonio Cadengue, Carlos Bartolomeu, Guilherme Coelho, Henrique Celibi, entre outros, foram apresentadas ali.

A Ópera Buffo também foi um ambiente acolhedor para a comunidade LGBQIAP+, na plateia e nos palcos. Artistas travestis, como Andrea Cocinelli, Luciana Luciene, Rabi da Galileia, Laura Paulina e Claudeth Bardot se apresentaram lá. Infelizmente, o público não acolheu o espaço – talvez até por se tratar de uma área tão libertária, como observou o crítico de teatro Valdi Coutinho, que lamentou a hipocrisia burguesa recifense. Seis meses após sua abertura, a Ópera Buffo fechou, dando lugar ao Novo Teatro Marrocos e suas strip-girls, que também não durou muito. Por anos, ali também funcionou um cinema de filmes eróticos.

“Os grupos, principalmente os independentes, têm cada vez mais dificuldade para encontrar pautas nos teatros. Nós, por exemplo, estávamos tentando reapresentar Vento forte para água e sabão desde 2019, mas só conseguimos este ano, na nossa sede. Nesse sentido, os espaços dos coletivos independentes fazem uma grande diferença na vida cultural da cidade. Além das nossas obras, aqui também recebemos trabalhos de diversos artistas – e estamos abertos para continuar acolhendo esses criadores, consagrados ou da nova geração”, disse Daniela Travassos.


Espetáculo Noturnos. Foto: Divulgação

NO PALCO
Quando decidiram montar uma sede, os artistas tinham muito clara a intenção de montar um projeto de formação. Foi assim que nasceu a Escola de Teatro Fiandeiros, em 2009. Por ano, o grupo chega a formar cerca de 200 alunos. No espaço da Rua da Saudade, o movimento de jovens atores continua intenso, com aulas que passam desde a história do teatro até exercícios corporais e de voz, em aulas ministradas, em sua maioria, pelos integrantes da companhia. A preocupação com o aspecto formativo é reflexo da própria história dos artistas do grupo.

“Um traço comum entre os integrantes da Fiandeiros é o de que todos vieram ou passaram por processos formativos em teatro que foram definitivos para suas carreiras. Por isso, sempre tivemos o sonho de desenvolver, enquanto grupo, um projeto que provocasse a cidade com novos artistas e formasse também novas plateias. Assim tem sido com a nossa Escola de Teatro, que há 14 anos contribui para que tudo isso aconteça. Muitas pessoas que passaram pela nossa escola se tornaram artistas profissionais. Outros trabalham conosco em diversas frentes. Também encontramos alguns nas nossas plateias e nas plateias dos teatros da cidade. Quando começamos com o projeto, não havia praticamente oferta de cursos. Hoje, podemos ver essa oferta fervilhar entre os grupos, fazendo com que os novos atores possam experimentar a vivência e a poética de cada um deles”, contou André.

Para o diretor, ator e dramaturgo, o centro de estudos e formação tem um papel essencial para Fiandeiros, pois injeta novos referenciais criativos. “Esse fervor também nos retroalimenta, fazendo com que sejamos provocados na nossa poética pelos novos artistas, pelas vivências com eles, pelo exercício de sermos também professores, pela renovação do nosso grupo com novos integrantes vindos da nossa escola. A escola também provoca os nossos projetos, nossas montagens de repertório, tudo é atravessado por essa experiência”, afirmou.

A escola é também o principal pilar financeiro do grupo, em especial nos últimos anos, quando houve um desmonte das políticas de fomento cultural no país. Foi através dela, com aulas ministradas remotamente, do apoio da Lei Aldir Blanc e da seleção em alguns projetos, como o Palco Virtual, do Itaú Cultural, que eles conseguiram enfrentar a crise gerada pela Covid-19. Comprometidos com a cena artística de Pernambuco, os artistas da Fiandeiros se mobilizaram durante a pandemia para arrecadar doações para outros profissionais da área que foram mais fortemente atingidos pela paralisação das atividades. Por sua trajetória, o grupo foi vencedor do 4º Prêmio Roberto de França (Pernalonga) de Teatro, promovido pelo governo de Pernambuco, na categoria Coletivo.

“Avalio estes 20 anos de atividades como de muito aprendizado e descobertas, muitos encontros e também despedidas. Encontros comigo mesmo. Eu nunca imaginei me tornar dramaturgo, por exemplo; foi o processo de trabalho da Fiandeiros que me colocou neste lugar. Foram vários espetáculos produzidos, um projeto pedagógico de ensino do teatro para crianças e adultos que se mantém há 14 anos sem qualquer apoio governamental, mais de 50 montagens pedagógicas dos nossos alunos. Discutimos a dramaturgia para a infância e juventude, a dramaturgia pernambucana e por nosso espaço passaram grupos parceiros de todo o Brasil. Ou seja, só posso avaliar como extremamente positiva a nossa trajetória”, apontou André Filho.


Espetáculo Vento forte. Foto: Rogério Alves/Divulgação

Para Geysa Barlavento, a Fiandeiros é a realização de um sonho coletivo, que continua se renovando nos vários alunos e artistas que por lá passam. “No grupo, consegui homenagear a criança que fui. Também estive no palco grávida, aos oito meses de gestação, e depois com minha filha dançando comigo em cena. É uma possibilidade de realizar muitas vontades coletivas, através da arte e deste senso de parceria”, reforçou.

Os artistas apontam a perseverança como a grande marca da Fiandeiros e dos grupos independentes do país. Manter-se em atividades ininterruptas por duas décadas, reforçam, não é tarefa fácil e é sinônimo de esforços e também de abdicações. Daniela Travassos enfatiza que esse movimento precisa ser conjunto, com os artistas se apoiando e cobrando por mais políticas públicas para a cultura.

“Não vou ficar repetindo o velho bordão de que é difícil fazer teatro, essas coisas que todo mundo fala, é difícil fazer qualquer coisa que se goste, sem incentivo, sem políticas públicas consistentes. Esse seria um ponto que destaco, o outro é o cuidado com a dramaturgia que levamos à cena, porque, temos em nossa trajetória um gosto pela palavra. Ela tem uma importância crucial para o nosso trabalho na cena e esse cuidado se reflete até em nossas montagens pedagógicas”, endossou André. “É preciso investir nas plateias de hoje e do futuro. Os artistas deveriam poder criar sem tantas dificuldades e o poder público deve cumprir sua parte para tornar o processo menos doloroso, através de ações efetivas e de longo prazo.”

 O LEGADO
A morte de André Filho deixa um vazio na cena pernambucana. Sua dedicação ao teatro era integral: para além da criação artística, era um incentivador das artes cênicas que, com generosidade e engajamento político, trabalhava para ver a cultura pulsando. Construiu sua trajetória com trocas com outros artistas, com os parceiros e alunos da Fiandeiros, e principalmente com Daniela Travassos, sua companheira, com quem descobriu também a beleza da paternidade, quando conceberam e acolheram ao mundo a pequena Maya.

Ator, encenador, dramaturgo, músico, compositor, produtor cultural, André Filho foi múltiplo no seu fazer artístico. Formado em Matemática pela Universidade Federal de Pernambuco, trocou a frieza dos números pelo caleidoscópio da arte. Ainda na década de 1980, assinou a direção musical de espetáculos dirigidos por José Manoel Sobrinho, como Cantarím cantará (1985), Avoar (1986), Com panos e lendas (1987), entre outros. Como ator, fez o Curso Básico de Formação do Ator, da Fundação Joaquim Nabuco, em 1990, e o Curso de Formação do Ator, da UFPE, em 1992, e participou de diversas montagens capitaneadas por Antonio Cadengue, como Em nome do desejo (1990), Senhora dos Afogados (1993), Autos cabralinos (1997) e Sobrados e mocambos (1999).

Dirigiu diversas peças e idealizou projetos culturais. Como dramaturgo, foi premiado várias vezes, a exemplo do Prêmio Funarte de Dramaturgia Região Nordeste, em 2004, por Outra vez, era uma vez; O sonho de Ent, no edital Ariano Suassuna, em 2016, e Ao que virá, no Concurso Internacional Cenas do Confinamento, em 2020. Sua obra permanece, assim como seu talento, sua generosidade e luta pelo teatro. Evoé, André Filho.

 

MÁRCIO BASTOS, jornalista, mestrando em Comunicação pela UFPE.

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