Obituário

Agnaldo Rayol dedicou 75 anos à música, ao cinema e à televisão

Cantor, ator e apresentador morreu aos 86 anos. Ele foi um dos maiores galãs da televisão brasileira nas décadas de 1950 e 1960

TEXTO José Teles

04 de Novembro de 2024

Foto Agnaldo Rayol/Instagram

O cantor e ator carioca Agnaldo Rayol, cuja morte foi anunciada nesta segunda-feira, 4 de outubro, teve uma das mais longevas carreiras de um artista brasileiro. Dos seus 86 anos de vida, em 75 deles trabalhou no cinema, novelas e música. Estreou no cinema aos onze anos, em Também somos irmãos, de José Carlos Burle. Ao todo participou de dez longas-metragens.

Na música, pela qual se tornou, entre os anos 1950 e 1960 um dos mais populares cantores do país começou relativamente tarde, aos 20 anos, com um LP que tinha seu nome por título e um repertório para todos os paladares. Ia de “Prece” (Marino Pinto/Vadico) a “Se todos fossem iguais a você” (Tom Jobim/Vinicius de Moraes).  Nessa época, ele já era um galã de televisão, que ganhou, aos 18 anos, seu próprio programa, na TV Tupi. Curiosamente, o primeiro contrato que assinou foi com a Rádio Poti, de Natal (RN), onde morou ainda adolescente.

Sua voz de barítono era mais apropriada ao repertório erudito, até porque começou a gravar no mesmo ano em que João Gilberto, entrou em cena com “Chega de saudade”, que ameaçava destronar o bel canto da música popular brasileira. Mas os intérpretes de dó de peito continuaram a fazer sucesso. Agnaldo Rayol foi um deles. Em Sonhos musicais, o segundo LP, ele trafega na contramão da modernidade que propunha a bossa nova, do cantar intimista e sem vibrato. Agnaldo joga a voz para o alto em As praias desertas (Tom Jobim), e capricha nos melismas (sequência de notas em um curto espaço de tempo).

Agnaldo Rayol seguia a linha do cantor eclético, a mesma de Cauby Peixoto, Leny Eversong, Agostinho dos Santos, Lana Bittencourt, que gravavam canções das mais variadas procedências. No LP Meu amor é mais amor (1964), Agnaldo Rayol realiza a façanha de reunir versões de baladas americanas, com samba-canção, uma tonitruante interpretação de Asa branca (Luiz Gonzaga/Humberto Teixeira), com uma grande orquestra.

Tocava a carreira de cantor, paralelamente à de apresentador de TV e ator. Entre seus filmes está Agnaldo, Perigo à Vista (1969, dirigido por Reynaldo Paes de Barros), em que ele era o protagonista (à maneira de Roberto Carlos em Ritmo de Aventura), e contava com participações de Wanderléa, Erasmo Carlos, Ronald Golias e Jô Soares. Todos, assim como Agnaldo, contratados da TV Record. Embora no auge do iê-iê-iê ele tenha gravado um LP inteiro de boleros, Agnaldo Rayol fez parte do elenco do programa Jovem Guarda.

Foi também um dos principais galãs de novelas da Record, entre as quais, As pupilas do senhor reitor (1970) e A deusa vencida (1980, na Band) e Os imigrantes foram as que tiveram maior audiência. Nos anos 80 ele teve canções incluídas em novelas globais, “Mia Gioconda”, em O Rei do Gado, “Tormento d’amore”, em Terra Nostra. Ambas em italiano, idioma que, filho de mãe nascida na Calábria, tinha fluência. Sua última participação como ator foi interpretando o apresentador Bob Tom, num episódio da série Mr. Brau, ao lado de Lázaro Ramos e Taís Araújo

Agnaldo Rayol sofreu uma queda no banheiro de seu apartamento, na madrugada desta segunda-feira e teve um corte profundo. Foi socorrido e chegou consciente no Hospital HSant, mas sofreu uma parada cardiorespiratória. Se corpo será velado a partir das 6h nesta terça-feira, na Assembleia Legislativa de São Paulo e o sepultamento ocorrerá no cemitério Gethsêmani, no bairro do Morumbi.

Elegante, discreto, Agnaldo Rayol, foi casado durante 50 anos, cm Maria Gomes (que foi diagnosticada com Alzheimer), mas raramente falava da vida privada. O casal não teve filho.

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