Edy Star morre aos 87 anos
Cantor, ator e artista plástico baiano teve morte anunciada, nesta quinta-feira (24), em São Paulo
TEXTO José Teles
24 de Abril de 2025
Foto Edy Star/Divulgação
Edy Star, cantor, ator e artista plástico baiano (de Juazeiro), teve morte anunciada, em São Paulo, aos 87 anos. Ele sofreu um acidente doméstico e foi levado em estado grave para o hospital, mas não resistiu. Embora quase sempre seja omitida em matérias sobre o artista, sua passagem pelo Recife foi decisiva e marcante na cena musical da cidade. Daqui ele foi para o Rio e se tornou nome nacional. Primeiro, como um dos participantes do polêmico álbum Sociedade da Gran - Ordem Kavernista Apresenta: Sessão das Dez (CBS), com Raul Seixas, Míriam Batucada e Sérgio Sampaio (1971). Em seguida, veio a estreia em LP solo, com Sweet Edy (Som Livre), um trabalho assumidamente gay, com repertório assinado por nomes como Caetano Veloso, Gilberto Gil, e até uma composição inédita da grife Roberto & Erasmo.
Em 1966, Edy Souza (Edy de Edivaldo, nome de batismo) veio ao Recife com uma companhia baiana de teatro. Durante a temporada, fez amigos no meio artístico e resolveu continuar na cidade, naquela época culturalmente em ebulição. Edy passou a integrar o coletivo Construção formado pelo produtor, teatrólogo Benjamim Santos, e do qual participavam Marcelo Melo (Quinteto Violado), Geraldo Azevedo, Teca Calazans e Naná Vasconcelos.
Com esta turma, Edy Souza protagonizou, com Teca Calazans, o bem-sucedido musical Memória de dois cantadores, que marcou sua presença na capital pernambucana, e no qual Naná Vasconcelos foi apresentado ao berimbau, que o tocou pela primeira vez em público. Em 1967, Edy Souza foi convidado por Fernando da Câmara Cascudo para apresentar e produzir um programa de música popular na TV Jornal do Commercio. Naná Vasconcelos foi levado pelo baiano para tocar no programa.
Incorrigível concorrentes a concursos musicais desde os tempos em que morava na Paraíba, Lourenço da Fonseca Barbosa, o grande Capiba inscreveu composições em todos os festivais promovidos pelas TVs do Sudeste nos anos 1960. Em 1968, a TV Excelsior anunciou o festival O Brasil Canta no Rio. Capiba foi classificado com "Um dia cheio de Ogun", que seria defendida por Edy Souza, com Naná Vasconcelos nas percussões.
Os dois viajaram para o Rio, de ônibus, com passagens de ida e volta pagas por Capiba. Poderia ter comprado apenas os bilhetes de ida. Os da volta nunca foram usados. Edy e Naná decidiram permanecer na capital do então estado da Guanabara. Cada qual tomou seu rumo. Naná Vasconcelos conheceu Milton Nascimento e logo estaria tocando com ele. Edy trocou o sobrenome para Star. Cantou e dançou em cabarés da zona portuária, até que conheceu o conterrâneo Raulzito, então produtor da CBS. O resto é história.
Uma história atribulada, de altos e baixos, com uma longa passagem pela Espanha, ostracismo e redescobrimento no Brasil. No Recife, foi cultuado pela nova geração de músicos e intérpretes numa cena surgida na primeira década deste século. A última vinda de Edy Star à capital pernambucana aconteceu há três anos. Participou, como convidado do cantor Gonzaga Leal, do show No cordão da saideira. Também lançou na loja Passa Disco o livro de memórias, da Editora Noir, Diário de um invertido: Escritos Líricos, Aflitos e Despudorados (Salvador, 1956- 1963). Edy Star só lançou dois álbuns. O segundo, Cabaré Star, em 2017.
JOSÉ TELES, jornalista e autor de livros sobre música.