CONTINENTE Você acha que o patriotismo depois do 11 de Setembro explica um pouco o que aconteceu? E o que pensa de quem hoje acha que o W. Bush foi um bom presidente?
ROB REINER Acho que George W. Bush é um homem decente e gente boa. É um homem gentil e agradável. Diria que, se tivesse de ir a um jantar, preferiria George W. Bush em vez de Donald Trump, que é um lunático, um doente mental. Mas, em termos de políticas, o que W. Bush fez foi bem mais destrutivo, porque Trump é tão inepto que não consegue fazer nada. Há muita coisa ruim acontecendo, mas nada no nível do que fizemos no Iraque.
CONTINENTE Você declarou que seu projeto político atual é a interferência de Vladimir Putin nas eleições americanas. Mas você também disse que ele tentou interferir na Alemanha e na Catalunha.
ROB REINER Ele tentou.
CONTINENTE Mas de que forma?
ROB REINER Não sabemos direito ainda. Porque com a guerra cibernética e as redes sociais, é complicado. Precisamos tentar entender qual o objetivo de Putin: desestabilizar democracias, desestabilizar a Europa, romper a OTAN, desfazer a União Europeia. Com a Catalunha pode ser diferente. Mas qualquer separatismo desestabiliza a força que temos quando estamos juntos. O isolacionismo é construir um muro – literalmente, no caso do Trump. Mas não dá para fugir do fato de que estamos todos conectados. É uma comunidade global. A Catalunha querer se separar é bom? Como vai funcionar? Eles vão negociar seus próprios acordos comerciais? Não sei o que vai acontecer lá, mas sei que o objetivo de Putin é a desestabilização.
CONTINENTE No passado, você pensou em se candidatar ao governo da Califórnia. Ainda teria interesse?
ROB REINER Não. Porque eu estou envolvido com a política, estou fazendo política. Mas o que Michelle e eu fazemos no Comitê para Investigar a Rússia é política. Nós lutamos pela derrubada da Proposta 8 na Califórnia, que abriu caminho para o casamento igualitário nos Estados Unidos. Fizemos muitas coisas. Ser eleito é uma boa maneira de fazer as coisas, mas também tem limites. Procuro por coisas nas quais posso ter um efeito.
CONTINENTE O filme fala sobre honestidade e coragem. É bom ser corajoso em Hollywood?
ROB REINER É bom, mas também prejudicial. Quando fiz Meu Querido Presidente, muitos dos meus fãs desapareceram. E há muita gente agora que não está feliz com a maneira como penso. Mas eu não posso evitar. Faço o que tenho de fazer, o que acho que é certo. Só que toda vez que se faz algo político, você aliena pessoas.
CONTINENTE Mas você também pode conquistar pessoas?
ROB REINER Você pode. E, quem sabe, consegue também provocar mudança.
CONTINENTE Quanta mudança um filme pode provocar?
ROB REINER Não muita. Só podemos ser parte do diálogo.
CONTINENTE A polarização está maior do que nunca nos Estados Unidos. E isso se reflete na mídia também, com parte da mídia atacando e outra defendendo o presidente. Há uma nova dimensão dos “fatos alternativos” ou das “fake news”. Qual o significado disso no fim?
ROB REINER No fim, significa que fica cada vez mais difícil para uma imprensa independente e livre divulgar a verdade. E a única maneira de preservar a democracia é ter um público bem-informado. E só teremos um público bem-informado se tivermos uma mídia independente e algum mecanismo com que possamos exterminar as “fake news”. Sempre houve uma parcela lunática. O problema é que agora ela está na tendência dominante, com Alex Jones e outros.
CONTINENTE O filme fala muito de como a mídia tradicional, incluindo os jornais The New York Times e The Washington Post, compraram a versão do governo sobre a Guerra do Iraque. Acha que hoje em dia a mídia tradicional está mais atenta?
ROB REINER Vamos ver o que acontece. No momento, os veículos estão cobrindo os escândalos que estão acontecendo. Vamos ver como fica quando eles tiverem de arriscar seu acesso. É aí que complica. Sabemos o que acontece em Estados autoritários: jornalistas que arriscam seus pescoços são mortos. Não queremos chegar ao ponto em que jornalistas temam por suas vidas se disserem a verdade. O jornalismo tradicional está sob ataque, e isso dá medo.
CONTINENTE Você tem algum favorito entre seus filmes?
ROB REINER O filme que tem mais significado para mim é Conta comigo.
MARIANE MORISAWA é uma jornalista apaixonada por cinema. Vive a duas quadras do Chinese Theater em Hollywood e cobre festivais.