Entrevista

Quem escreve música

Compositores pernambucanos se destacam na criação de obras sinfônicas de orquestração sofisticada e conectadas com os padrões de gosto do público

30 de Dezembro de 2025

Compositor Paulo Arruda

Compositor Paulo Arruda

Foto Nathália Matos/Divulgação

Gradualmente, os programas de música sinfônica no Recife têm equilibrado as obras-primas dos grandes criadores da História da Música com as de compositores que estão no auge de sua produção artística e participam da vida cultural da cidade. Se é crucial que as primeiras se mantenham em evidência, pelas qualidades artísticas que lhes são inerentes, quando elas ocupam a quase totalidade do calendário anual de uma orquestra sinfônica, os ouvintes são relegados a contemplar um museu sonoro empoeirado.

Constrói-se, assim, um templo do reacionarismo, no pior sentido desta palavra, em que as composições consagradas pelo tempo são fetichizadas sob duas lógicas deploráveis em igual medida: a da romantização e sacralização do passado e a de sua embalagem como produto máximo do bom-gosto.

Quem se rege pela primeira, tende à estetização de todos os aspectos da vida, a começar pela moral e pelos costumes; quem valida a segunda, encara a arte sob uma ótica burguesa, como uma manifestação que resulta na criação de coisas boas e belas, mas para serem admiradas pela posição que ocupam no inventário de bens ostentados por grã-finos e aspirantes (ao menos, tanto aqueles quantos estes estão em um patamar mais digno do que quem é indiferente à arte).

De fato, o teste da qualidade artística vem do confronto das obras de arte umas com as outras, nos mais diversos contextos sociais e históricos. Contudo, esse confronto se caracteriza por ser dialético e interminável. Bach, Beethoven e Mozart sobrevivem porque mantêm a força de expressão ante a criação contemporânea. Esta, ao mesmo tempo, só inova verdadeiramente se dialoga com as referências que seus criadores tomaram como ponto de partida, em lugar de recorrer ao hermetismo, à desestruturação e ao panfletarismo, pois, em paralelo, há parâmetros de beleza, discurso e referências culturais que atravessam os séculos e oferecem o substrato para o trabalho dos artistas.

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