Entrevista

"O que nos fortalece moralmente é nossa diversidade cultural"

Em entrevista, o músico Charles Gavin fala sobre a carreira como produtor e pesquisador musical e analisa a música brasileira contemporânea

TEXTO Débora Nascimento

01 de Fevereiro de 2017

Charles Gavin, em projeto 'Brasil adentro', exibe a produção musical de estados fora do eixo Rio-São Paulo

Charles Gavin, em projeto 'Brasil adentro', exibe a produção musical de estados fora do eixo Rio-São Paulo

FOTO Carolina Vianna / Divulgação

[conteúdo exclusivo Continente Online]

Durante 25 anos, ele foi baterista de uma das maiores bandas do rock nacional. Em 1994, dois anos antes do arrasa-quarteirão Acústico MTV dos Titãs (2 milhões de cópias vendidas), criou junto com Nando Reis, Sergio Brito e Carlos Eduardo Miranda o selo Banguela Records, responsável por lançar os primeiros discos dos Raimundos e Mundo Livre S/A – obra-prima do grupo produzida por ele e Miranda. Em 2005, Charles Gavin levou sua paixão pela música à TV, com a série O Som do Vinil, que está em sua 11ª temporada. Em 2013, seu novo projeto, Brasil Adentro, passou a mergulhar na produção musical de estados fora do eixo Rio-São Paulo. A primeira temporada aportou no Pará. Agora, em Pernambuco. Em cinco episódios, exibidos neste mês no Canal Brasil, o músico e pesquisador aborda gêneros como o frevo, maracatu, o armorial, o rock, manguebeat e conversa com artistas, como Alceu Valença, Maestro Forró, Spok, Siba, Robertinho do Recife, Maco Polo, Paulo Rafael, Claudionor Germano, Fred Zero Quatro, Oliveira de Panelas, Antúlio Madureira, Jota Michiles, Bernardino José, Edu Lobo, Antonio Nóbrega. Nesta entrevista para o site da Continente, Gavin fala sobre sua ligação com a música pernambucana, lembra dos bastidores da gravação de Samba Esquema Noise e avalia o rock nacional hoje. 

CONTINENTE Como surgiu a vontade de destrinchar a música brasileira através desses programas, primeiro o Som do Vinil e agora o Brasil Adentro?
CHARLES GAVIN Existia uma gravadora nos anos 70 que seguia essa mentalidade, a Discos Marcus Pereira, que acreditava numa ideia de lançar uma investigação sobre a música brasileira de todas as regiões do país. Esse projeto me marcou muito, já na época da faculdade. A coleção circulava pelos corredores da PUC. Isso ficou de alguma forma na minha educação, na minha formação cultural, essa atitude sobre a música brasileira. Como bom paulistano, minha iniciação musical foi o rock. Mais tarde, através do colégio e da faculdade, fui abrindo a cabeça para outros gêneros da música brasileira. Eu tinha uma vontade de fazer algo parecido com os Discos Marcus Pereira. E esse projeto do Brasil Adentro foi inspirado nisso, nessa vontade de olhar pra música de outros lugares do país que não seja o que a gente está acostumado a ver na mídia do eixo Rio-São Paulo, o eixo mais poderoso economicamente, mas que culturalmente não é o mais poderoso. A grande produção da TV por assinatura, mais de 80%, é feita no eixo Rio-São Paulo. Isso não é sadio para nós, brasileiros, culturalmente falando. A gente tem que descentralizar essas produções. Recife, por exemplo, é um dos grandes polos culturais do país. Tem uma indústria de cinema estabelecida, a de música não preciso nem falar. A gente tem que buscar parcerias, diversificar, buscar programas nos outros lugares do Brasil. É nossa obrigação, porque a gente nunca pode colocar de lado a nossa diversidade cultural, é isso que nos fortalece. A gente tem um quadro tão ruim, de desmoralização, de economia ruim, de violência, de falta de investimento em educação e nas nossas prioridades, o que nos fortalece moralmente é justamente nossa diversidade cultural. É isso que me anima, que me move. Então, é natural que nos projetos que eu faço, como o Som do Vinil, que a gente vai gravar a 11a temporada, essa diversidade esteja presente. Isso vai ao encontro do que vivi com os Titãs, nos 25 anos de estrada. Tive o privilégio de viajar o Brasil, conheço muito bem o país, todas as capitais brasileiras; em alguns estados, o interior também. Sempre tive vontade de encontrar artistas de outros lugares, de conversar, ganhei muito disco, sempre tive muita afinidade com a música nordestina. Então, isso é um pacote que converge para um projeto como esse. 

CONTINENTE Você acha que ainda falta muita troca cultural entre as regiões do país?
CHARLES GAVIN A troca existe, porque é inevitável, mas ela deveria ser maior, mais intensa. Essa é uma questão mais complexa. Sou um músico que conhece bem o país, que viajou bastante e que pesquisa a música brasileira há muito tempo. Alguns estados têm uma relação mais intensa com o eixo Rio-São Paulo por conta de sua produção. Estou falando basicamente da Bahia e de Pernambuco, que encontraram um modelo econômico de autossustentabilidade, o mercado fonográfico baiano encontrou um modelo que funciona muito bem e dali saem para tocar no resto do país. De certa forma, relativamente, Pernambuco, Recife também, através de ações de anos de fomento à cultura, os governos entenderam que isso era uma coisa economicamente indispensável na vida do povo pernambucano e daí vieram os incentivos, os editais. De alguma forma, a música da Bahia e de Pernambuco vaza para o resto do país. Mas e outros estados que não têm a mesma politica cultural? Uma banda do Acre como chega a Minas Gerais? Chega através da internet, que possibilitou esse trânsito, mas falando da grande mídia a nossa troca é muito tímida ainda. Essa dominância do eixo Rio-São Paulo é muito grande, e no que diz respeito à cultura e ao esporte, isso é muito nocivo, não se relacionar com outros lugares do país. Grande parte do que se fala é o que acontece em Brasília, obvio, não poderia deixar de ser, ou Rio de Janeiro ou São Paulo, as outras capitais entram no noticiário se acontecer alguma coisa estranha, fora do comum, ou violenta. Aqui no eixo, parece que Recife só existe na época do Carnaval. 

CONTINENTE O seu primeiro contato com a música pernambucana foi através desses discos da coleção Marcus Pereira ou com Alceu Valença? 
CHARLES GAVIN Com Alceu Valença. Os Discos Marcus Pereira me levaram para um outro lugar. Eu tive educação de qualidade, estudei numa escola pública em São Paulo, peguei um bom ensino público em São Paulo, mas ele foi destruído ao longo dos anos. Depois fui para a PUC, que era muito diferente do que é hoje, era uma universidade preocupada em formar cidadãos e não somente preocupada em formar profissionais. Esse é grande erro da sociedade moderna, o ensino deveria formar pessoas e depois se preocupar com a profissão. Eu sou dessa época ainda, se estudava para ser melhor e não pra ganhar dinheiro e subir na vida – isso era uma consequência. O primeiro artista de fato que conheci de Pernambuco foi o Alceu Valença, com Vou danado pra Catende, era uma música muito forte. Por conta do Festival Abertura da Rede Globo, em 1975, a Som Livre apostou de fato em Alceu. Tinha muito comercial dele na televisão, do disco Molhado de Suor. Depois, vieram os Discos Marcus Pereira. Outro coletivo pernambucano que passou na minha frente e nunca mais larguei foi o Quinteto Armorial. Isso foi discutido em sala de aula, quando estava na PUC. Lembro que quando ouvi o Quinteto, muita coisa mudou, entrei em contato com uma música que não conhecia de fato. A gente falou de Ariano. Eu não tinha maturidade para absorver tudo aquilo, mas, de qualquer forma, a semente foi plantada. 

CONTINENTE Qual foi a impressão que você teve ao ouvir aquela música de Alceu? 
CHARLES GAVIN Era completamente diferente de tudo o que ouvia na época. Hoje, consigo elaborar uma resposta, mas, naquela época, Molhado de suor, soava diferente, porque ele trazia elementos da música nordestina, que a gente do Sudeste não tem, as escalas, as melodias usadas há décadas pelos aboiadores, pelos trovadores. Essa música que veio da Península Ibérica, dos imigrantes. Isso não tem no Sudeste, isso é uma joia rara que aconteceu no Nordeste, esse sabor de música árabe, do oriente, isso é uma beleza da música nordestina. Isso a música do Alceu, do Zé Ramalho, do Jackson do Pandeiro, do Luiz Gonzaga tem. A música de todas as pessoas daí tem, queira ou não queira, tem. Esse traço da música brasileira, que é extraordinário, essa conexão com a música oriental. O disco do Ave Sangria, que não teve muita divulgação no eixo Rio-São Paulo e teve problemas com a censura aí em Pernambuco, se você ouve esse disco hoje, ouve a música de Luiz Gonzaga, Marinês, Jackson do Pandeiro. De qualquer forma, o grande mérito do Alceu, foi colocar essa fusão da música brasileira a outro patamar naquele festival. Vamos falar também que a banda que o acompanhava era absurda, Zé Ramalho, Lula Côrtes, Zé da Flauta, Paulo Rafael... Não lembro o nome do baterista...

CONTINENTE Israel Semente. 
CHARLES GAVIN Eram um bando de cabeludos, pareciam saídos de Londres, tocando uma música pesada, com atitude, com uma verdade de Brasil que não tinha aqui embaixo. Depois que Alceu veio, Geraldinho (Azevedo) já estava aqui, teve um boom de artistas do Nordeste vindos para cá. Houve uma necessidade de se deslocar para o eixo Rio-São Paulo. Essa participação do Alceu no festival foi um start de toda uma geração na música pernambucana e também na música brasileira.

CONTINENTE E você teve uma importância na segunda leva de artistas pernambucanos no Sudeste, produzindo o primeiro disco do Mundo Livre S/A. Como você enxergou essa geração dos anos 1990? 
CHARLES GAVIN Isso foi através do Carlos Eduardo Miranda, que trabalhava na Bizz, muita gente mandava suas demos pra ele. Numa entrevista com os Titãs, ele comentou com a gente. Embora a gente viajasse bastante e conhecesse muita gente, a gente não conhecia os artistas que ele estava falando, Chico Science, Mundro Livre S/A, Planet Hemp. Surgiu a ideia de formar um selo que abrigasse essa produção dos anos 90, de usar o prestígio dos Titãs pra que se abrisse espaço pra essa moçada. A gravadora se interessou e abrimos o Banguela Records. Quando ouvimos as fitas que estavam com Miranda, eu automaticamente me identifiquei com o Mundo Livre, falei para todo mundo que queria produzir o grupo. Acho que é um disco importante desde aquele momento. É bom a gente lembrar que, nos anos 90, isso é cíclico, certos períodos acabam sendo esquecidos, nos anos 90, não se falava sobre os anos 70 da música brasileira. Lembro quando o Fred chegou com a quela música do Mundo Livre influenciada pelos discos de Jorge Ben e transformou noutra coisa, foi muito forte. Esse cara tava pegando Jorge Ben, The Clash e fazendo outra coisa, e fazendo diferente de Chico Science, a gente queria ter contratado Chico Science, mas a Sony, com o Chaos, acabou contratando Chico e Planet Hemp antes. Passou pela nossa mão também os Mamonas Assassinas, que a gente recusou e foi contratado pela EMI. Ficamos com os Raimundos, Mundo Livre S/A e outras bandas. Foram três meses trancado em estúdio. Foi um disco muito mais caro que o dos Raimundos e até hoje a Warner relança esse disco, licencia para outros selos. É um trabalho que marcou época, é um disco sempre falado, citado, um disco cult instantaneamente. Foi muito impactante ter visto Chico Science, o vi antes de ter gravado Da lama ao Caos. Foi uma das coisas mais impactantes que eu vi. Na escola de música, sempre se falava de maracatu, mas nunca tinha visto nada parecido, misturar tambores de maracatu com rock pesado, como eles fizeram. Estava muito claro que aquilo quebrava o hiato dos anos 80 na música de Recife, no que diz respeito ao pop e ao rock. Acho que o Devotos foi a única banda dos 80 que sobreviveu a essa espécie de colapso momentâneo da cultura pop no Recife. Ninguém soube explicar esse hiato. Alguns disseram que não havia lugares pra tocar, não tinha uma cena, a cidade estava destruída. Você deve se lembrar disso.

CONTINENTE Havia uma invasão muito grande de música norte-americana, não tinha lugar para tocar. Mas esses músicos estavam se formando, ouvindo muita música, trocando fita-cassete, ouvindo disco na casa do amigo, tocando em casa, estava sendo concebida essa geração. No final dos anos 1980, estavam se agregando e despontaram no começo dos 1990. Mas você teve uma importância muito grande para o sucesso desse disco (Samba esquema noise). Até o período de gravação foi maior, porque você quis.
CHARLES GAVIN Porque eu era um dos chefes do selo também. Embora fosse a gravadora que pagasse, a gente tinha um poder de decisão e me lembro que, pra gravar o Mundo Livre, a nossa perspectiva comercial era muito alta. A gente realmente acreditava que o que a gente estava fazendo tinha muitas chances radiofônicas, embora o Mundo Livre não tenha tocado no rádio. Mas a música era tão forte, que ela não somente sobreviveu, como se destaca nesse período. O disco dos Raimundos foi gravado a toque de caixa, não que o som não fosse bom, ele é. Mas gravaram em uma semana e mixaram em outra. E eu estava acostumado a trabalhar em outro esquema. É muito importante pra minha geração o som, o cuidado, o rigor com a gravação. A minha geração teve essa preocupação. Quando a gente ia gravar um disco, pensava quais eram as nossas referências: por que os discos de rock brasileiro não têm o mesmo peso que os discos de rock que se faz em outros países? Essas questões todas a gente levou para o estúdio. Não sei se a gente conseguiu resolver todas, mas foi válido questionar e querer melhorar a qualidade técnica da nossa música. Por isso, quando a gente foi para o estúdio com o Mundo Livre, na condição de produtor junto com Miranda, eu não ia abrir mão disso, era uma questão fechada pra mim: vamos gravar essa banda, é o primeiro disco deles, eles não têm experiência em gravação. Não é fácil gravar bem um disco, isso requer muito trabalho, muitas horas de estúdio, você vai gravando, vai se distensionando, isso é um processo, como construir uma casa. Cheguei na gravadora e disse: “Temos um trabalho muito forte, muito importante nas mãos, não dá pra fazer isso numa semana e mixar na outra, com essa banda não dá pra ser assim”. E ficamos três meses em estúdio. Na época, esse disco custou mais de R$ 40 mil. A gente está falando em 1994. No universo independente, é uma fortuna. Hoje ainda é uma baita grana pra gravar um disco com R$ 40 mil, imagina naquele momento, em que os custos eram muito maiores, os estúdios eram muito mais caros. Foi um escândalo na gravadora. A Warner surtou, disse que a proposta do selo não era essa, era fazer uma coisa mais urgente, mais rápida. Quando mostrei o disco na Warner, ficou evidente porquê a gente levou tanto tempo para fazer aquele trabalho, é uma música complexa, não é “sai tocando e grava”. 

CONTINENTE A diferença do som e da produção dos dois discos, Samba Esquema Noise e Da Lama ao Caos, é gritante. Parece que foram gravados em épocas bem distintas.
CHARLES GAVIN Eu agradeço você dizer isso. Coloquei nele todos os anos de experiência que eu tinha com os discos dos Titãs, coisas que eu havia estudado, porque eu sempre tive estúdio em casa, sempre gostei desse assunto, gravação. Quando a gente foi fazer Samba Esquema Noise, peguei emprestado os equipamentos dos Titãs. A bateria foi gravada com a qual gravei Cabeça Dinossauro, botei minha bateria para o Xef Tony tocar. Nando (Reis) emprestou baixo, amplificador. O Mundo Livre não tinha equipamento. Imagina uma banda independente naquela época. Hoje é mais fácil, você tem formas de ter um equipamento básico. Mas nos anos 80 ou princípio dos 90, ou você tinha grana ou estava estabelecido, ou não tinha como comprar equipamento. O Beto Villares, técnico de gravação, mergulhou no processo de gravação. Miranda também era uma cara muito informado, era um cara muito curioso, não tinha medo de experimentar nada, e a banda estava aberta para isso. É um disco de uma turma. Daquele período, é um disco importantíssimo para a música brasileira. 

CONTINENTE Você, que tem esse rigor no trabalho de produção, como avalia o rock feito hoje no Brasil?
CHARLES GAVIN Uma coisa é fato, e isso eu não entendo, o fato de grande parte da música brasileira feita hoje ser despolitizada. Me criei dentro de outro ambiente, do qual não dava pra dissociar a vida política da música. Por tudo o que estamos passando hoje, realmente não compreendo como a música brasileira não fala sobre isso. É como se ela não precisasse falar, como se essa necessidade não existisse, como se o fato de existir internet fosse suficiente. A internet não cumpre todo esse papel. Na minha época, a música era onde as ideias eram debatidas num outro nível, fora a imprensa obviamente. Na arte, você debate, reflete ideias de uma outra forma. Esse é o grande atributo da música e do cinema. O que acontece hoje é que boas bandas estão gravando discos nos seus estúdios, discos muito bem-feitos, mas não vejo tanto rigor no discurso, no que se escreve, no que se canta, como na nossa geração. Parece que isso não é mais importante. Os anos 80 é alvo de piadas muito desagradável por parte da imprensa. Há um desprezo pela geração dos anos 80. Muitas bandas ainda estão aí, parece que já eram pra ter terminado, que não eram pra estar na estrada tocando. Discordo plenamente disso. Cada um tem o direito de seguir com sua obra. Combato essa ideia de que “fulano fez sucesso em tal época”. Nada mais legítimo do que o músico, o autor, o artista defender sua obra. Vejo nessa moçada de hoje uma preocupação com o texto muito diferente da nossa. Estou falando dos Titãs, Legião Urbana, Cazuza, Paralamas do Sucesso e outras bandas que tiveram preocupação muito grande com o texto, com questões além de estéticas, com a realidade do Brasil. Pega a gente, Inocentes, movimento punk de São Paulo, até Chico Science, teve uma preocupação muito direta e séria com a realidade do país. Mas hoje são tantas as opções, é muito fácil dispersar hoje. Escuta uma música boa de groove, som, mas onde está o texto? Onde está a preocupação com o mundo político brasileiro? Ninguém mais fala disso? A gente não vai mais falar disso? Não vai mais criticar? Um dos poucos que ainda faz isso é Tom Zé, incansável, não para de criticar.

CONTINENTE Ele é praticamente um cronista.
CHARLES GAVIN Ele é um cronista. O que aconteceu com essa geração que isso não é dito? O rock perdeu espaço completamente na mídia, pra uma outra música. Mas o que é dito dentro do rock, o texto não é forte o suficiente para fazer com que as pessoas parem para ouvir. Não estou dizendo “depois da gente, isso não aconteceu”. Não é isso. Estou falando da música que eu ouço em 2016, em 2017. Siba, por exemplo, é um artista extraordinário, que está sempre questionando as coisas, mas qual a idade de Siba? Não é mais um garoto. E essa moçada que vem chegando com seus discos na internet? Esse papel vai ficar só com o hip hop? 

CONTINENTE E principalmente agora...
CHARLES GAVIN Nunca tivemos tanto material desde a ditadura. É estranho isso. No caso dos Titãs, tivemos músicas censuradas. A gente era ouvido no disco, no palco. Hoje você debate na internet, mas é um ambiente muito rarefeito, tudo é disperso, são discussões que não levam a nada, misturadas com outros assuntos. No Facebook, não coloco comentários sobre política, por conta da postura das pessoas, das brigas. Na nossa época, você não tinha como se colocar, você se colocava no microfone, ou na entrevista, que era uma coisa rara, você dava entrevista quando lançava um disco, então era hora de você se colocar. Hoje você pode ser colocar a qualquer minuto. Ao mesmo tempo em que há uma facilidade de se expressar, você está diluído no meio de milhões. 

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