Exposta ao ar livre, a obra ganha um ar “fantasmagórico”, nas palavras da própria artista. “Gostei muito de vê-la aqui. É quase uma aparição, algo mais misterioso. Um fantasma, até”, evoca Regina, que aproveitou a sua presença não somente para desvelar a sua obra mais recente, mas para perceber nela a incidência de um elemento-chave em sua práxis – as sombras. Por exemplo, na série Dilatáveis (1981-2000), mostrada na 34ª Bienal, ela partia de figuras, como tanques de guerra ou fotografias de políticos reunidos para tensioná-las e, com as sobras, criar outros contornos. Em Paisagem, sob o sol do meio-dia, as sombras tracejam uma nova “paisagem” no chão, estendendo os contornos literais e metafóricos do percurso labiríntico. “Você viu como ficou ali, com a sombra? Muito interessante. Acho que amplia e dá mais força”, comentava, na conversa com a Continente.
Na perspectiva de Marc Pottier, atual curador da Usina de Arte, essa expansão mais recente do acervo – atualmente, são mais de 40 obras, dentre as quais se destacam: Diva, de Juliana Notari; Eremitério tropical, de Márcio Almeida; Átrio, de Marcelo Silveira; Tinha que acontecer (cabeça de bandeirante), de Flávio Cerqueira; e o hangar ocupado por José Rufino – traduz os dois caminhos que vêm sendo percorridos para possibilitar novas adições.
“Por um lado, vejo como importante o diálogo da Usina de Arte com instituições, como a Bienal de São Paulo, ainda mais para trazer uma obra de Regina Silveira, artista com uma importante trajetória e longevidade na produção. Quando se há um convite como o que foi feito a Matheus Rocha Pitta, com total liberdade para que ele venha aqui, conheça o espaço, com essa natureza e suas cores, entenda todo o contexto e possa criar um projeto que esteja em consonância com tudo isso, é extremamente positivo porque gera obras muito interessantes”, observa.
Os próximos meses trarão outra novidade para o projeto iniciado no ano 2015: a Usina de Arte adquiriu um neon do artista chileno Alfredo Jaar e deve montá-lo em junho, quando Jaar virá ao Brasil para inaugurar, em um novo equipamento cultural em Fortaleza, uma exposição derivada de Lamento das imagens, grande mostra que o Sesc Pompeia sediou entre setembro e dezembro de 2021, em São Paulo. Claro-escuro (2016) traz a célebre e cada vez mais atual frase de Antonio Gramsci: “O velho mundo está morrendo. O novo demora a nascer. Nesse claro-escuro, surgem os monstros”. Nada mais apropriado para um parque artístico-botânico forjado dos escombros, literais e metafóricos, de uma usina sucroalcooleira, no interior de um estado até hoje marcado pela herança canavieira, seus espectros e seus vislumbres de reinvenção.
LUCIANA VERAS, repórter especial da Continente.