Curtas

Uma edição para marcar seus 30 anos

'Janeiro de Grandes Espetáculos' movimenta os palcos de todo o estado com mais de 100 sessões de teatro, circo, dança e música

TEXTO Paula Passos

09 de Janeiro de 2024

Espetáculo 'Babilônia Tropical'

Espetáculo 'Babilônia Tropical'

Foto Luiza Palhares/Divulgação

Começa hoje (9/1) a 30ª edição do Janeiro de Grandes Espetáculos, um festival que reúne mais de 100 sessões de teatro, circo, dança e música em Pernambuco, com produções são brasileiras e de outros países. Neste ano, homenagens bem especiais: a cantora Lia de Itamaracá, que completa 80 anos em janeiro; a atriz Fabiana Karla, que apresenta no festival uma homenagem ao cantor Reginaldo Rossi; Benjamin da Silva (o Palhaço Casquinha) e a passista de frevo Zenaide Bezerra, a mais antiga em atividade, que também foi declarada Patrimônio Vivo do Recife em 2022. Todos os homenageados estão na grade da programação do festival, que segue até 31 de janeiro.

Além do Recife, a maratona cênica chega às cidades de Caruaru, Garanhuns, Arcoverde, Goiana, Serra Talhada, Limoeiro e Petrolina. Na capital pernambucana, a peça que abre o evento, às 19h30, no Teatro de Santa Isabel, Bairro do Recife, é a premiada Retratos Imorais, solo do baiano João Guisande, com textos do cearense Ronaldo Correia de Brito – os contos Mãe em fuligem de candeeiro e Mãe numa Ilha deserta. A encenação é construída de forma irônica e bem-humorada, através dos personagens Edmundo e Marivaldo, que compartilham um sentimento comum à condição humana: a solidão. Os ingressos custam R$ 30 e estão à venda no Sympla

Retratos imorais solo do baiano João Guisande, baseado na obra de Ronaldo Correia de Brito. Foto: Diney Araújo/Divulgação

No Recife, a programação do Janeiro de Grandes Espetáculos tem vários palcos, além do Santa Isabel: Teatros Apolo, Hermilo Borba Filho, Capiba, Marco Camarotti, Barreto Júnior, Boa Vista, Teatro da Caixa Cultural e Parque Luiz Mendonça. O Festival conta, ainda, com oficinas, lançamentos de livros e uma novidade: leituras dramatizadas com obras de artistas pernambucanos que serão interpretadas no Centro de Artesanato de Pernambuco, no Marco Zero do Recife.

Na lista de leituras: Passe em casa, de João Luiz Vieira, com direção de Suzana Costa; O amor das sombras (Noite e perdição), de Ronaldo Correia de Brito; Evocação do poeta maior ou Bandeira no banco dos réus, com direção de José Mário Austregésilo e A menina que vendia flores encarnadas, texto de Manoel Constantino e direção de Léo Bouças. No Teatro Arraial, os textos são Senhora dos Afogados, de Nelson Rodrigues; Medi(u)nicas, com texto e direção de Jan de Oliveira, e Zoológico, texto e direção de Albemar Araújo.

Grande parte das atrações foi selecionada através do edital do próprio Festival, lançado no ano passado, avaliada por uma comissão formada por Albemar Araújo, Williams Santanna, Sandra Rino e Kelly Rosa e pelos gerentes de Programação, Paulo de Castro e Paulo de Pontes.“Pretendemos fazer desta edição uma grande comemoração da nossa história, porque não é fácil se manter em cartaz por três décadas com orçamentos tão enxutos. É uma edição para celebrar a consolidação do Festival. A cultura é viva, é um alimento para nossa alma e toda classe artística pernambucana se une para que o Janeiro de Grandes Espetáculos possa acontecer”, afirma Paulo de Pontes, produtor-executivo do evento, em entrevista à Continente.


A atriz Fabiana Karla é uma das homenageadas e está no elenco, junto com Leandro da Mata, da peça Nessa mesa de bar. Foto: Daniel Chiacos/Divulgação

Paulo conta que 60% da programação do Janeiro são de estreias. Explica também que o slogan desta edição, Um banquete de arte e cultura, é uma forma de relembrar as dificuldades que diversos artistas enfrentaram durante a pandemia da Covid-19, inclusive, de falta de alimento. “O público, ao comprar seu ingresso, pode ter descontos, se levar um quilo de alimento não perecível. Ao final do Festival vamos destinar as doações recebidas a algumas ONGs e grupos de artistas que precisam dessa ajuda”, comenta.

TEATRO
Ao todo, serão onze espetáculos nacionais, inéditos no Recife, de várias cidades do Brasil, como São Paulo, Rio de Janeiro, Fortaleza, Brasília e Porto Alegre. Além da peça de abertura, outras montagens nacionais integram a programação como Cúmplices (Salvador/Recife), Babilônia Tropical: A Nostalgia do Açúcar (São Paulo), Histórias de Lua e sol (Guarabira - PB), Formigas bebem absinto no armazém do caos (João Pessoa), Agreste (João Pessoa), Noite de mistério (São Paulo), Isto também passará, Antes que eu morra (Brasília), Novos velhos corpos 50+, de Porto Alegre e Uma noite em ritmo quente (Fortaleza), as duas últimas da categoria Dança.  

Nos dias 11 e 12 de janeiro, às 20h, no Teatro Luiz Mendonça, o público pode assistir à Babilônia tropical: A nostalgia do açúcar, com concepção e direção geral de Marcos Domingo. Os ingressos custam R$ 60 (inteira) e R$ 30 (meia-entrada) e são vendidos pelo Sympla. Após quatro temporadas, Babilônia tropical chega a Pernambuco para abordar o domínio holandês no Nordeste brasileiro no século XVII.

Um grupo de cinco artistas investiga as contradições do projeto de colonização a partir de Anna Paes, dona de engenho da época, que escreveu um bilhete para Maurício de Nassau, presenteando-o com seis caixas de açúcar em sua chegada ao Brasil. O espetáculo tem música ao vivo e projeções de imagens históricas e cenas gravadas que envolvem a investigação feita pelos artistas.


O espetáculo Yerma atemporal vai circular por várias cidades.
Foto: Morgana Narjara/Divulgação

Nesta terça (9), o público de Arcoverde recebe às 19h, no Sesc da cidade, Yerma atemporal, uma tragédia moderna de Federico García Lorca, traduzida e adaptada por Simone Figueiredo. “A tradução do texto exigiu um estudo especial, por ter sido escrito em 1934. Depois adaptamos para os dias atuais e para o Nordeste pernambucano, o que também não foi fácil, porque Yerma é um poema trágico. Essa tradução dos poemas foi a parte mais complexa na adaptação. Na montagem transformamos alguns poemas em músicas, com direção musical de Douglas Duan; já o dramaturgo Newton Moreno escreveu o poema tema de Yerma na nossa montagem”, revela Simone Figueiredo em entrevista à Continente sobre os bastidores da peça. 

Simone conta ainda que quando García Lorca escreveu Yerma, “foi um grito em defesa das mulheres cuja função social era: casar, ter filhos, obedecer ao marido e ser em casa uma representação de Nossa Senhora”. Infelizmente, essas questões ainda continuam atuais e são abordadas no espetáculo através de um olhar contemporâneo. Yerma atemporal se apresenta no dia 12/01, às 19h30, no Teatro Reinaldo de Oliveira, em Garanhuns; 23/01, às 19h30, no Cine Teatro Samuel Campelo em Jaboatão dos Guararapes; e nos dia 26 e 27/01, às 19h30, no Teatro de Santa Isabel, no Recife.  

Quem gosta do Reginaldo Rossi pode marcar presença Nessa mesa de bar (Rio de Janeiro), uma homenagem ao nosso rei, que leva aos palcos a homenageada do JGE Fabiana Karla e Leandro da Mata. De fora do Brasil, peças de cinco países serão apresentadas no Recife: Cartas d’Abril (Portugal), Tranquilli!!! (Itália), Ária (Portugal), Sertão do Mar (França) e Violinista europeu tocando músicas europeias e brasileiras (Eslováquia). De Pernambuco, várias estreias locais como Ânim@ - Do pão ao pão (Anexo Bando de Teatro), E se Anne Frank... (Teatro do Amanhã) e Marginalha (Coletivo Grão Comum). 

OFICINAS E LANÇAMENTOS
As oficinas formativas que chegam ao Festival são: Commedia Dell'arte, com Surya Mariella; Teatros da memória: do documentário à autoficção, com Raíza Rameh; Identidade cômica do corpo, com André Casaca; e Experiências suspensas - Introdução e experimentação da técnica da suspensão capilar, com Alan Sencades e Jéssica Lane. As inscrições estão abertas no site do festival.

 Além de formação, o Festival traz lançamentos de publicações como Mapeamento de mulheres palhaças, cômicas e circenses de Pernambuco, de Enne Marx, e Caleidoscópio, de Moisés Neto. Tem ainda o e-book sobre a história dos 30 anos do Festival, disponível para download no site do evento.


O dia em que a morte sambou está na grade da programação infantil. 
Foto: Paulo de Andrade/Divulgação

DANÇA, CIRCO, MÚSICA E INFANTIS
Entre as doze montagens para as crianças, grandes sucessos estão presentes como Os Saltimbancos, Aladdin - O musical, Alice no País das Maravilhas, Seu Sol Dona Lua, O dia em que a morte sambou e As aventuras de Simba.

Já na Dança, destacam-se o III Festival de Pole Dance de Pernambuco e a montagem Berlim, estreia do bailarino Dielson Pessoa. Em Circo, Cabaré janeiro de palhaças, que reúne dez palhaças em divertidos números, apresentados pela mestre de cerimônia Mary En. Lia de Itamaracá, Karynna Spinelli, Geraldo Maia, além de Maciel Salú e Lucas dos Prazeres, dupla que dividirá o palco em Abaeté - Uma celebração afro-Indígena, incrementam as atrações musicais do Festival. Para mais informações, acesse o site do festival festivaljge.com.br.

 

SERVIÇO

30º Janeiro de Grandes Espetáculos – Festival Internacional de Teatro, Dança, Circo e Música de Pernambuco

De 9 a 31 de janeiro de 2024

Programação e informações no site: www.festivaljge.com.br

Ingressos: www.sympla.com.br/festivaljge 

 

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