Ao contrário do que acontece na última franquia, por exemplo. Percebe-se um certo magnetismo quando assistimos ao herói de Christian Bale através das telas. Não pela beleza, no entanto – afinal, é improvável que Robert Pattinson deixe a desejar nesse sentido –, e sim pelo “charme” de um Batman filantropo, determinado, irônico, sarcástico, trágico – não triste –, mulherengo e que, mesmo com as ajudas externas de Alfred, o mordomo interpretado pelo grande Michael Caine, e Lucius Fox, personagem de Morgan Freeman, idealiza a maioria de seus feitos isoladamente, seguindo na liderança do longa-metragem ao mesmo tempo em que transpassa a importância das demais figuras presentes na história.
Ao colocarmos em cena o ator de O farol, a perspectiva é completamente outra. Deparamo-nos com um homem-morcego sofrido – deprimido, até – que claramente ainda não superou as circunstâncias que lhe foram impostas e sente, intensamente, o falecimento de seus progenitores. Como forma de lidar com essa perda, o herói de Pattinson segue por todos os lugares, ao mesmo tempo que em lugar nenhum, porque é incapaz de estar presente em todos os momentos de necessidade dos cidadãos de Gotham City.
Enquanto enfrenta a sensação de que é insuficiente para aqueles que o idolatram, Bruce Wayne também encara os problemas de um jovem herdeiro cuja decisão foi assumir uma missão improvável e, nos primeiros sinais de adversidade, perde de vista o motivo pelo qual começou tudo aquilo em primeiro lugar. É a partir daí que a trama de The Batman mistura a vivência de um órfão com o seu alter ego de herói e confunde o espectador, que fica sem saber a partir de qual momento começa e quando termina a distinção entre as duas personas, ambas presas em sua própria melancolia.
Entretanto, embora existam determinadas lacunas que precisam ser preenchidas na recente adaptação do super-herói da DC Comics, a atuação do ex-vampiro Robert Pattinson não deixa a desejar em momento algum, ao contrário do que era esperado por muitos. Assim como suas interpretações em O farol, Lembranças e Harry Potter e o cálice de fogo, o britânico alcança, com excelência, o desafio que lhe foi imposto em colocar à vida, mais uma vez, este personagem tão querido, fazendo com que, após o apagar das luzes, seja considerado como o melhor neste feitio até o momento.
Paul Dano traz à vida o vilão Charada. Imagem: Divulgação
Os demais artistas escolhidos para integrar o elenco também não ficam para trás, especialmente Zoë Kravitz e Paul Dano. A nova Mulher-Gato, responsável por assumir o legado deixado por Anne Hathaway, na franquia de Christopher Nolan, carrega o papel com destreza e uma química impecável ao lado do protagonista da produção. Já Dano, o Charada, pode, com facilidade, ser considerado o ponto-chave do longa-metragem, pois traz consigo uma atuação perturbadoramente fascinante.
JULIA FAEIRSTEIN é jornalista em formação pela Unicap e repórter estagiária da Continente.