Curtas

Um herói melancólico

Robert Pattinson vive o desafio de interpretar o novo Batman, que chega agora com uma certa crise existencial e um clima de luto pela morte dos pais

TEXTO Julia Faeirstein

18 de Março de 2022

O ator Robert Pattinson em 'The Batman', de Matt Reeves

O ator Robert Pattinson em 'The Batman', de Matt Reeves

Imagem Divulgação

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Eu sou a vingança”, eis as palavras que marcam e permeiam a trajetória do herói de The Batman, desde o primeiro trailer até o novo longa-metragem da DC Comics, dirigido por Matt Reeves. Lançado recentemente, traz no papel de protagonista o britânico Robert Pattinson e é responsável pela maior bilheteria de 2022 até o momento. A história do filme é aquela já conhecida por muitos: o pequeno Bruce Wayne, filho de uma família de bilionários da cidade fictícia de Gotham City, vira órfão quando presencia o assassinato dos seus pais e promete a si mesmo que irá punir os criminosos – e não apenas os responsáveis por este crime em específico.

A narrativa, que já foi interpretada por múltiplos atores – a exemplo de Adam West, Michael Keaton, George Clooney, Ben Affleck e Christian Bale (sendo este considerado como a maior referência já vista do papel) –, pode ser a mesma, porém, o desafio de colocá-la à vida mais uma vez é enorme. Além do desejo de se superar como o artista que se tornou famoso pelo boom da saga Crepúsculo, Pattinson precisa não só suprir as expectativas daqueles que compõem um dos maiores fandoms de super-heróis do mundo, mas se destacar, de forma inédita, diante da última franquia de grande sucesso do homem-morcego, concebida por Bale e dirigida pelo cineasta Christopher Nolan. Ou ser tão bom quanto.

Ao lado de Zoë Kravitz, a nova Mulher-Gato; Paul Dano, o Charada, vilão principal da trama; John Turturro, no papel de Falcone; e o renomado Jeffrey Wright, responsável por trazer o detetive Jim Gordon às telas novamente, este novo Batman forma o time encarregado de ajudá-lo a executar suas missões. Algumas são, de fato, cumpridas com êxito durante a produção; outras, nem tanto.

The Batman traz consigo uma das aparições mais completas do antagonista Charada dentro do universo da DC, e também um vínculo mais intenso entre Bruce Wayne e Selina Kyle, a Mulher-Gato. O enredo da obra gira em torno dos assassinatos de personalidades importantes de Gotham City e da pressão posta sobre o herói para resolvê-los. Para isso, é essencial a ajuda dos demais personagens, como Gordon e Kyle. Sem seu auxílio, é cabível afirmar que o famigerado Batman não teria obtido sucesso, fazendo com que, na trama, não exista apenas um super-herói, mas vários. É possível, arrisco dizer, que, em sua própria narrativa, o Homem-morcego não faça de forma célebre o papel de protagonista.


Zoë Kravitz vive a Mulher-Gato no novo filme do herói Batman. Imagem: Divulgação

Ao contrário do que acontece na última franquia, por exemplo. Percebe-se um certo magnetismo quando assistimos ao herói de Christian Bale através das telas. Não pela beleza, no entanto – afinal, é improvável que Robert Pattinson deixe a desejar nesse sentido –, e sim pelo “charme” de um Batman filantropo, determinado, irônico, sarcástico, trágico – não triste –, mulherengo e que, mesmo com as ajudas externas de Alfred, o mordomo interpretado pelo grande Michael Caine, e Lucius Fox, personagem de Morgan Freeman, idealiza a maioria de seus feitos isoladamente, seguindo na liderança do longa-metragem ao mesmo tempo em que transpassa a importância das demais figuras presentes na história.

Ao colocarmos em cena o ator de O farol, a perspectiva é completamente outra. Deparamo-nos com um homem-morcego sofrido – deprimido, até – que claramente ainda não superou as circunstâncias que lhe foram impostas e sente, intensamente, o falecimento de seus progenitores. Como forma de lidar com essa perda, o herói de Pattinson segue por todos os lugares, ao mesmo tempo que em lugar nenhum, porque é incapaz de estar presente em todos os momentos de necessidade dos cidadãos de Gotham City.

Enquanto enfrenta a sensação de que é insuficiente para aqueles que o idolatram, Bruce Wayne também encara os problemas de um jovem herdeiro cuja decisão foi assumir uma missão improvável e, nos primeiros sinais de adversidade, perde de vista o motivo pelo qual começou tudo aquilo em primeiro lugar. É a partir daí que a trama de The Batman mistura a vivência de um órfão com o seu alter ego de herói e confunde o espectador, que fica sem saber a partir de qual momento começa e quando termina a distinção entre as duas personas, ambas presas em sua própria melancolia.

Entretanto, embora existam determinadas lacunas que precisam ser preenchidas na recente adaptação do super-herói da DC Comics, a atuação do ex-vampiro Robert Pattinson não deixa a desejar em momento algum, ao contrário do que era esperado por muitos. Assim como suas interpretações em O farol, Lembranças e Harry Potter e o cálice de fogo, o britânico alcança, com excelência, o desafio que lhe foi imposto em colocar à vida, mais uma vez, este personagem tão querido, fazendo com que, após o apagar das luzes, seja considerado como o melhor neste feitio até o momento.


Paul Dano traz à vida o vilão Charada. Imagem: Divulgação

Os demais artistas escolhidos para integrar o elenco também não ficam para trás, especialmente Zoë Kravitz e Paul Dano. A nova Mulher-Gato, responsável por assumir o legado deixado por Anne Hathaway, na franquia de Christopher Nolan, carrega o papel com destreza e uma química impecável ao lado do protagonista da produção. Já Dano, o Charada, pode, com facilidade, ser considerado o ponto-chave do longa-metragem, pois traz consigo uma atuação perturbadoramente fascinante.

JULIA FAEIRSTEIN é jornalista em formação pela Unicap e repórter estagiária da Continente.

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